Arquitetura e assistência técnica para cidades mais sustentáveis

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palestrantes sentados à mesa no palco e homem de pé ao púlpito
Fórum ATHIS de extensão universitária debate moradia nas grandes metrópoles

17.05.2019 Atualidades


“Queremos deixar como legado a importância do arquiteto para todos, não só para a elite. A arquitetura é indispensável, traz saúde, sustentabilidade. Devemos não só ficar nos grandes centros, mas ocupar o território nacional como um todo e sensibilizar a população da necessidade da arquitetura. A assistência técnica é o grande exemplo, ela é a possibilidade de popularização do nosso ofício e de aumentar a qualidade da cidade”.

A frase de abertura é de Nadia Somekh, professora emérita da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), conselheira do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR). Junto a outras autoridades, Nadia foi uma das componentes da mesa de abertura do Fórum de Assistência Técnica (ATHIS) e Extensão Universitária em Habitação de Interesse Social: Atuação Integrada no Espaço Urbano que ocorreu no Mackenzie em 16 de maio, no campus Higienópolis.

O Fórum é um projeto selecionado no edital de chamamento público n° 002/2018 do CAU/SP e tem como proponente o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos (CGGDH) com a parceria do Entre:FAUs (coletivo de estudantes das Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da Região Metropolitana de São Paulo).

Angélica Benatti Alvim, diretora da FAU da UPM, destaca que a importância do evento vai além de um simples debate. “Falamos aqui da extensão universitária que por si só é uma relação com a sociedade, e a arquitetura e urbanismo tem um caráter de pesquisa aplicada, ou seja, deve ser sempre direcionada aos interesses da sociedade”.

Para Angélica, a assistência técnica é uma das atribuições do profissional da arquitetura e urbanismo, com uma legislação que regulamenta este serviço. “É fundamental que a academia discuta e atue nessa extensão para capacitar alunos a desempenhar esse papel. Devemos promover o desenho do espaço mais qualificado, a integração com a população e a sua percepção da importância desse instrumento que não é de elite, mas é um instrumento de melhoria de qualidade de vida fundamental”, complementa.

Francisco de Assis Comarú, coordenador geral do CGGDH, concorda com a visão da diretora e afirma que o direito à moradia e à cidade são direitos humanos. “É fundamental esse trabalho conjunto de arquitetos, engenheiros, sociólogos, advogados e etc. para democratizar o acesso a esses direitos e serviços. Temos que parar de pensar em projeto apenas para a elite e focar no todo. Lembrando a citação de um grande pensador, a pergunta que deixamos é, se a elite fugiu para o futuro, para onde foi a sociedade de baixa renda?”, enfatiza o coordenador que também esteve na mesa.

Congregando discussões acadêmicas e sociais o evento debateu como fazer a sociedade aprender com a academia e a academia aprender com a sociedade. “Esse é o nosso grande objetivo”, diz Débora Sanches, organizadora do evento e professora da FAU UPM. “Como no Brasil cerca de 85% das construções não têm projetos, temos muita precariedade urbana e habitacional e precisamos formar alunos com essa sensibilidade para atuar nesses territórios. Formar profissionais que pensem não apenas em projetos isolados, mas no ambiente como um todo”.

Evento preparatório

Pérola Felipette Brocaneli, professora da FAU Mackenzie, relembra que o Fórum é também um evento preparatório ao 27º Congresso Mundial da União Internacional dos Arquitetos (UIA2020RIO), que ocorre em 2020, de 19 a 26 de julho, na cidade do Rio de Janeiro. Pérola assinala que o ATHIS e UIA2020 têm esse objetivo de construir uma sociedade saudável e democrática. “Democracia é ter ar puro, vegetação, água limpa, habitação, cinema e teatro em todos os locais e acessíveis a todas as pessoas. Toda vida deve ser respeitada e conectada a essa rede, pois não somos nada sozinhos”.

Para ela, o maior desafio é estabelecer conexões mais fortes com a sociedade, de modo que encontre amparo, confiança e auxílio em todas as questões técnicas para que possam ter uma habitação mais saudável e com qualidade de vida. Visão compartilhada por André Luís Queiroz Blanco, conselheiro estadual do CAU/SP, que esteve no evento. Ele pontua a necessidade de pensar a cidade de uma maneira integral, “e o evento ajuda a estabelecer essas redes e propor soluções de acordo com as necessidades regionais, locais para trocar experiências”.

Blanco propõe a visão de uma gestão integrada, na qual o arquiteto é um ator importante nesse processo. “Precisamos nos posicionar na questão política, nas prefeituras, nos conselhos, para que o conhecimento possa ser aplicado. O conhecimento produzido dentro das universidades, dos escritórios e prefeituras não são sistematizados, não ficam disponíveis, então temos de sistematizar, organizar e disponibilizar esse conhecimento produzido para estabelecer trocas e promover as boas práticas”, completa ele.

A ideia do Fórum (com duração de quatro dias e debates locais em diversas cidades do estado paulista) é que todos os atores possam contribuir com uma cidade mais humanizada e democrática, incluindo o principal agente que, em geral, fica fora do debate, “que é a sociedade civil, os movimentos de moradia, os movimentos sociais, etc. Então temos de sensibilizar o poder público, a academia e o mercado também, pois esse fórum trata de um nicho lucrativo para empresas também”, lembra Blanco.

Participaram também da mesa de abertura: Jorge Alexandre Onoda Pessanha, pró-reitor de Extensão e Educação Continuada da UPM; Luciana de Oliveira Royer, vice-presidente do IAB/SP; Gabriela Rocha, membro do Entre:Faus e da equipe de coordenação do Fórum; e reverendo Gildásio Jesus Barbosa dos Reis, capelão universitário da Chancelaria Mackenzie, que destacou durante a reflexão confessional que é preciso ter paz nas cidades para se ter pessoas mais saudáveis em todos os âmbitos da vida. “Que forma melhor de promover essa paz do que pensar o bem-estar a todos?”, questiona o capelão.