A pesquisa qualitativa possui dentre suas características formar um relato holístico, o qual desenvolve-se um quadro complexo do problema ou questão em estudo, envolvendo múltiplas perspectivas, identificando os fatores envolvidos, identificando interações complexas dos fatores de determinada situação, para tanto, faz uso de múltiplas fontes de evidência (Creswell, 2014). A estratégia de estudo de caso prevê o uso de técnicas quali-quanti em suas análises (Gerring, 2006).

Nessa direção, o pesquisador pode sim utilizar um questionário como uma de suas múltiplas fontes de evidências, contudo essa não deve ser a principal fonte, uma vez que necessita utilizar técnicas quantitativas para sua análise que por sua vez concentram-se em análises estatísticas que assumem que o comportamento dos indivíduos, variáveis e/ou fenômenos tendem à média, desconsiderando, portanto as particularidades. Nesse sentido, recomenda-se que o pesquisador tenha o cuidado para não deixar que a análise quantitativa sobressaia, as demais técnicas de análise de dados qualitativos em seus resultados sob pena de descaracterizar a abordagem da pesquisa como qualitativa.

CRESWELL, J. W. Investigação Qualitativa e Projeto de Pesquisa. Escolhendo entre cinco abordagens. 3 ed. Porto Alegre: Penso, 2014.

GERRING, J. Case study research: principles and practices. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

A pesquisa qualitativa possibilita investigar temas em contextos específicos ou pouco explorados, revelando as interpretações dos atores e seus posicionamentos (CRESWELL, 2014). Os estudos são empíricos e situacionais, portanto, precisam descrever de forma detalhada o contexto em que o objeto ou situação está sendo observada (STAKE, 2011). Nesse sentido, precisam descrever: o objeto; situação; unidade de análise; contexto, a qual está sendo aplicada.

Não obstante, as investigações qualitativas não podem ser restritas à descrição de determinado fenômeno ou realidade pois precisam proporcionar a compreensão e/ou significado deles de forma detalhada, apresentando as interpretações.

Para Raupp e Beuren (2008, p. 81) a técnica de pesquisa descritiva “normalmente ocorre o emprego de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais sofisticadas.” Reiterando a

argumentação que a pesquisa qualitativa não pode ser desenvolvida exclusivamente como uma pesquisa descritiva.

CRESWELL, J. W. Investigação Qualitativa e Projeto de Pesquisa. escolhendo entre cinco abordagens. 3 ed. Porto Alegre: Penso, 2014.

STAKE, E. R. Pesquisa Qualitativa: estudando como as coisas funcionam. São Paulo: Artmed, 2011.

RAUPP, F. M.; BEUREN, I. M. Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: teoria e prática. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

Algumas estratégias de pesquisa, necessitam fazer uso de várias fontes de evidências para compor o seu relato holístico, nesse sentido, os dados quantitativos podem ser utilizados, desde que não estejam em predominância. Ressalta-se que ao utilizar técnicas quantitativas, o pesquisador está trabalhando com a pesquisa quali-quanti. É o exemplo da estratégia de estudo de caso que prevê o uso de técnicas quali-quanti em suas análises (Gerring, 2006).

GERRING, J. Case study research: principles and practices. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

Análise de conteúdo, análise de discurso, análise crítica, análise documental, análise de dados em processo, dentre as mais citadas.

O processo de amostragem na pesquisa qualitativa refere-se a algum processo não probabilístico e representativo em relação ao objeto investigado (Cooper; Schindler, 2016). Recomenda-se utilizar os termos: recorte da investigação; seleção de participantes; unidade de análise; seleção dos casos, para delimitar os participantes do estudo.

COOPER, D.; SCHINDLER, P. Métodos de pesquisa em administração. 12 ed. Porto Alegre: McGraw-Hill Education, 2016

Para elaborar o questionário ou estruturar a entrevista, reporte-se ao contexto de sua pesquisa, sem se dirigir especificamente ao ambiente que o sujeito pesquisado esteja inserido. Também é recomendável que sejam investigadas experiências passadas desse sujeito em outras organizações, por exemplo, para que se sinta mais “à vontade” para responder/conversar acerca do eventual “tema sensível” investigado, sem o risco de estar diretamente associado a “empresa onde trabalha”. Oportunize ao respondente/entrevistado falar acerca de experiências ao longo da vida; e não somente ao ambiente “X”. Nos casos, em que não se permita gravar, mesmo sendo previamente explicado que a pesquisa não está sendo dirigida ao ‘ambiente X’ em específico, o ‘papel e a caneta’ representam a melhor opção para o pesquisador. Outros recursos também podem ser utilizados: como a simulação de situações que levem o sujeito a refletir acerca do seu papel, caso estivesse naquela determinada situação. Com isso, será possível analisar o comportamento desse indivíduo, quando inserido nessa situação; método esse denominado ‘Entrevista Projetiva’. Outra recomendação é que se executem os testes pilotos para cada uma das recomendações anteriores. Não esquecer do acordo prévio de consentimento, através, por exemplo, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

BRUNSTEIN, Janette. Como posso me conduzir nas situações em que os participantes da pesquisa não permitem a gravação/transcrição das entrevistas? WhatsApp: Ana Lúcia F. S. Vasconcelos. 15 mai. 2023. 21:08. 1 mensagem de WhatsApp.