As redes sociais transformaram radicalmente a forma de produzir, distribuir e consumir informação. O jornalismo, a publicidade e o entretenimento precisaram se reinventar para dialogar com um público cada vez mais conectado, habituado a conteúdos rápidos e fragmentados.
Segundo Paulo Ranieri, professor do Centro de Comunicação e Letras (CCL), o jornalismo enfrenta o desafio de se adaptar às novas dinâmicas de consumo sem perder a profundidade, já que o público prioriza conteúdos mais curtos e chamativos. “O desafio é transformar esse formato em algo que não seja superficial, mas que mantenha o compromisso de informar de maneira qualificada”, afirmou.
A lógica dos algoritmos mudou a rotina das redações. Antes, era mais fácil identificar o que era de interesse público e produzir em função disso. Hoje, o jornalista precisa equilibrar a relevância social da notícia com o que os algoritmos tendem a privilegiar, sem comprometer a formação da opinião pública.
Essa “cultura do algoritmo” também impacta a distribuição das informações. Se, por um lado, aumenta o alcance das produções jornalísticas, por outro, abre espaço para a proliferação de conteúdos falsos, muitas vezes gerados com apoio da inteligência artificial.
Identificar se um conteúdo é falso ou não, se é gerado por inteligência artificial ou não, é um desafio constante, já que muitas pessoas ainda acreditam com facilidade em materiais falsificados, distribuídos em larga escala. “É um desafio porque não vemos muitas ações efetivas para identificar rapidamente o que é real e o que é produzido por IA, ainda mais quando é distribuído em rede e espalhado por robôs”, explicou Ranieri.
A questão também envolve o campo jurídico. Ana Nery, professora de Direito Administrativo do Mackenzie Alphaville, destaca que o Brasil ainda não consolidou um marco normativo definitivo para lidar com os impactos das redes sociais. Embora a Constituição de 1988 garanta a liberdade de expressão, ela também impõe limites quando há violação da dignidade humana ou riscos à democracia.
“O Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados foram avanços, mas ainda temos lacunas, principalmente no combate às fake news e ao discurso de ódio”, explicou a professora Ana Nery.
O debate sobre o chamado PL das Fake News evidencia a dificuldade de se chegar a consensos. Nesse vácuo, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem desempenhado um papel ativo na defesa do Estado Democrático de Direito diante de ataques às instituições.
Ana Nery também chama atenção para o poder concentrado das plataformas digitais. “Delegar a elas a função de árbitros da esfera pública global compromete a soberania dos Estados e, muitas vezes, restringe indevidamente vozes minoritárias, sem transparência e sem controle democrático.”
Para ela, o caminho está em modelos de regulação flexíveis e participativos, que envolvam juristas, especialistas em tecnologia, jornalistas, organizações da sociedade civil e representantes de grupos minorizados. “Mais do que acompanhar a velocidade da tecnologia, é preciso manter como bússola a proteção dos direitos fundamentais e a preservação da democracia”, pontuou Ana.
Entre o jornalismo que busca relevância em meio a algoritmos e o direito que corre atrás de regulações eficazes, o futuro da comunicação se desenha em terreno de disputa. Se, por um lado, as redes democratizam a circulação de vozes, por outro, podem se tornar ferramentas de desinformação e silenciamento.
Nesse equilíbrio instável, preservar a pluralidade e a credibilidade da informação será o grande desafio para que as redes sociais se fortaleçam e não fragilizem a vida democrática.






