Motivos e antecedentes na relação universidade-empresa

23.08.2018

Prof. Dr. Mauricio Henrique Benedetti


A aproximação das universidades com as empresas pode ser vista como mais uma oportunidade de levar os conhecimentos gerados no meio acadêmico para a sociedade. Transformando esses conhecimentos em tecnologias incorporadas em bens e serviços a serem introduzidos no mercado pelas empresas, os benefícios gerados pelos resultados das pesquisas acadêmicas também serão acessados pela sociedade que consumir esses bens e serviços. Neste segundo artigo que aborda a relação universidade-empresa, falaremos um pouco sobre as motivações e antecedentes normalmente encontrados nesta relação.

Quando empresas se aproximam de universidades, oportunidades tecnológicas podem ser antecipadas. Em alguns casos, a aproximação das empresas com as universidades é motivada pela localização geográfica, o que é justificado pelos custos de deslocamentos de pesquisadores para acompanhamento dos trabalhos, ou envio de insumos para os experimentos em laboratórios. Contudo, a localização da universidade parceira perde a relevância quando se trata de uma competência muito específica em que determinada universidade é referência. Ainda assim, as empresas iniciam sua busca por uma universidade ou centro de pesquisa que possuam as competências complementares das quais necessitam próximo a uma de suas unidades, com o apoio da rede de relacionamento dos pesquisadores que se fortalece à medida que a relação se prolonga.

Os pesquisadores da academia têm se mostrado mais interessados em se aproximarem das empresas para aplicação de suas invenções, transformando-as em inovações, em vez de focarem apenas na publicação de suas pesquisas sem a geração de retornos financeiros. Já para as empresas, o aumento de contratos firmados com as universidades se deve em grande parte ao aumento da necessidade de incluir fontes externas em suas atividades de P&D, assim como maior confiança depositada nessas fontes.

Todavia, não é comum vermos as invenções geradas na universidade serem licenciadas em seus estágios iniciais de desenvolvimento, o que é justificado pela busca de resultados mais imediatos das empresas. Ainda assim, nota-se que também tem aumentado o interesse de pesquisadores continuarem a participar do processo de aprimoramento dos resultados, mesmo após a tecnologia ter sido licenciada. Este é um ponto de grande relevância para a continuidade de parcerias entre universidades e empresas, pois os laços se fortalecem e novas oportunidades podem surgir.

A motivação das empresas procurarem as universidades tem aumentado à medida que aumentam os incentivos e políticas formuladas pelo governo para esse fim. Em consequência, ocorre uma reformulação estrutural das atividades de P&D. Assim, a amplitude das ligações que ocorrem entre empresas e universidades é ampliada e torna mais efetivo o processo de utilização do conhecimento gerado na academia no mercado. No Brasil, especificamente quando se trata de empresas da área de tecnologia da informação e comunicação, vemos que a aproximação com as universidades ocorre para usufruir os benefícios proporcionados pela Lei de Informática (Lei 8.248/91). Essas empresas fortalecem sua capacitação tecnológica graças às parcerias que fazem e se consolidam ao longo do tempo com universidades ou institutos de pesquisa.

Raramente o estabelecimento de uma relação universidade-empresa é resultado de uma busca em que a empresa detém completa informação e possui um amplo escopo de opções. Como dito no primeiro artigo desta série, geralmente essas relações são firmadas a partir de uma rede social que se estabelece entre pesquisadores ou de parcerias passadas que tenham existido. Assim, há uma fase anterior ao estabelecimento da relação de colaboração entre

universidade e empresa, em que os membros da organização buscam envolver-se com a comunidade científica e estreitar o relacionamento com pesquisadores de universidades e centros de pesquisas.

Outros motivos que levam as empresas, a se aproximarem das universidades são o acesso ao desenvolvimento tecnológico, suporte administrativo em seus projetos de inovação, formação, treinamento e reciclagem de seu pessoal. As universidades, por sua vez, procuram as empresas para terem uma atualização continuada de seu corpo docente, a experimentação e colocação em prática dos conhecimentos gerados e a possibilidade de colocação mais direta de seus alunos no setor produtivo.

Em síntese, podemos dizer que a busca por universidades para obtenção de novas tecnologias também é motivada por necessidades específicas das empresas. Como as necessidades específicas levam à procura por competências específicas, também as universidades são pré-selecionadas pelas empresas a partir desse critério, isto é, devem possuir as competências complementares às competências internas da empresa que juntas atendam às suas necessidades. Para identificação das potenciais universidades parceiras, as empresas frequentemente obtêm informações junto a pesquisadores com os quais já estão acostumadas a se relacionarem, os quais podem indicar as melhores opções a partir de suas redes de relacionamentos.

Nota-se que a motivação de ambas as partes tende a aumentar à medida que casos de sucesso ocorrem e há a percepção de que os entraves burocráticos diminuem. Por isso, arrisco a dizer que teremos cada vez mais empresas e universidades trabalhando conjuntamente em direção à inovação como meio efetivo para o aumento da competitividade das empresas e fortalecimento da aplicação do conhecimento científico. Portanto, os casos de sucesso precisam ser divulgados e as experiências devem ser compartilhadas para que a relação universidade-empresa seja aprimorada e sejam motivos para que outros utilizem esse caminho como parte da estratégia para a inovação.

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