Carta de Princípios Éticos

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Carta de Princípios 2000

15.03.2000 Chancelaria

Rev. Dr. Osvaldo Henrique Hack


A Universidade Presbiteriana Mackenzie, regida por princípios da ética e da fé cristã reformada, é de natureza confessional e filantrópica e de perfil comunitário. Por definição estatutária, desenvolverá suas atividade sem ambiente de fé evangélica e reformada, norteada pelos comandos de liberdade de expressão, ensino, pesquisa e extensão.

Cabe ao Chanceler representante da Entidade Mantenedora junto à Universidade, elaborar a Carta de Princípios, de acordo com a orientação e diretrizes do Associado Vitalício, a Igreja Presbiteriana do Brasil.
A Carta de Princípios Éticos, que ora apresentamos, para o ano acadêmico 2000, reflete a orientação calvinista reformada, que sempre permeou a história do Mackenzie.

A Capelania Universitária é responsável por sua divulgação no âmbito acadêmico.

Osvaldo Henrique Hack
Chanceler

 

Universidade Presbiteriana Mackenzie
Carta de Princípios Éticos

A moral é o valor regulador das relações interpessoais, que contribuem para a edificação de uma sociedade sadia, nos aspectos físico, social e espiritual.A ética pode ser definida como o estudo crítico da moralidade. Consiste na análise sistemática da natureza da vida moral humana, incluindo os padrões do certo e do errado pelos quais nossa conduta é guiada e os bens últimos para os quais é dirigida.

A ética ocupa-se com as escolhas morais práticas que os homens fazem e com os alvos e princípios ideais que reconhecemos. Não convém que a ética seja inteiramente relativista, para evitar o risco de tornar-se desequilibradora da sociedade.
 

A Ética e a Responsabilidade humana

A Universidade Presbiteriana Mackenzie crê que a ética deve repousar sobre a pressuposição de que o homem é livre e responsável. É livre para fazer escolhas, porém responsável pelos seus atos e esses atos humanos têm profunda significação ética, uma vez que é objeto de suas relações. Isso não implica, porém, que a ética pressuponha total indeterminismo na ação humana. As escolhas morais não são simples questão do acaso; não são, portanto, fortuitas nem completamente imprevisíveis. Elas são o produto de uma espécie de determinação ou causalidade bem distinta daquela que governa e estabelece o comportamento dos fenômenos puramente físicos.

A ética pressupõe liberdade e responsabilidade, estando preocupada diretamente com todos os atos livres de cada indivíduo que faz parte desta instituição. A liberdade moral significa a capacidade de autodeterminação no sentido de que somos livres para escolher o bem em lugar do mal, a luz em lugar das trevas, o certo em lugar do errado, a verdade em lugar da mentira, o altruísmo em lugar de egoísmo, o amor em lugar do ódio.

A ética diz respeito a todas as atividades do homem sujeitas a serem razoavelmente louvadas ou censuradas. Está interessada por todas as formas de comportamento, para as quais são relevantes os conceitos de "dever", "obrigação" e "bem comum". Determina a escolha dos meios, bem como dos fins últimos.
A atividade moral é inevitável ao ser humano, já que não somos autômatos ou meros organismos biológicos. Nós, entidade educadora, estamos envolvidos na conduta moral, não só em nossas atividades como indivíduos, mas em nossa relação direta com outros indivíduos, bem como em nossas atividades como membros de diferentes grupos, a partir dos quais nos relacionamos com grande número de pessoas.
 

A Ética e sua Base Teocêntrica

A Universidade Presbiteriana Mackenzie busca considerar os pressupostos acerca da natureza do homem, do universo e de Deus. Entende-se a vida moral como: a liberdade, a obrigação, o bem e o sentido último da moralidade em termos da fé cristã. As conclusões a respeito dos deveres do homem e do verdadeiro bem são determinadas e derivam-se do fato de que o homem é um ser moral, criado à imagem e semelhança de Deus. Cremos que os elementos de verdade que se encontram em cada sistema só podem ser apreendidos de maneira própria e adequada quando revelados ao homem pela ação divina e compreendidos pela fé. Deus é a fonte de toda exigência moral e é o supremo bem. No conceito divino o homem é singular, pois Deus o criou à sua imagem, para ser relacional com Ele. É essa relação especial com Deus que torna o homem o que ele deve ser. Todo esforço para entender o homem, à parte do Criador, significa abandonar toda esperança de encontrar o significado da própria vida.

As ciências sociais auxiliam o homem na compreensão da estrutura e dinâmica da sociedade, evidenciando as suas relações e desencontros; no entanto, é a teologia, como revelação de Deus, que nos auxilia conhecermos mais as melhores alternativas de vida com qualidade.
 

