Alotriofagia: conheça o distúrbio que leva pessoas a se alimentarem de objetos não comestíveis

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Doença foi tema de artigo científico publicado em renomada revista de medicina por professores da FEMPAR

11.09.2025


Um artigo científico assinado por professores da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e outros médicos ganhou repercussão nacional e internacional nos últimos dias. Publicado na renomada revista americana de Ciências Médicas “Cureus”, em 19 de junho, o texto fala sobre Alotriofagia, síndrome na qual o paciente sente uma vontade irresistível de comer coisas que não são comestíveis e muito menos nutritivas, e o pior: ele sabe que não deveria comer.

A publicação traz um estudo de caso de um homem de 33 anos de idade, diagnosticado com problemas psiquiátricos, e que foi internado em Curitiba, no Paraná, seguidas vezes por ingerir objetos como caneta esferográfica, cateteres intravenosos e até um oxímetro. Alguns desses itens foram removidos por endoscopia, mas outros foram retirados por cirurgia.

Caracterizado pelo consumo compulsivo de objetos não comestíveis e não nutritivos, como terra, plástico, e, no caso do paciente em questão, objetos médicos, a síndrome pode surgir por diversas causas, como deficiência nutricional e também transtorno psiquiátrico. Os casos mais graves podem causar perfurações, obstruções intestinais, intoxicações e até mesmo risco de morte. O tratamento inclui acompanhamento médico, nutricional e psiquiátrico.

Relação com esquizofrenia

De acordo com o psiquiatra, professor da FEMPAR e um dos autores do artigo, Sivan Mauer, os casos de alotriofagia são frequentemente relatados em pacientes com diagnóstico de esquizofrenia - transtorno mental crônico que compromete o funcionamento cognitivo e comportamental do indivíduo, podendo levar a maior impulsividade e a comportamentos de risco, como a ingestão de corpos estranhos. Segundo a publicação, “o presente relato de caso tem como objetivo descrever um episódio de alotriofagia em um paciente esquizofrênico, discutindo suas implicações clínicas e terapêuticas. O paciente, do sexo masculino, com diagnóstico prévio de esquizofrenia, apresentou episódios recorrentes de ingestão de objetos, incluindo canetas, escovas de dentes, eletrodos de monitorização cardíaca e fragmentos de vidro. Durante a internação hospitalar, foram realizadas intervenções cirúrgicas para a retirada dos corpos estranhos, além de ajustes no tratamento psiquiátrico com antipsicóticos e estabilizadores de humor. Apesar dessas medidas, o paciente persistiu com o comportamento compulsivo de ingestão, necessitando de múltiplas reinternações”, diz o texto.

Desafio significativo à prática médica

As implicações clínicas e terapêuticas são vistas como “desafiadoras à prática médica”. A reavaliação contínua do tratamento psiquiátrico, o suporte psicossocial estruturado e estratégias de contenção são essenciais para minimizar os riscos e reduzir a recorrência desse comportamento. “Conclui-se que a alotriofagia em pacientes esquizofrênicos representa um desafio significativo à prática médica, demandando protocolos integrados que combinem monitoramento clínico, intervenções farmacológicas eficazes e apoio social contínuo. Além disso, a escassez de estudos longitudinais sobre a relação entre alotriofagia e esquizofrenia reforça a necessidade de mais pesquisas voltadas ao desenvolvimento de alternativas terapêuticas e estratégias preventivas”, relata um trecho do artigo.