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Cinema e jornalismo: quando duas narrativas constroem a história

Livro reúne mais de 1.300 sinopses e analisa como produções audiovisuais representam a narrativa jornalística ao longo da história 

17.11.202515h39 Tainá Fonseca, sob supervisão de Jonathas Cotrim

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Cinema e jornalismo: quando duas narrativas constroem a história

Na sexta-feira, 14 de novembro, o professor do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Vanderlei Dias, lançou o livro Cinema, Jornalismo e Afins – A História em Cada Cena. A obra percorre a relação entre duas linguagens que moldam nossa forma de compreender o mundo e mostra, por meio de mais de 1.300 sinopses de filmes, documentários e séries de TV, como o cinema representa o Jornalismo.

A ideia do livro nasceu ainda no período universitário do autor, quando ele começou a reunir sinopses, guardar recortes de jornais e colecionar filmes com temática jornalística. “No fim, o processo aconteceu de forma natural. À medida que eu encontrava novos materiais, ia registrando e estabelecendo relações entre eles”, explicou Vanderlei.

O primeiro contato marcante do professor com esse universo ocorreu na infância, ao assistir Todos os Homens do Presidente. Mesmo sem compreender totalmente o contexto da obra, o filme despertou no autor o interesse pela comunicação e, mais tarde, transformou o cinema em uma ferramenta de reflexão sobre o exercício jornalístico.

“Podemos dizer que parte da história está registrada nas páginas dos jornais hoje, em todas as plataformas de comunicação, mas grande parte também é contada pelo cinema. Claro que o cinema apresenta uma versão dos fatos, assim como o Jornalismo”, ressaltou o professor.

A relação entre as duas áreas evidencia que ambas são formas de narrar histórias. O cinema reinterpreta acontecimentos, adiciona ritmo narrativo e adapta fatos para a linguagem audiovisual, sem o compromisso de reproduzir fielmente a realidade. Ainda assim, essa recriação ilumina bastidores e questões éticas muitas vezes invisíveis ao público. 

Filmes como Spotlight – Segredos Revelados e Ela Disse revelam investigações profundas que expõem abusos de poder e violências silenciadas, enquanto O Preço de uma Verdade explora desvios éticos que comprometem a credibilidade jornalística. “Esses três são filmes de investigação séria, sem grandes cenas de suspense ou situações em que o jornalista corre perigo de vida, mas que nos fazem refletir e, de certa forma, gostar ainda mais da profissão”, afirmou Vanderlei.

Embora muitas produções retratem jornalistas como heróis obstinados ou vilões oportunistas, tais caricaturas se aproximam de comportamentos reais observados no cotidiano das redações. “Muitos diretores passaram por redações, então sabem exatamente como a profissão funciona. Isso não significa que o cinema seja um reflexo fiel da realidade, mas grande parte do que aparece na tela foi retirada do cotidiano jornalístico”, completou o jornalista. 

Ainda assim, o jornalismo permanece como pilar da democracia. Mesmo quando retratada de forma crítica, a imprensa mantém papel central no registro dos fatos e na circulação de informações verificadas. O cinema, por sua vez, amplia o debate ao expor contradições, fragilidades e virtudes estruturais da profissão. Suas obras também colaboram com o registro histórico, ao reconstruir eventos marcantes a partir de seus próprios códigos narrativos.

Entre os exemplos citados pelo professor está o filme Setembro 5, que revisita o atentado durante a Olimpíada de Munique, em 1972. A narrativa audiovisual, segundo ele, permite retomar acontecimentos, contextualizar personagens reais e ampliar o acesso do público à memória coletiva.

Mesmo com adaptações ficcionais, o cinema reforça processos de compreensão histórica ao reinterpretar momentos decisivos da humanidade. “O cinema pode reforçar perspectivas específicas. Ainda assim, ele permite enxergar a trajetória humana a partir da tela, o que revela seu papel singular como mediador da história”, pontuou.

Documentários e filmes inspirados em apurações jornalísticas, como Todos os Homens do Presidente, demonstram como o diálogo entre as duas linguagens torna mais acessível a complexidade de eventos políticos, sociais e culturais. “Por tudo isso, o cinema pode ser considerado parte da construção histórica. Para compreender o passado, é essencial recorrer a livros e registros jornalísticos, mas assistir aos filmes também ajuda a entender os acontecimentos, desde que haja senso crítico”, finalizou Vanderlei.