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Planejamento estratégico no futebol: CEO do Santos palestra no Mackenzie

Dirigente do Alvinegro da Baixada destaca importância de aplicar princípios administrativos no esporte 

16.05.202517h04 Jonathas Cotrim

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Planejamento estratégico no futebol: CEO do Santos palestra no Mackenzie

No mundo do esporte, pode-se aplicar conceitos administrativos para garantir uma boa gestão de um clube de futebol. Nesta sexta-feira, 16 de maio, durante uma palestra da Mackenzie Business Week, promovido pelo Centro de Ciências Sociais (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), o CEO do Santos Futebol Clube, Pedro Martins, defendeu uma maior utilização de métodos do planejamento estratégico no futebol.  
  
O dirigente santista tem passagem por grandes clubes brasileiros, como Cruzeiro, Vasco e Botafogo. Na última temporada, Martins foi campeão da Libertadores e do Campeonato Brasileiro com o time da Estrela Solitária.  
  
Para o CEO, no futebol moderno, é muito importante que os clubes tenham um planejamento estratégico, como forma de garantir uma busca pelos melhores resultados. “A indústria do futebol é como qualquer outra indústria. Alguns conceitos da administração podem fazer sentido nessa indústria futebolística. Tem características e estratégias específicas, mas ainda assim, uma indústria”, disse Martins. 
  
Apesar da administração fornecer bons caminhos para uma gestão saudável, no contexto do futebol e do futebol brasileiro, a aplicação de soluções modernas de gestão nem sempre percorrem um caminho fácil. “Torcedor quer ganhar, ser campeão. E a gente trabalha para ganhar sempre”. Ele explica que, a partir da paixão da torcida, a tendência de muitos gestores é escolher a solução mais rápida e mais fácil. Porém, muitas vezes a realidade do clube requer estratégias mais aprofundadas que não passam pela conquista de títulos.   
  
Como exemplo, Martins mencionou a questão da política interna dos clubes. Em grandes times, não é incomum que o ambiente político interno esteja conflagrado, com grupos políticos em disputas acirradas e que podem prejudicar os resultados esportivos. O CEO destacou que para estabelecer um plano de gestão, é necessário haver paz interna no clube, com todos os membros da diretoria atuando na mesma sintonia. "Para estabelecer um modelo de gestão esportiva, precisa ter um alinhamento com a parte política do clube". 
  
Pedro Martins defendeu que a maior responsabilidade de um administrador no futebol está em criar valor para o clube em que trabalha. A estratégia, então, deveria ser pensada para apontar soluções únicas, de acordo com a realidade do time e as condições de estrutura, elenco e comissão técnica. “Precisa criar uma estratégia esportiva competitiva para ser de fato competitivo. É necessário ter um planejamento administrativo para não agir apenas de forma reativa, de acordo com o que acontece em outros clubes”, apontou.  
  
O CEO ainda defendeu que existem muitas formas de avaliar o trabalho de um dirigente responsável pela gestão de um clube. “A conquista (de título) no Futebol é supervalorizada. Já fiz bons trabalhos e nem sempre era campeão”, afirmou. 
  
Em sua palestra, o CEO do Santos fez duras críticas ao modelo de Sociedade Anônima de Futebol, as chamadas SAF’s, que muitos torcedores têm enxergado com a âncora de salvação de um time. Para o dirigente, o modelo pode não trazer nenhum tipo de benefício, pois o clube passa a depender dos caprichos e vontades de um proprietário. “Vocês acham que dono vai investir o dinheiro dele pensando passionalmente?”, questionou.  
  
Martins ainda afirmou que o modelo de SAF, da forma como é estruturado no Brasil, necessita de uma regulação, pois da forma como está na atualidade, os clubes ficam exatamente à mercê de quem possui a propriedade da SAF, sem um mínimo de organização financeira. “O mercado brasileiro não é regulado. Então chegam donos, fundos e diretores tentando resolver a vida do time e despejam dinheiro. Mas não é só gastar dinheiro que vai gerar resultado. Se não tiver boa gestão, não vai ganhar nada”, disse.  
  
O modelo pode ainda prejudicar todo um grupo de times que enfrentam grave crise financeira, uma vez que muitos querem apenas replicar estratégias que foram implementadas em outros clubes, todos com realidades muito distintas. “Se a gente continuar fazendo a mesma coisa, vai ganhar quem faturar mais”, ressaltou Martins.  
  
Ao final da palestra, Martins comentou sobre a atual situação do Santos. Após voltar da série B, o time está em um momento delicado no Campeonato Brasileiro: a amarga vice-lanterna da competição, com apenas uma vitória em nove rodadas. “O momento do Santos não é bom, estamos trabalhando para tirar o time da situação. Mas me preocupa com as decisões que vamos tomar e que vai impactar o time nos próximos dez anos”, finalizou.