Exposição “PulsAr-te” leva obras experimentais e colaborativas ao Centro Histórico e Cultural Mackenzie

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Público é convidado a participar de uma experiência artística viva, colaborativa e plural 

26.05.2025 Cultura

Bruno Carvalho


De 27 de maio a 27 de junho, o Centro Histórico e Cultural Mackenzie (CHCM) abriga a exposição “PulsAr-te”, organizada pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). A mostra reúne obras criadas no contexto da disciplina “Arte e Mediação Cultural”, ministrada pela professora Mirian Celeste, e propõe um mergulho nas múltiplas formas de mediação artística contemporânea. 

Com trabalhos em fotografia, colagem, arte têxtil, literatura, escultura, animação digital, instalação e livro de artista, a exposição convida o público a explorar diferentes estéticas, linguagens e processos de criação. O nome “PulsAr-te” é um jogo semântico que reforça o conceito da arte como movimento, encontro e partilha. 

“A ideia da exposição nasceu ao final da disciplina. Surgiram excelentes trabalhos, o que incentivou a criação de outras obras que também compõem a exposição coletiva”, explica a professora Mirian Celeste. 

A exposição é o resultado direto de um processo pedagógico que articula teoria e prática de forma integrada. Durante a disciplina, os alunos participaram de encontros formativos baseados em narrativas verbais e visuais, vivências coletivas e visitas técnicas a instituições como a Pinacoteca de São Paulo, o Museu do Ipiranga e o Centro Universitário Maria Antônia. 

“O aprofundamento das questões da mediação cultural, os trabalhos finais e as narrativas marcaram uma convivência afetuosa e produtiva. A academia precisa de poesia e de um envolvimento vivo nas pesquisas desencadeadas”, afirma Mirian Celeste. 

Inspirada no projeto Arte para Aprender, dos professores Ricardo Marin Viadel e Joaquín Roldán, da Universidade de Granada (Espanha), a mostra também incorpora intervenções participativas, nas quais o público poderá criar uma obra coletiva a partir de produções de Marcos Rizolli e Emma Erben de Castro. A proposta amplia o conceito tradicional de exposição, aproximando a criação artística da mediação cultural. 

“Expor não é apenas juntar e apresentar trabalhos. O conceito de curadoria, de expografia, do trabalho coletivo são alimento para artistas, professores e pesquisadores — e é também um exercício de coragem”, pontua a professora Mirian. 

A base teórica da disciplina e da mostra dialoga com autores como John Dewey, Georges Didi-Huberman, Aby Warburg, Jacques Rancière e Fayga Ostrower, além de artistas fundamentais para a arte-educação no Brasil e no mundo, como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Edith Derdyk e Joseph Beuys. 

Luciene Aranha, curadora do CHCM, diz que a exposição foi selecionada via edital público lançado anualmente como parte do Projeto de Exposições Temporárias Artísticas e/ou Históricas, que visa estimular uma programação diversificada e de qualidade no espaço. 

“Este projeto tem como principal objetivo trazer diferentes manifestações artísticas de qualidade para nosso público, interno e externo, tornando o CHCM um local reconhecido como espaço cultural vivo, com uma agenda diversa e constante”, explica a curadora. 

Luciene também destaca os desafios de lidar com um conjunto tão plural de obras em um espaço tombado, que exige cuidados específicos com a montagem e a preservação. Além disso, há atenção especial ao alinhamento das propostas com os valores do Mackenzie. 

“Todos os artistas são orientados de que seguimos, na aprovação dos projetos, os valores e princípios do Instituto Presbiteriano Mackenzie. Esse fator sempre foi bem recebido, e nunca tivemos problemas quanto a isso”, afirma. 

A curadoria reforça o compromisso da UPM com a extensão universitária e a valorização da produção acadêmica e artística interna. A exposição “PulsAr-te” se insere em dois projetos do CHCM: o Projeto Prata da Casa, que divulga o trabalho de professores da UPM, e o Projeto Aluno Artista, que valoriza a produção dos estudantes dos programas de Pós-Graduação. 

“Este projeto cumpre o objetivo de proporcionar o acesso à cultura em suas diferentes manifestações, colocando-se a serviço da comunidade externa, promovendo atividades gratuitas e de classificação para todos os públicos”, completa Luciene Aranha. 

