O Elevado Presidente João Goulart, popularmente conhecido como Minhocão, foi construído na década de 1970 como resposta à demanda crescente por vias expressas para automóveis. O elevado corta parte da cidade, conectando as zonas leste e oeste, mas há anos é alvo de críticas por seu impacto negativo na qualidade de vida dos moradores da região central.
Os debates sobre o Minhocão giram sempre em torno de duas alternativas, manter a estrutura e transformá-la em um parque suspenso permanente ou seguir o caminho de outras grandes metrópoles e demolir o viaduto, devolvendo o espaço ao “chão urbano” e à convivência entre as pessoas.
Para o professor Vinicius Prates, pesquisador e docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), o Minhocão é um exemplo emblemático dos "desastres urbanos" provocados pela lógica rodoviarista das décadas de 1960 e 1970. "Ele foi pensado como se não houvesse gente ali, como se aquele espaço urbano fosse um não lugar, como diria o teórico francês Marc Augé", afirmou.
Mesmo com propostas para transformar o elevado em um parque suspenso, Prates considera que o ideal seria sua demolição completa. "A parte de baixo do Minhocão é um desastre urbanístico insolúvel. A demolição seria uma solução mais coerente com as reavaliações que outras cidades fizeram de suas estruturas viárias".
O urbanista Carlos Leite, professor da FAU na UPM, avalia que ambas as propostas de transformação do Minhocão poderiam ser positivas para a região e seus moradores, desde que efetivamente realizadas com adequados projetos. Como exemplo, ele cita o fechamento da via nos fins de semana e à noite. “A experiência mostrou que o espaço pode ser usado para lazer, esportes e convivência. Moradores relatam melhoria na qualidade de vida com a redução de ruído e poluição”, afirmou.
Segundo ele, essa transformação dialoga com uma tendência global de superar o modelo de cidade centrado no automóvel, substituindo-o por espaços públicos mais humanos e sustentáveis. "Adiar a transformação do Minhocão é pactuar com os erros do passado e com os prejuízos à saúde urbana e ambiental", alertou.
Para Carlos, tanto a demolição quanto a conversão em parque são caminhos válidos, desde que acompanhados de um projeto urbano bem estruturado e com participação popular. "Um concurso público de ideias, organizado pela Prefeitura em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), seria um caminho democrático e técnico para definir o melhor projeto”, refletiu o professor.
A participação popular é essencial para que o centro de São Paulo se torne um espaço melhor para quem vive nele. A transformação do Minhocão, seja pela criação de um parque ou pela demolição, precisa considerar a cidade como um espaço coletivo, que priorize a vida em comum e a saúde urbana, e não apenas o fluxo de veículos. "Na época da construção, a população local não foi ouvida. E talvez por isso a obra tenha sido feita da forma catastrófica como foi", finalizou Prates.








