Na última segunda-feira, 19 de maio, o auditório Ruy Barbosa, no campus Higienópolis da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi palco da primeira palestra da temporada 2025 do Fronteiras de Pensamento, que contou com arguição do norte-americano Jonathan Haidt, considerado um dos maiores pesquisadores sobre comportamento humano e redes sociais.
Autor do livro A Geração Ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, Haidt surpreendeu o público ao apontar, com bastante ênfase, que o maior problema da geração de crianças e adolescentes que cresce conectada às redes sociais não são os problemas de saúde mental, mas sim nos danos provocados à atenção e concentração.
“Estamos com maior dificuldade de ler, de concentrar. Não é que as pessoas decidem não ler, estamos vendo um grande declínio na capacidade humana de esforço e dedicação para se concentrar”, afirmou o pesquisador, que todo o problema das redes sociais afeta a capacidade humana de pensar.
Jonathan Haidt elaborou um raciocínio a partir da maior utilização dos smartphones na sociedade, situação que iniciou desde a década de 2010 e que ele chama de A Grande Reconfiguração da Infância. De acordo com ele, esse momento marca uma nova era nas relações humanas, que passaram por uma mudança em suas configurações justamente com a introdução dos celulares conectados e das redes sociais.
O impacto disso na educação das crianças acontece em dois atos. O primeiro seria a perda de uma infância baseada em brincadeiras, e o segundo acontece quando a infância se resume ao telefone. “Temos protegido demais nossos filhos na vida real e protegido de menos na vida on-line”, disse.
Haidt então demonstrou o quanto as redes sociais criaram a geração hiperconectada, mas também, uma geração com altos índices de problemas de saúde mental. “Não é só porque os jovens se sentem mais à vontade para falar sobre o assunto, é uma tendência de aumento mesmo”. As taxas de casos de ansiedade e depressão entre adolescentes, bem como de tentativas de suicídio e automutilação, cresceram bastante, e os gráficos mostram que a elevação inicia justamente a partir do começo da era hiperconectada.
Todavia, para o palestrante, além dos problemas de saúde mental, o grande distúrbio dessa geração é a fragmentação da atenção. “As empresas conseguem atrair toda a sua atenção. Agora pegam todos os minutos da sua atenção. E eles geram os melhores algoritmos para viciar você. Eles fazem isso deliberadamente para tomar a atenção das crianças”. E se a atenção das crianças fica prejudicada, também afetam os processos de aprendizagem, de leitura, as notas na escola etc. “Se você está o tempo todo no celular, não consegue focar em um livro. Se o cérebro é treinado por TikTok, todo o resto será chatíssimo”.
O momento para isso acontecer, é extremamente inoportuno, apontou Haidt. “As pessoas estão ficando mais burras no momento em que as máquinas ficam mais inteligentes e isso não é bom”, destacou, ao lembrar da maior introdução da tecnologia do cotidiano, além da maior utilização da Inteligência Artificial (IA).
O palestrante também evidenciou que a hiperconexão afeta meninos e meninas de forma diferente. Segundo Jonathan Haidt, as meninas tendem a se comparar mais, enquanto para os meninos as redes buscam monetizar a dopamina, com processos viciosos, como pornografia e video games. “É uma forma mais violenta de afetação”, disse o pesquisador, pois o vício em dopamina resulta em problemas mais preocupantes, como as casas de apostas.
Por isso, Haidt foi cirúrgico: jovens não devem estar nas plataformas de redes sociais. “Meninos e meninas não veem valor em si mesmo. Mas se você não tem atenção, você não faz nada de útil da vida e por isso a perda da capacidade de concentração é a maior tragédia”.
Então, o que poderia ser feito? Como o futuro pode ser mudado para toda uma geração?
“Nós todos nos sentimos numa armadilha, porque temos um problema de ação coletiva. Todo mundo está passando por isso. Mas fica mais fácil se você age em grupo”, ressaltou.
Jonathan Haidt enumerou alguns passos importantes: sem smartphone até os 14 anos; sem redes sociais antes dos 16 anos; escolas sem telefones; e mais independência para crianças. Para ele, é possível usar algumas adaptações, como voltar a usar celulares antigos (que apenas realizam ligações, sem conexão com a internet) e passar algumas tarefas, supervisionadas, que permitam aos jovens circular pelo mundo real.
O palestrante também ressaltou a importância de legislações que regulem a utilização de smartphones e redes sociais, como a recente lei no Brasil que proibiu a utilização de celulares nas escolas públicas e privadas em todo o país. A legislação foi muito elogiada pelo pesquisador.
O pensador da era da hiperconexão também chamou a atenção para o cuidado com educação tecnológica nas escolas. Para ele, dar tablets para os alunos não é uma solução, mas sim um problema. “Colocar um computador na mesa, deixa as crianças com maior dificuldade para aprender. Voltar a usar papel e caneta é excelente”.
Por fim, Haidt concluiu: “Vamos voltar a dar uma infância saudável para nossas crianças”.
Estiveram presentes na palestra: o presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM), reverendo Cid Caldas; o chanceler do Mackenzie, Robinson Grangeiro; e o reitor da UPM, Marco Tullio de Castro Vasconcelos.
O Fronteiras do Pensamento, realizado pela DelosBereau, reúne pensadores influentes em ciclos de conferências para debater grandes temas da atualidade. O evento conta com apoio da Universidade Presbiteriana Mackenzie.