Tradução de Leandro Moreira Valente Barbas – Doutorando em Direito Político e Econômico e Membro do Centro de Liberdade Econômica da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Artigo originalmente publicado em <https://www.aei.org/publication/a-tribute-to-an-economic-giant-friederich-hayek-on-the-25th-anniversary-of-his-death/> (23 de Março de 2017). Traduzido e publicado com autorização do autor.
Comentários entre colchetes e notas de rodapé foram adicionadas pelo tradutor.
Hoje (23 de março) é o 25º aniversário da morte do grande economista vencedor do Nobel Friedrich Hayek (retratado acima). Para uma visão bastante detalhada e extensa sobre sua vida e suas contribuições intelectuais, é possível visitar sua página na Wikipedia aqui [N.T: em inglês. Aqui, em português].
Friedrich Hayek foi um dos pensadores mais influentes do século XX, e sua obra ainda dialoga nos dias de hoje com economistas, estudiosos e amantes da liberdade ao redor do mundo. Um quarto de século após a morte de Hayek, suas ideias são imensamente relevantes num tempo em que muitos governos vem aumentando de tamanho e se tornando cada vez mais intervencionistas.
Aqui estão dez formas de honrar as contribuições deste gigante da Economia:
1. Matt Ridley lembra Hayek em seu artigo de hoje “Friedrich Hayek and the collective brain” [N.T.: em inglês]:
Hayek morreu há 25 anos no dia de hoje, mas suas ideias são muito relevantes para o século XXI. Foi ele quem percebeu com maior clareza que o conhecimento é mantido na nuvem, e não na mente, e que a inteligência humana é um fenômeno coletivo.
A “nuvem”, aquela nuvem formada coletivamente, “wikinômica”,[1] não é conceito novo. Ela tem sido a fonte das invenções humanas por todo este tempo. É por isso que qualquer tecnologia que você possa imaginar resulta da combinação de outras tecnologias, e é por isso que invenções simultâneas são tão normais, dado que as ideias se juntam e se cruzam quando estão maduras.
Certamente é por isso que a internet é uma novidade tão animadora. Pela primeira vez, a humanidade não tem apenas alguns grandes cérebros coletivos (chamados de “trade networks” – redes de troca ou comércio), mas apenas um, realmente vasto, onde quase todas as pessoas podem compartilhar e no qual a distância não constitui obstáculo.
(Saúdo a Don Boudreaux por este tópico, e lhe agradeço especialmente por me lembrar da importância do dia de hoje)
2. David Boaz, do Cato Institute, escreve sobre Hayek no dia de hoje no Liberty Blog da Cato: “25 Years Later, Is It Still the Hayek Century?” [N.T.: “25 Anos Depois, Este Ainda É o Século de Hayek?” – em inglês]
“Hayek viveu por tempo suficiente para testemunhar a ascensão e queda do fascismo, do nacional-socialismo e do comunismo soviete. Nos anos desde a porte de Hayek, a liberdade econômica ao redor do mundo vem crescendo, e valores liberais tais como direitos humanos, o império da lei, a liberdade e igualdade jurídicas e o livre acesso à informação espalharam-se para novas áreas. Hoje, no entanto, o liberalismo encara desafios advindos de ideologias bastante distintas, ainda que simbióticas, tais como o esquerdismo renascente, o populismo autoritário de direita e o islamismo político radical. Sou otimista porque penso que uma vez que as pessoas sentem o gosto da liberdade e da prosperidade, elas irão querer mantê-lo. O desafio para os liberais Hayekianos[2] é o de auxiliar as pessoas a entenderem que a liberdade e a prosperidade dependem de valores liberais, valores explorados e defendidos em seus muitos livros e artigos.
3. Esta é provavelmente a minha citação favorita de Hayek dentre todas as outras, extraída de seu artigo de 1945 na American Economic Review, “The Use of Knowledge in Society” [N.T.: em português “O Uso do Conhecimento na Sociedade”/(3)], e a sua última frase é genialidade pura:
É maravilhoso [no sistema de preços] que em uma situação na qual haja escassez de um tipo de matéria prima, sem que nenhuma ordem seja dada, sem que talvez não mais que um punhado de pessoas saibam a causa dessa escassez, dezenas de milhares de pessoas cujas identidades jamais serão conhecidas, mesmo depois de meses de investigação, começam então a utilizar essa matéria ou seus subprodutos de maneira mais econômica; ou seja, todas elas agem na direção correta. Isto, em si mesmo, é suficientemente maravilhoso; mesmo que, em um mundo de incertezas constantes, nem tudo consiga se organizar tão perfeitamente para que suas porcentagens de lucros se mantenham constantemente no mesmo nível considerado "normal".
Usei deliberadamente a palavra "maravilha" para chocar o leitor e retirá-lo da complacência com que costumamos dar como certo o funcionamento desse mecanismo. Estou convencido de que se isso fosse o resultado de um projeto humano consciente, e que as pessoas guiadas pelas mudanças dos preços soubessem que suas decisões possuem uma importância muito maior do que a realização dos seus fins imediatos, então esse mecanismo seria louvado como um dos maiores triunfos da mente humana.
4. Também em seu artigo na AER “O Uso do Conhecimento na Sociedade”, Hayek explicou porque um sistema de mercado descentralizado é sempre infinitamente superior ao planejamento central... e porque a ocupação planejada de maneira concentrada pelo governo do sistema de saúde de um país, tal como é o caso do Obamacare, simplesmente jamais funcionará.
