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Inteligência Artificial no ensino superior: entre avanços, desigualdades e dilemas éticos

Ferramentas de IA ganham espaço nas universidades, transformando a aprendizagem

02.09.202514h49 Tainá Fonseca, sob supervisão de Jonathas Cotrim

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Inteligência Artificial no ensino superior: entre avanços, desigualdades e dilemas éticos

O uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) no ensino superior deixou de ser uma previsão futurista e já se consolidou como realidade. Da produção de textos à organização de pesquisas, a tecnologia vem alterando práticas acadêmicas e pedagógicas. Ao mesmo tempo, levanta dilemas que vão muito além da técnica, alcançando dimensões éticas e sociais.

Segundo Daniela Spinelli, professora do programa de pós-graduação em Linguagens e Tecnologia, o impacto não ocorre de forma uniforme. Enquanto países centrais caminham para um uso quase universal, no Brasil persistem desigualdades estruturais de acesso digital. Com isso, se não for acompanhada de políticas institucionais de inclusão, a IA pode ampliar distâncias já presentes entre diferentes trajetórias educacionais.

Spinelli também destaca que a tecnologia pode apoiar estudantes na organização do pensamento e na clareza da linguagem. “O risco surge quando seu uso se dá de forma passiva ou acrítica: nesse caso, reduz-se a autonomia intelectual. Afinal, a escrita, que deveria configurar-se como processo reflexivo e formador, converte-se em mera reprodução”, aponta. 

Por um outro lado, Antonio Luiz Basile, professor do curso de Ciência da Computação, ressalta que os maiores avanços recentes se concentram na chamada Inteligência Artificial Conexionista, baseada em redes neurais artificiais, aprendizado profundo (Deep Learning) e modelos de linguagem de larga escala (LLMs). 

Para o professor, os desafios estão no uso indiscriminado da IA em tarefas acadêmicas. “Alunos resolvendo suas tarefas com ajuda de IA, por exemplo, sem que isso seja desejável ou permitido. Isso acontece principalmente quando os alunos se veem diante de problemas desafiadores. Nestes casos é difícil para o professor ‘convencer’ seus alunos a não usar IA”, explicou. 

Quando o aluno utiliza a IA para tarefas acadêmicas, eles utilizam de um modelo operado com base em probabilidades linguísticas e padrões predominantes, que reforçam convenções discursivas hegemônicas e que silenciam diferenças linguísticas e culturais. O risco imediato é o apagamento das marcas culturais e o empobrecimento da diversidade linguística.

A professora Daniela Spinelli explica que, no contexto brasileiro, esse risco assume contornos ainda mais graves. A maioria dos registros periféricos, das variações regionais e das formas minoritárias de expressão, encontra pouca ou nenhuma representação nas bases de dados que alimentam os modelos de linguagem. “Dessa forma, a padronização algorítmica tende não apenas a invisibilizar tais vozes, mas a reforçar hierarquias históricas de exclusão”, completou. 

Ainda assim, Basile acredita que professores e outras figuras humanas manterão um papel insubstituível na sociedade. “Costumamos preferir outros seres humanos para certas tarefas, como ensinar, cuidar ou orientar”, finaliza.