Questões econômicas: Inflação

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Especialistas explicam o impacto do temido conceito no cotidiano

19.08.2021 Economia


"O fantasma da Inflação está solto". Quantas vezes você já leu alguma expressão parecida? Em nossa nova edição do Questões Econômicas, vamos falar sobre a Inflação, assunto recorrente até mesmo em rodas de conversa informal. Porém, é necessário entender o que é, como funciona, seus efeitos e como lidar com essa taxa que ronda o bolso e o imaginário dos brasileiros.

A Taxa de Inflação é a variação percentual do valor de uma cesta de produtos e serviços de um período para outro. Há vários índices de preço, com diferentes metodologias e objetivos. O mais famoso é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A meta de inflação do Banco Central é em relação a este índice, por exemplo. 

Quando ouvimos que a inflação do mês foi de 0,5%, isso indica o aumento sofrido no valor total da cesta entre esses dois períodos. Isso é uma média, não quer dizer que todos os preços subiram nesse ritmo, muito provavelmente há produtos que podem ter subido mais de 1% e outros que tiveram variação negativa e outros ficaram estáveis.

No passado, o Brasil sofreu com altos índices de inflação. O ápice foi entre meados dos anos 80 e 90, quando as taxas da inflação chegaram a patamares de 80%, com o fenômeno que ficou conhecido como Hiperinflação. Na época, diversas medidas impopulares foram tomadas e nenhuma surtiu efeito, até a aprovação do Plano Real, em 1994, que mudou a moeda corrente e, após um tempo, conseguiu controlar a taxa. 

Para 2021, a meta de inflação é de 3,75%. No entanto, de acordo com o Relatório da Inflação, divulgado pelo Banco Central, a expectativa é que o IPCA feche o ano em 5,82%. Uma prévia da inflação de julho, divulgada pelo IBGE, diz que a inflação no mês teve alta de 0,72% e, até o momento, o IPCA está em 4,88% no ano.

Para entender o significado desses dados e o impacto disto em nossas vidas, conversamos com o professor de Administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Josilmar Cordenonssi, que nos passou algumas informações preciosas sobre este conceito econômico. Acompanhe a seguir: 

De que forma a Inflação impacta nosso cotidiano?

A inflação faz com que o nosso dinheiro perca valor de compra, pois, se a cada instante os preços dos produtos e serviços sobem e a nossa renda não, ficamos mais pobres, pois a nossa capacidade de compra foi diminuída. O seu poder de compra só vai ser reposto se a sua renda for reajustada ou se os preços caírem, nesse caso, se houver deflação, que é muito raro de acontecer.

Quais fatores influenciam na inflação?

Até a crise financeira de 2008, muitos economistas acreditavam que a inflação era um fenômeno monetário, isto é, se aumentasse a quantidade de moeda acima da demanda de moeda (que praticamente é determinada pelo crescimento econômico), os preços dos produtos iriam subir, ou seja, haveria inflação.

O aumento da oferta de moeda faz o seu preço cair e o preço da moeda é a taxa de juros (medida aqui no Brasil pela Taxa Selic). Desde a década de 1980, os bancos centrais passaram a perseguir uma meta de inflação usando como instrumento de controle não mais a quantidade de moeda ofertada, mas sim a taxa básica de juros. Assim, o Banco Central (BC) analisa se a taxa de juros atual é suficiente para levar a inflação para a meta, caso avalie que a inflação provavelmente vai ficar acima da meta, ele vai elevar a taxa Selic, caso julgue que esteja na trajetória de atingir a meta, ele não muda. Caso a avaliação seja de que a inflação ficará abaixo da meta, o BC tenderá a reduzi-la.

Qual é a atual situação da Inflação no Brasil? O que isso significa?

A partir de 2015, o IPCA, que estava em patamares considerados altos por conta da recessão que vigorou até 2016, passou a registrar sucessivas quedas, principalmente após a aprovação da PEC do Teto de Gastos, em que o orçamento do governo só poderá ser corrigido de acordo com a inflação do ano anterior, sem poder sofrer qualquer aumento. Em 2017, a inflação chegou a  2,95%. Todavia, a partir de 2018, voltou a crescer, e este ano deve fechar em 5,82%.

A pandemia de covid-19, a partir de 2020, trouxe muitos desafios na condução da política monetária. Com a forte queda da atividade econômica causada pela pandemia, o Banco Central foi derrubando fortemente a Selic a cada reunião, chegando a 2% em agosto de 2020. A ideia inicial era incentivar o aumento da demanda e de que essa taxa (de 2%) seria mantida até o final de 2021. Entretanto, a forte alta do dólar (que chegou a bater em R$ 6,00) e o aumento do preço internacional de alimentos e outras commodities começaram a fazer com que os preços domésticos subissem.

O que podemos esperar da situação econômica brasileira se a taxa se mantiver dessa forma?

Como a Selic estava no patamar mais baixo da história e a inflação projetada para 2021 está acima do teto da meta de inflação, o BC está mirando na inflação. Entretanto, estima-se que o aumento da Selic em uma determinada data demora de 6 a 9 meses para impactar a inflação. Desta forma, a inflação deste ano deverá ficar acima da meta, que é de 3,75%, e, provavelmente, acima do teto, que é de 5,25%. Assim, o Banco Central não pode fazer nada a respeito disso agora. No entanto, para o ano seguinte (2022), são grandes as chances de o BC conseguir entregar uma inflação próxima à meta.