
18.08.2025 - EM Universidade
A terceira e última conferência da temporada 2025 do Fronteiras do Pensamento aconteceu no dia 11 de agosto, no auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) campus Higienópolis. A partir do questionamento “como o tempo se torna real para nós?”, o neurocientista espanhol, Rafael Yuste, e o físico brasileiro, Marcelo Gleiser, debateram sobre mente, tempo e realidade.
Segundo o Rafael Yuste, tudo o que somos e conhecemos – nossos pensamentos, percepção, imaginação, consciência e memória - vem do cérebro. “O mundo é o reflexo da nossa mente, o que o cérebro faz é gerar a realidade na qual pensamos que vivemos. Quando você olha para mim, você pensa que sou real, que estou de pé na sua frente, mas, na verdade, é algo de dentro do seu cérebro”, afirmou o neurocientista.
Conhecida como “teoria teatro do mundo”, Yuste comparou o cérebro à uma máquina de previsão do futuro, que utiliza as atividades dos neurônios para criar um modelo do mundo, uma espécie de protótipo da realidade. “O motivo de termos um modelo mental do mundo é para usarmos a realidade vertical para calcular o futuro. Estamos constantemente pressionando o botão avanço rápido em nossas vidas para ‘ver’ o que acontece”, disse Rafael Yuste.
A teoria de Yuste é estabelecida a partir da descoberta de aspectos do funcionamento do cérebro. De acordo com estudos do próprio neurocientista, o cérebro é cheio de atividades de grupos de neurônios, que criam um modelo do mundo.
Já Marcelo Gleiser apresentou uma dualidade sobre a natureza do tempo, a partir dos conceitos do filósofo Henri Bergson e do cientista Albert Einsten, responsável pela Teoria da Relatividade. “O cérebro e a percepção humana do tempo construiu uma espécie de borda de alguns segundos de duração para que pudéssemos referir como presente”, argumentou.
Esse mesmo presente, segundo a representação matemática do tempo, não existe, porque o agora é um ponto na linha do tempo que não tem volume, ou seja, não tem duração. Portanto, segundo a explicação de Gleiser, só existe o tempo passado, com as memórias, e o tempo futuro, com os modelos mentais do que pode acontecer.
O físico definiu como “uma coisa estranha” falar sobre a representação matemática do tempo ser a representação da realidade, visto que a percepção humana do presente não é representada pela matemática, sendo um perfeito exemplo de como um modelo da realidade nunca corresponde a própria realidade.
“O que é interessante na nossa relação com o tempo é o peso existencial. Nós temos uma percepção da passagem do tempo que nos leva a compreender a finitude da vida, por isso criamos narrativas depois da nossa existência, que traduzem uma espécie de conflito entre a matéria e a percepção da temporalidade da vida”, disse Marcelo Gleiser.
Para o físico brasileiro, o paradoxo é o ser humano ser feito de matéria “que pensa e entende o que significa se formar, emergir e dissolver” e, justamente, por ter essa compreensão se torna difícil abandonar o entendimento e a complexidade da existência.
Por fim, Gleiser disse acreditar que a construção da realidade é feita a partir de dois vetores: um que vem de dentro para fora e outro que vem de fora dentro. “Temos os cinco sentidos que nos permitem captar informações do ambiente em que existimos. A partir da captação de imagem, som, tato, sabor e odor, construímos uma narrativa do que é a nossa realidade”, declarou.
O Fronteiras do Pensamento, realizado pela DelosBereau, reúne pensadores influentes em ciclos de conferências para debater grandes temas da atualidade. O evento conta com apoio da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em 2025, a UPM sediou outra edição do evento, com a presença de Jonathan Haidt no palco do Auditório Ruy Barbosa.








