O PIB do segundo trimestre deve confirmar a desaceleração da economia brasileira. Após o avanço de 1,4% no começo do ano, as projeções de diversos analistas indicam alta de apenas 0,2% a 0,3% entre abril e junho. O impulso da supersafra agrícola de 2025 perdeu força, a indústria voltou a patinar e os serviços crescem em ritmo menor. Os números parecem indicar que o fôlego de 2025 ficará concentrado apenas no primeiro semestre.
Parte dessa perda de dinamismo decorre do ambiente externo. A inadequada escalada tarifária do governo Trump e as atrapalhadas sinalizações de reciprocidade do governo Lula elevam a incerteza no comércio internacional, gerando cautela nos empresários e investidores. O efeito, porém, ainda é mais psicológico do que concreto, pois as exportações brasileiras ainda devem crescer levemente no trimestre (+0,7%), enquanto a queda das importações (-1,8%) reflete muito mais a fraqueza da demanda doméstica do que barreiras externas. Ou seja, o reflexo da política tarifária americana existe, mas é marginal. O verdadeiro freio vem de dentro de casa, aliás, como quase sempre no caso do Brasil.
O país convive hoje com juros reais próximos de 10% ao ano, um patamar estrangula crédito, desestimula investimento e limita o consumo de bens duráveis. No entanto, é importante dizer que não se trata de uma escolha arbitrária do Banco Central, mas de uma consequência da fragilidade fiscal. Diante de déficits persistentes e gastos obrigatórios em expansão, o Copom não encontra espaço seguro para reduzir a Selic de forma consistente e responsável.
A despeito de conhecer a situação real, o governo insiste em expandir despesas correntes e programas de transferência, como se isso fosse suficiente para sustentar o crescimento econômico. A política de subsídios alivia a demanda de curto prazo, mas não resolve a falta de produtividade nem incentiva o setor privado a investir. O resultado dessa irresponsabilidade reflete no investimento em ativos fixos da economia, que deve registrar queda após seis trimestres de alta. Para quem consegue navegar minimamente os conceitos básicos de economia recado é claro: sem estabilidade fiscal, o investimento trava.
A narrativa de que a desaceleração é reflexo principalmente do cenário internacional não se sustenta e acaba servindo apenas de espantalho para o governo brasileiro. O tarifaço global tem peso, mas a maior responsabilidade é interna. É o Estado brasileiro, gastador e ineficiente, que impede a queda sustentável dos juros e condena a economia ao baixo crescimento.
Se nada mudar, o ciclo sem fim da mediocridade econômica se repetirá em 2026, com expansão fraca, setor privado desestimulado e um governo que prefere ampliar transferências de renda a enfrentar as reformas necessárias para o crescimento sustentável. Nesse sentido, a desaceleração do PIB é mais do que apenas um número; é um sintoma de um Estado que insiste em sufocar quem produz para sustentar gastos públicos excessivos e ineficientes.
Allan Gallo é professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.
