Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade?

03.05.201710h05 Professor Doutor Felipe Chiarello de Souza Pinto, Direito e Professora Doutora Michelle Asato Junqueira, Direito

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Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade?

As novas tecnologias e os recursos da informática mudaram a relação que desenvolvemos com a informação e com a busca do conhecimento.

No mundo jurídico não foi diferente.

Acostumada com os tratados, enciclopédias e dicionários, que nasciam após anos de pesquisa, a comunidade jurídica ainda precisa se adaptar a uma nova realidade, transformada pela tecnologia. Da mesma forma, a presunção, quase absoluta, das verdades trazidas por aqueles textos em formatos clássicos, comuns em uma realidade, hoje, já substituída, foi, inadvertidamente, transferida para as pesquisas nos meios digitais, em especial, a internet.

As pesquisas na rede mundial de computadores, em razão da acelerada produção que lhe é própria, por vezes, carecem de fundamentação e veracidade, sendo replicadas inúmeras vezes, transformando mentiras em verdades, prejudicando a profusão da informação e do conhecimento.

Joseph Goebbels, Ministro da propaganda da Alemanha Nazista declarou certa vez que “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Em alguns casos, personifica-se. É caso de Carlos Bandeirense Mirandópolis.

Em 2010, foi criada uma página na “Wikipedia” contando a biografia do catedrático da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que teria sido perseguido pela ditadura militar e exilado em Paris. Mirandópolis, ainda, foi amigo de Chico Buarque, inspirando o “Samba de Orly” e, declaradamente, atuado no movimento das “Diretas Já”.

Referidas informações foram utilizadas para fundamentar a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que visava a inconstitucionalidade da lei estadual que proibia o uso de máscaras em manifestações. O catedrático também foi citado em trabalho acadêmico e em outras páginas da internet, inclusive à página destinada ao registro do movimento das “Diretas Já”..

Ocorre que, Mirandópolis não existe e nunca existiu!

O perfil falso foi criado por dois advogados paulistas, com a finalidade de “criar uma peça” em um estagiário. E pasmem....Tratando-se de uma plataforma colaborativa, a página da “Wikipedia” recebeu, posteriormente à falsa criação do perfil, a foto de Carlos Bandeirense Mirandópolis.

Fica a lição: Cuidado com as fontes de pesquisa!