Abertura da FEFICC 2025 traz união entre fé e literatura no Mackenzie

Evento literário cristão reúne autores e leitores para discutir histórias que curam, restauram e apontam para a fé 

21.07.202511h38 Bruno Carvalho e Jullia Oliveira, sob supervisão de Camila Lippi

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Abertura da FEFICC 2025 traz união entre fé e literatura no Mackenzie

Feira de Ficção Cristã e Cultura (FEFICC) teve início nesta quarta-feira, 16 de julho, no campus Higienópolis da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Criada em 2022, em Belo Horizonte, a FEFICC chega à sua quarta edição com o propósito que a originou: ser um espaço de encontro entre a fé cristã e as boas histórias, aquelas que apontam para a grande narrativa da redenção. 

A programação foi aberta com um culto devocional conduzido pelo pastor Márcio Scarpellini, que trouxe a reflexão sobre o papel da literatura como ponte entre o tempo presente e a eternidade. “A FEFICC não é apenas um evento de vendas ou promoção de livros, é muito mais do que isso. Nós estamos aqui cultivando a imaginação espiritual de uma geração”, afirmou.  

Em sua pregação, o pastor destacou que o Deus da Bíblia é um Deus eterno, que criou o tempo com o propósito de amar e se comunicar com a humanidade. “Que a FEFICC seja um tempo de comunicação de Deus para com cada um de nós. Que não seja apenas uma experiência cultural e literária, mas um momento de ouvirmos aquilo que Deus está falando da eternidade para tocar o nosso presente”, declarou. 

Logo após o culto, a primeira roda de conversa da programação reuniu autoras que escrevem ficção cristã com enfoque em narrativas de cura e transformação interior. Com mediação da escritora Heloísa Karin, o bate-papo teve como tema Ficção de Cura e Novas Tendências Literárias e contou com a participação de Tatieli Ketlurin, Mariana Mendes, Carol Bastos, Dayane Grunevalt, Eliane Nascimento e Débora Regos. 

A proposta da roda de conversa foi apresentar ao público um panorama da chamada “ficção de cura”, uma tendência crescente dentro da literatura cristã contemporânea. Segundo as participantes, esse subgênero se caracteriza por histórias que abordam feridas emocionais, traumas pessoais e jornadas de restauração — tanto dos personagens quanto, muitas vezes, dos próprios leitores.  

“É como se, ao ler, a gente recebesse o bálsamo de Cristo no coração”, comentou Débora Regos, autora do drama Se Eu Partisse, que retrata a vida de mulheres maduras em busca de novos sentidos após períodos de dor e desesperança. 

Para a escritora Eliane Nascimento, que atua também como psicóloga, a ficção de cura se diferencia do romance psicológico por trazer um horizonte de redenção. “No romance psicológico, nem sempre há final feliz. Já na ficção de cura, a ideia é que o personagem e quem lê encontre uma forma de restauração no fim da história. As pessoas se identificam porque vivem problemas reais e precisam acreditar que há solução”, contou. 

A identificação com os leitores foi um dos temas centrais da conversa. Carol Bastos, autora de Criação Assombrosa, compartilhou como sua escrita nasceu da vontade de representar pessoas com deficiência. “Eu nunca tinha lido um romance com uma personagem como eu. Escrevi o livro que a minha versão de 14 anos precisava ter lido. A ficção de cura trata das nossas imperfeições físicas, emocionais ou espirituais e de como Deus trabalha nelas”, disse. 

Já Tatieli Ketlurin, influenciada por obras sul-coreanas e pela tradição introspectiva da literatura oriental, destacou que a ficção de cura costuma ter um ritmo mais linear, com menos reviravoltas e mais profundidade emocional. “Ela não busca apenas entreter, mas tratar questões internas, acompanhar a transformação dos personagens e, com isso, permitir que o leitor também caminhe nesse processo”, apontou. 

As autoras também falaram sobre os processos criativos por trás de suas obras e como muitos dos enredos partem de experiências pessoais. A autora Dayane Grunevalt ressaltou que escrever ficção cristã é um chamado, não apenas uma profissão. “A gente escreve para que o Senhor fale a corações. As histórias que criamos vêm de situações reais, nossas ou de outras pessoas, e são canal de cura para quem lê”, afirmou. 

Encerrando a conversa, a mediadora Heloísa Karin enfatizou o poder das narrativas como instrumentos de acolhimento e transformação. “A FEFICC é um lugar onde nos sentimos em casa. E, ao mostrar essas histórias, estamos mostrando às pessoas que há um lugar para elas também, um lugar onde a dor pode ser vista, tocada e, pela graça, curada”. 

A FEFICC 2025 conta com palestras, rodas de conversa, lançamentos e uma curadoria especial de livros de ficção cristã de diferentes gêneros, da fantasia à distopia, passando pelo romance e pelo drama. O evento já reuniu mais de 100 autores de nove estados brasileiros e impactou mais de 14 mil pessoas desde sua criação.