Em 2024, segundo o Monitor de Fogo do MapBiomas, mais de 30,8 milhões de hectares foram afetados com as queimadas no Brasil, o que representa um aumento de 79% em relação a 2023, equivalente uma área maior que a Itália. A Amazônia e o Cerrado foram os territórios mais devastados pelo fogo.
Mas existem três tipos de queimadas e é necessário saber separá-las. Existem queimadas controladas, que são permitidas pela lei e utilizadas como técnica para limpar as áreas de plantio. Já as queimadas naturais são processos do ciclo ecológico de alguns biomas, como do Cerrado, e ajudam na renovação do solo e no controle de pragas.
Mas o que gera resultados ruins, como as queimadas de 2020 e 2024 no Pantanal, são os incêndios criminosos, causados propositalmente ou acidentalmente por seres humanos. “É fácil entender que os impactos ambientais são menores nas queimadas que são planejadas e controladas, e maiores nas outras que não existe planejamento e nem controle”, explica a professora do curso de Biologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Paola Lupianhes.
A antiga aluna de Jornalismo da UPM, Verônica Choucair, produziu um vídeo documentário para o seu Trabalho de Conclusão de Curso, chamado “Memórias não se apagam”, que conta sobre os incêndios no Pantanal em 2020, e explica que o mais chocante foi descobrir que 90% das queimadas nos últimos anos ocorreram em áreas privadas, ou seja, muito provavelmente foram propositais.
“O Pantanal sempre queimou, sempre queimará. Mas o ponto que meu trabalho traz a reflexão é que as queimadas, na proporção de 2020, 2024, com milhões de animais mortos, mais de 30% do Pantanal impactado pelo fogo, isso não é o natural, não é normal”, explica Verônica.
Os incêndios podem causar redução da fertilidade do solo, interferindo na disponibilidade de nutrientes, importantes para o equilíbrio dos ecossistemas, que as plantas necessitam já que queimam a matéria orgânica na camada superficial, alterando o pH e prejudicando a microbiota do solo, causando uma quebra no ciclo biológico que não se restaura facilmente.
Além do solo, muitas espécies de animais morrem durante a expansão do fogo e os que sobrevivem perdem seus locais de abrigo, alimentação e podem ter suas populações reduzidas, comprometendo a reprodução futura e a variabilidade genética desses animais, podendo culminar na extinção local da espécie. “As consequências da perda de uma espécie pode reverberar ao longo da teia trófica causando mais desdobramentos negativos para a biodiversidade e para o equilíbrio do ecossistema”, afirma a professora Paola.
Além disso, as queimadas florestais liberam muito dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que aquece a atmosfera e que tem contribuído para as mudanças climáticas. Com isso, fenômenos extremos como secas prolongadas têm sido cada vez mais frequentes, aumentando as chances de incêndios, naturais ou provocados por seres humanos, além de dificultar o controle do fogo.
Durante a produção do vídeo documentário, Verônica escutou relatos de moradores que contaram como as queimadas atingiram diretamente as suas vidas. Muitos moradores do Pantanal tiveram seus terrenos invadidos pelo fogo, perderam gados, plantações e outros bens. “A percepção dos pantaneiros era de destruição. Eu também tive a impressão de que o Pantanal estaria destruído, porque pensei "se a fumaça está vindo pra minha casa, imagina como está lá no Pantanal?”, conta a antiga aluna.
Apesar de muitos dos danos não serem reversíveis, existem alguns processos demorados, caros e que dependem de muitas etapas e estratégias para serem realizados, mas ainda podem ser uma alternativa para a restauração dos ambientes que foram degradados. Como a regeneração natural assistida, caso haja áreas saudáveis nas proximidades, ou o reflorestamento, caso essas áreas não existam.
“Mesmo assim não teremos exatamente o mesmo ambiente de antes, então devemos focar na prevenção aos incêndios com ações de educação ambiental, fiscalização e realização de aceiros - áreas com a vegetação completamente removida para criar uma barreira contra a propagação do fogo em terrenos suscetíveis a incêndios florestais”, finaliza a professora Paola.