Na última quarta-feira, dia 23 de abril, os professores do curso de Biologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), José Luiz Caldas Wolff, Waldir Stefano, Ana Paula Pimentel e Leandro Vieira, organizaram a roda de conversa sobre o tema “O Resgate do Lobo-Terrível”.
O lobo-terrível, ou lobo pré-histórico, percorreu por diversos países das Américas, como Canadá, Estados Unidos, Venezuela, Chile e Argentina, mas desde sua extinção, há mais de 10 mil anos, nenhum lobo-terrível foi avistado por humanos. Até que em outubro de 2024, nasceram quatro filhotes do lobo pré-histórico, gerados por uma fêmea do lobo-cinzento.
A “desextinção” da espécie ocorreu na empresa de biotecnologia norte americana, Colossal Biosciences, por meio da decifração do código genético encontrado em esqueletos descobertos nas Américas. “Essa foi uma técnica fundamental para o desenvolvimento desse projeto, com a capacidade de extrair DNA antigo e sequenciá-lo. Nesse caso foi coletado, principalmente, material de dentes”, explicou o professor José Luiz Caldas Wolff.
Apesar da coleta do DNA ter tido sucesso, para que a desextinção do lobo-terrível fosse concluída, foi necessário coletar material genético de outra espécie, como o lobo-cinzento. Embora ambas tenham nomes parecidos, filo, classe, ordem e família idênticos, o gênero se difere, indicando espécies distintas.
“O DNA utilizado foi derivado de dois organismos diferentes, mas ainda assim mostrou resultados bastante semelhantes, de 99,5%”, afirmou o professor José Luiz sobre o lobo-terrível e o lobo-cinzento.
Assim, utilizando técnicas de alta precisão, foram inseridos os genomas do lobo-terrível nos genomas do lobo-cinzento, escolhendo os mais importantes para que as características morfológicas da espécie fossem preservadas, como a cor da pelagem, o tamanho e a estrutura do crânio. E o resultado disso é um animal híbrido, com característica das duas espécies.
A empresa Colossal Biosciences justificou a ação como uma forma de preservação ambiental e uma alternativa para reparar os impactos das mudanças climáticas. Os próximos passos são trazer outros animais para o ecossistema, como o mamute-lanoso. “No caso do mamute, o animal conseguiria recuperar todo um bioma, o permafrost, e eles têm essa ideia de recuperar o animal, justamente para recuperar o ecossistema”, explicou o professor Leandro Vieira.
Uma outra justificativa para o estudo genético feito no projeto seria a comparação histórica sobre a espécie, ou seja, com o ressurgimento do lobo-terrível seria possível observar como ele vivia antes da extinção. “Quando compara o DNA antigo com os das outras espécies, recebemos uma série de informações que vão além da composição gênica, como processos evolutivos, como era o habitat e uma série de outras informações”, relatou a professora Ana Paula Pimentel.
Em contrapartida aos possíveis benefícios da volta do lobo pré-histórico, o professor Waldir Stefano levantou um questionamento para os participantes e palestrantes sobre a ética de recriar animais que viveram em ambientes extremamente diferentes dos que existem hoje no planeta.
"Precisamos pensar até que ponto se sustenta trazer esse animal híbrido para um ambiente que, na verdade, não é dele, nunca foi e nem vai ser. É justo para esses animais viverem dessa maneira, separados e isolados?”, questionou o professor.