Se pudermos convir que o problema econômico da sociedade é basicamente uma questão de se adaptar rapidamente às mudanças das circunstâncias particulares de tempo e lugar, parece ser evidente que, por consequência, as decisões fundamentais devem ser deixadas a cargo de pessoas que estejam familiarizadas com essas circunstâncias, que possam conhecer diretamente as mudanças relevantes e os recursos imediatamente disponíveis para lidar com elas. Não podemos esperar que essa problema seja resolvido por meio da transmissão de todo esse conhecimento para um diretório central que, depois de ter integrado todo esse saber, emita uma ordem. Devemos resolvê-las através de alguma forma de descentralização.
5. Eis outra de minhas citações favoritas de Hayek (sobre “justiça social”) extraída de Law, Legislation and Liberty, Volume 2: The Mirage of Social Justice (1978)[4], apresentada como “Material notável e citável” no Wall Street Journal em 2014.
No Ocidente, a ascensão das grandes massas a um conforto tolerável foi o efeito do crescimento geral da riqueza, que tem sido apenas desacelerado por medidas que interferem com o mecanismo de mercado. Foi este mecanismo de mercado que criou o aumento da renda agregada, que também tornou possível o fornecimento de apoio fora do mercado para os incapazes de auferir renda suficiente. No entanto, as tentativas de "corrigir" os resultados do mercado em vista da "justiça social" provavelmente produziram mais injustiças na forma de novos privilégios, obstáculos à mobilidade e frustração de esforços do que contribuíram para o alívio de muitos dos pobres.
6. Essential Hayek [O Essencial sobre Hayek] é um projeto do Fraser Institute (o “think tank” líder em matéria de políticas públicas do Canadá) e inclui um livro pelo professor Don Boudreaux da Universidade George Mason (The Essential Hayek [O Essencial sobre Hayek], com prefácio de Vaclav Klaus, disponível aqui de graça), um site que inclui grande coleção de materiais sobre Hayek e uma série de vídeos (três dos quais são mostrados abaixo[5] e há mais aqui) que tentam explicar as ideias econômicas ainda muito atuais de Hayek em linguagem comum do dia-a-dia. É um ótimo recurso para todos que dão valor à liberdade econômica e querem maior entendimento sobre os insights atemporais de Hayek sobre economia e mercados.
[“O Essencial Sobre Hayek – Quem Foi F.A. Hayek?” - https://www.youtube.com/watch?v=3WVaXa2y9mw – Versão com legendas em português]
7. O vídeo acima fornece um resumo da vida de Hayek, suas realizações e os eventos que influenciaram seu pensamento.
[“O Essencial Hayek – Parte 1 – Conhecimento e Preços” - https://www.youtube.com/watch?v=YdK0qf3o1Qo – Versão com legendas em português][6]
8. Uma das ideias mais conhecidas de Hayek e talvez sua reflexão mais profunda seja sobre o papel dos preços na disseminação de informações. Este tópico é explorado no vídeo acima, e em maior detalhe no Capítulo 2 de The Essential Hayek.
9. As frases de Hayek abaixo estão disponíveis aqui no site Brainy Quote. Em negrito estão algumas situações presentes que Hayek provavelmente estaria debatendo nos dias de hoje, mesmo que estas citações tenham aparecido nos escritos de Hayek já há muitas e muitas décadas:
Salário Mínimo: “Sabemos, em outras palavras, as condições gerais em que dizemos, de maneira certa forma confusa, que um equilíbrio se estabelecerá; nunca sabemos, entretanto, que preços e salários em particular existiriam caso fosse o mercado a determinar este equilíbrio”.
Soluções Políticas: “Agir na crença de que possuímos o conhecimento e o poder que nos permite moldar os processos sociais à nossa vontade, conhecimento este que na realidade não possuímos, provavelmente nos causará muitos danos”.
Terrorismo: “Emergências sempre foram o pretexto no qual as salvaguardas à liberdade individual sempre foram erodidas”.
Estado de Bem Estar Social (Welfare State): “Reivindicações por igualdade de posses materiais só podem ser supridas por um governo com poderes totalitários”.
10. Em outro vídeo do projeto Essential Hayek, abaixo, é explicada sua obra sobre os ciclos econômicos, pela qual ele recebeu um Prêmio Nobel de Economia em 1974.
Por Mark J. Perry, Pesquisador do American Enterprise Institute e professor de Economia e Finanças na Universidade de Michigan.
[1]N.T.: refere-se ao livro “Wikinomics”, de Don Tapscott e Anthony Williams, e indica algo que é feito através de colaboração massiva entre diferentes pessoas a partir diferentes lugares, a exemplo da Wikipedia.
[2] N.T.: neste ponto, é necessário fazer um breve comentário sobre o termo “liberalism”, no idioma inglês. No idioma inglês dos dias de hoje, os termos “liberal” e “liberalism” são utilizados para denotar pessoas e pensamentos ligados à esquerda, pendendo para o socialismo. Quando se utiliza os conceitos em relação a Hayek, no entanto, o termo tem o mesmo significado que “liberal” em português, costumeiramente ligado à defesa do livre mercado, do capitalismo e das liberdades. Os “Hayekian liberals” ou “liberais Hayekianos” são o que no Brasil chamamos de “liberais”.
[3]Traduzido pelo Instituto Mises Brasil, sem indicação do tradutor. A frase entre colchetes não consta da tradução em português, mas consta do texto tal como citado pelo autor do presente artigo.
[4] Em português “Direito, Legislação e Liberdade Volume 2: A Miragem da Justiça Social”. Consta que foram traduzidos e publicados em português pelo Instituto Liberal em 1985, mas a versão nacional parece estar fora de catálogo.
[5] O Estudantes Pela Liberdade traduziu para o português este vídeo. Adicionamos diretamente a versão legendada em português.
[6] Este segundo vídeo consta como traduzido para o português pelo Instituto Carl Menger.
[7] Também pelo Instituto Carl Menger.