A exposição conta com obras de artistas que participaram diretamente do processo formativo da disciplina. Cada trabalho carrega um percurso criativo único, atravessado por referências pessoais, estéticas e conceituais. Para os expositores, a vivência proporcionada pela construção da mostra se traduz também em aprendizado coletivo e amadurecimento artístico. 

O artista Thiago Santos apresenta Cabe na Mão, uma animação em looping que retrata um coração pulsando, feita com técnicas de animação 2D tradicional e stop motion. A obra começa com um novelo de lã vermelha que se desenrola até formar o coração, e depois retorna ao novelo — num ciclo que simboliza fluxo, continuidade e retorno. 

“Foi muito especial fazer parte de um espaço que valoriza a diversidade de expressões artísticas e oferece liberdade criativa. O ambiente de acolhimento e escuta foi fundamental para que eu me sentisse à vontade para experimentar e trazer à tona uma obra sensível e significativa”, afirma o artista. 

Segundo Thiago, o processo foi manual e intuitivo, pois “animar, para mim, é costurar tempo e matéria com afeto.” Entre as influências de sua criação, estão artistas que exploram o têxtil como poética, como Edith Derdyk e Chiharu Shiota, além de sua paixão por animação como linguagem de expressão emocional. 

O artista Simei Greb apresenta três autorretratos pictóricos em tinta acrílica sobre canvas. A obra nasce de uma investigação pessoal e espiritual, alimentada por discussões e leituras em sala de aula. Segundo ele, a proposta tem como pilares o gesto criador, inspirado pela autora Cecília Salles, e o mandamento bíblico “Ame o seu próximo como a si mesmo”. 

“Compreendo que, para amar o outro, é necessária uma profunda e comprometida autoexploração”, afirma. O gesto pictórico, assim, transforma-se em prática de escuta e revelação.  

Simei cita influências múltiplas e entrelaçadas: a vibração cromática do fauvismo, o pop de Andy Warhol, o surrealismo e a estética dos quadrinhos. “Minha produção é rizomática — feita de percursos e histórias entrelaçadas”, resume o artista.

Hilda Souto, por sua vez, apresenta três obras em arte têxtil que refletem experiências marcantes de sua trajetória pessoal e de pesquisa, além de ter contribuido com a curadoria da exposição. “As peças apresentadas expõem uma fase marcante da minha vida, que foi a maternidade. O ato de entrelaçar fios e gerar um ser tem, para mim, uma relação muito grande”, afirma.

As obras abordam temas como o útero, a amamentação e a fita de Moebius, inspiradas por reflexões em sala de aula e referências artísticas. “A terceira peça tem a ver com a proposta em aula sobre a fita de Moebius e o trabalho da artista plástica Lygia Clark. Utilizei o crochê e técnicas de mini esculturas em arame para apresentar um objeto 3D”, explica.

Ela também compartilha suas principais influências: “Para mim, os artistas da arte têxtil tanto brasileira quanto internacional são minha base de pesquisa. Cito alguns: Genaro de Carvalho, Madeleine Colaço, Jacques Douchez, Norberto Nicola, Jean Lurçat, Evan Soban, as artistas da Bauhaus, entre tantos outros que pesquisei durante o Mestrado”.

"A experiência de uma construção coletiva é sempre um desafio e um aprendizado. Um verdadeiro estopim para descobertas e redescobertas e, como todo processo educacional e artístico conduzido com seriedade, levando em conta a singularidade de cada um, eclodiu no que podemos ver na exposição PulsAr-te. Aí tem um pedacinho de cada um de nós", diz Hilda Souto sobre o processo de curadoria.  

Além da visitação livre, estão previstas ações de mediação com a presença dos artistas e da equipe docente, com o objetivo de ampliar o diálogo com os visitantes e estimular novas interpretações das obras. 

“A arte pulsa e convida para o envolvimento e partilha. Fica aqui um convite à presença, ao diálogo e à multiplicidade de sentidos que esperamos provocar”, finaliza a professora Mirian. 

Serviço 
Exposição “PulsAr-te” 
Data: de 27 de maio a 27 de junho
Abertura: terça-feira, 27 de maio, às 18h
Local: Centro Histórico e Cultural Mackenzie (CHCM), campus Higienópolis da Universidade Presbiteriana Mackenzie – Rua Maria Antônia, 307, Higienópolis 
Entrada gratuita