Com o avanço tecnológico e a crescente presença de dispositivos eletrônicos no cotidiano, crianças estão cada vez mais expostas a telas de computadores, tablets e smartphones. No entanto, o aumento no tempo de tela levanta preocupações entre especialistas sobre seus potenciais impactos no desenvolvimento infantil. Para entender melhor esse desafio, conversamos com a especialista em Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), professora Roseli Caldas.
A especialista destaca que, embora não existam evidências sólidas sobre a correlação direta entre o tempo de tela e o atraso na aquisição da fala, a comunicação verbal entre pessoas é fundamental para o desenvolvimento da linguagem. Ela ressalta que, embora as telas possam proporcionar estímulos auditivos, a interação interpessoal é mais eficiente nesse processo.
Segundo Caldas, um dos efeitos psicológicos mais comuns associados ao uso excessivo de dispositivos por crianças é a dificuldade de relacionamento interpessoal. As crianças tendem a ter mais dificuldade em interagir e se relacionar com outras pessoas no mundo real, o que pode impactar negativamente seu desenvolvimento social e emocional.
“Quando eu estou no celular, tenho controle de tudo. Posso excluir o avatar, bloquear as pessoas, se não quero conversar mais, saio do chat on-line. Mas, com o presencial isso não é possível”, detalha Caldas.
Além disso, a professora enfatiza a importância de equilibrar o tempo de tela com atividades não virtuais, como brincadeiras ao ar livre e interações sociais. Ela ressalta que os pais desempenham papel fundamental nesse processo, tanto como exemplos de uso responsável de tecnologia quanto na oferta de alternativas de entretenimento e aprendizado que não envolvam telas.
“Se os pais estão todo o tempo no celular, eles têm dificuldade de limitar para a criança. Esse é um cuidado também dos adultos em relação ao seu tempo de tela quando estão na presença do outro. Algumas vezes a gente vê essa situação da criança chamando, e os pais não ouvem porque estão interagindo com o celular”, reflete Caldas.
A psicóloga explica que muitas vezes os adultos usam dispositivos móveis como muleta para descansarem das crianças. “Você vai ao restaurante, a criança começa a interagir, os pais percebem isso como 'mal comportamento', e oferecem dispositivos móveis para que a criança fique distraída ali. Isso dá menos trabalho, mas precisa haver cuidado”, frisa.
Outro aspecto abordado pela professora são os impactos físicos do uso excessivo de dispositivos eletrônicos. De acordo com ela, problemas oftalmológicos estão se manifestando em crianças cada vez mais jovens.
“Vai levar a criança para a casa da avó? Não deixe ficar no celular o tempo todo. Incentive a interagir com a avó, com os primos, com as pessoas da família. Existem situações em que não cabe uma relação virtual, tem que ser uma relação interpessoal”, afirma Caldas.
Em suma, o excesso de telas no cotidiano das crianças apresenta desafios significativos para seu desenvolvimento motor, fala, aspectos psicológicos e cognitivos, além de afetar suas interações sociais. Portanto, é fundamental que pais, educadores e a sociedade, como um todo, estejam atentos a esses impactos e trabalhem juntos para promover um equilíbrio saudável no uso de tecnologia na infância.