Elisa Leão*
Quem diria viver uma pandemia!
Tem coisas na vida que parecem tão distantes e que só acontecem com o vizinho lá da outra rua ou com o amigo do amigo.
Tragédias pessoais, familiares, sociais, pareciam tão distantes e que o meu mundo estava blindado para situações tristes e vivências dramáticas.
Até que… Um acidente, a descoberta da infertilidade e a necessidade de encarar de frente o que vem pela frente. A morte que não avisou que chegaria para alguém do núcleo familiar, uma pandemia que alcançou todo o planeta.
Foi aí que descobri que não estou blindada das tragédias. Foi aí que fiquei menos ingênua para os acontecimentos inusitados e confesso ter sentido ansiedade e medo por não ser capaz de controlar tudo. Sim! Sou psicóloga e sou humana com sentimentos. Sinto alegria e tenho taquicardia de emoção. Fico triste e tenho vontade chorar. Tenho raiva e questiono a minha fé e a capacidade de continuar. Por incrível que pareça isso é libertador!
Sou humana.
Estou vivendo uma Pandemia que chegou e se instalou em pleno século XXI. Momento em que a ciência já tem muitas respostas e consegue caminhar rumo ao desenvolvimento de uma vacina que pode salvar a humanidade em tempo recorde.
Contraditoriamente, em pleno século XXI que o Preto ainda sofre e parece até, estar aprisionado dentro de imaginários tapados que veem direitos em se ver no direito de ter mais direitos em relação ao que é diferente. O Preto paga pelas correntes que prendem os donos do imaginário.
Pleno século XXI que o diferente ainda assusta e é motivo de tentativa de imposições garganta abaixo a qualquer custo.
E... Uma pandemia! Essa é diferente. E teve que ser engolida. Mesmo insípida. Quem diria que revolucionaria os relacionamentos familiares, o manejo do comercio, a educação mundial, as relações diplomáticas, a tecnologia, o mundo virtual, quem morre, quem vive!
Todos precisando ficar em casa juntos. O grande desafio de reinventar a vida doméstica e de ser criativo para uma sobrevivência que precisa ser descoberta.
Pandemia que aprisiona e pode matar, também mostra que pode gerar reflexões libertadoras e movimentos que envolvem toda a sociedade em prol de grupos que viviam silenciados, mas agora ganham volumes mais altos para suas vozes. Afinal, ninguém está blindado do sofrimento e em algum momento precisa reivindicar direitos e reivindicar pela própria vida.
Se a sobrevivência precisa ser DesCoberta ela não está sozinha! A criatividade e necessidade sofisticaram meios de comunicação para além do virtual. Pessoal! Manual! Sim, através de um X feito com batom na palma da mão é possível pedir ajuda e mostrar que a dona desse batom quer independência e merece viver sua vida livre de abusos feitos, na maioria das vezes, por um homem inseguro, ciumento e que tem medo de ficar sozinho. Mas, através da sua força muscular ou a acidez e o amargo das suas palavras age covardemente para intimidar essa mulher que ele sabe que tem o potencial para brilhar muito mais que a força da ignorância emocional.
Dependências que não cabem mais e a independência fatal que batia a porta e precisou entrar mostrando que tem suas vantagens.
Pandemia, que dissemina além do vírus da Covid-19 a certeza de que nada será igual. De que as vezes é importante uma grande crise para limpar o que é mais fácil varrer para debaixo do tapete.
A pandemia mostra que ninguém está ileso a eletrochoques de realidade e a necessidade de adaptação a novas verdades. Também mostra que não é preciso estar sozinho para recuperar-se dos reveses inevitáveis e que seja no virtual ou na palma da mão é possível recuperar, dar a volta por cima, olhar no olho do que vem pela frente. É saber que ser humano real, vive constantes reveses e tropeços, mas depois disso, segue avante e com a oportunidade de ver oportunidades promissoras que não sufocam nem acorrentam, mas que libertam.
*Elisa Leão é professora doutora de Psicologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, psicóloga clínica e palestrante.
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