A Ética e a Lei Moral

A Universidade Presbiteriana Mackenzie crê que o homem é um ser social dotado de valores morais. Crê que Deus estabeleceu uma lei moral, que mantém no universo uma dinâmica de ordem. Temos uma aparência de ordem em nossas famílias, em nossa vida social, em nossa vida política e econômica, que é o resultado da lei natural divina. Deus instituiu sua lei natural e esta lei é parte inerente ao universo. Não é algo que tenhamos de descobrir para torná-Ia real, pois existe sem depender de nossa consciência ou inconsciência dela.

Esse conhecimento natural da lei de Deus está indicado nos códigos morais de todos os povos e nações. Entre todos os povos existem leis regulando as relações de pais e filhos, a responsabilidade mútua das gerações. Em todos os lugares as leis regulam as relações da vida e limitam o homem no seu desejo de tirar a vida daqueles a quem ele odeia. Mesmo os caçadores de cabeças têm leis que os impedem de tomar a vida de seus companheiros de tribo ou de aldeias.

Pela lei natural divina, Deus estabeleceu certas ordens como o casamento e a família, a ordem social, política e econômica, que têm por finalidade tornar possível a vida. Sob a lei de Deus a sociedade tem a responsabilidade de proteger a família, de proteger a vida, de proteger a propriedade contra a destruição e irresponsabilidade de indivíduos, de proteger os homens uns contra os outros e contra si próprios. A lei de Deus, além de ter o propósito de evidenciar a situação humana perante Deus, visa fornecer uma base para uma organização contratual da sociedade, para estabelecer o casamento e a família, o governo e a sociedade.

Cremos que diante de Deus todos os homens são iguais, que têm direitos inalienáveis, tais como: a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Quanto à natureza e utilidade da lei natural de Deus, chegamos à conclusão de que a lei existe como parte da estrutura do mundo em que vivemos. Ela existe sem depender de nosso reconhecimento ou obediência a ela. A todo momento ela é mantida pelo ilimitado poder criador e preservador de Deus. Ela está na raiz de todos os esforços práticos de codificação ou redação das leis.
 

A Ética e o Compromisso Pessoal com o Próximo

A universidade Presbiteriana Mackenzie crê que toda sociedade humana é baseada num mínimo de honestidade. Se os homens não fossem em geral honestos no uso de seus símbolos, nem mesmo poderiam falar uns com os outros. A própria linguagem, para ter significado, implica um mínimo de honestidade.Toda organização tem como fundamento uma certa quantidade de confiança, de forma que a sociedade expõe-se ao perigo quando este mínimo básico de honestidade e confiança humanas se evapora. É por esta razão que a sociedade considera o perjúrio um crime e insiste no testemunho verdadeiro, pelo menos quando os interesses da sociedade estão em jogo. Honestidade e confiança são parte da lei divina para todos os homens, para tornar possível a vida humana ordenada na terra.

A ética deve ser interpretada essencialmente como ética de amor e comumente deve pressupor que esse amor tem dois objetos: Deus e o próximo. A ética de Cristo é teocêntrica do princípio ao fim, e o verdadeiro sentido do amor só pode tornar-se claro, quando Deus for centralizado e não o amor em si. O amor de Deus pelas criaturas humanas é livre, espontâneo e não merecido. Mas, como Senhor soberano, Deus exige o homem para si mesmo, para uma vida de amor. Por essa razão" no próprio ato pelo qual revela seu amor ao homem, Deus o desafia com um segundo mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Marcos 12.31). Santo Agostinho (354-430 d.C), expondo as virtudes reorientadas para Deus e não para o Eu, escreveu: "temperança é amor que se conserva inteiro para Deus; fortaleza é amor que mantém todas as coisas prontas para Deus e por causa D'Ele; justiça é amor que quer servir só a Deus; prudência é amor que distingue aquilo que o favorece para Deus e aquilo que pode entravá-Io" (Whitney J. Oates, Basic Writings of St. Augustine, NewYork. U.S. A.: Random House, 1948, Cap. XV).
Servimos a Deus, não somente quando aceitamos como verdadeiras as proposições a seu respeito, mas deixando sua verdade operar em nós de modo que em todos os atos de nossa vida testemunhemos a verdade. Verdade esta que não pode ser biologicamente herdada, não pode ser aprendida de cor. A verdade deve ser uma prática vivenciada em nosso dia-a-dia na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O século XX viu o colapso espetacular dê visões mundiais, depositantes de confiança no homem e seus poderes. Mesmo nossos próprios sonhos de paz mundial e prosperidade universal são severamente abalados, por serem baseados em uma visão superotimista da racionalidade e das boas intenções do homem. Uma visão significativa só pode ser construída sobre a base firme de uma análise sadia da situação humana. A Palavra de Deus nos outorga essa análise, mostrando o que o homem pode fazer e o que não deve. Ela enfatiza a completa dependência humana de Deus o Criador, Preservador e Mantenedor da vida. Vivamos esta iniludível realidade como Universidade Presbiteriana Mackenzie e que Deus nos ajude.
 

Chancelaria da Universidade 
Capelania Universitária

São Paulo, março/2000.