Acervo CHCM
A história do Mackenzie está fortemente vinculada ao desenvolvimento da cidade de São Paulo, não apenas no ponto de vista do ensino como também do desenvolvimento urbano. Esse legado foi registrado em um evento especial e no lançamento de livros.
Desde sua fundação, em 1870, o Mackenzie tem participado ativamente da construção e contribuído bastante para a capital paulista. Observar essa relação com um olhar acadêmico foi a proposta da mesa “150 anos e as cidades de São Paulo — memória e futuro”, realizada em 29 de janeiro de 2021, durante a XVII Semana de Preparação Pedagógica, no Auditório Ruy Barbosa, campus Higienópolis.
NTAI/Mackenzie
Com o público formado por docentes da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), a mediação foi do historiador e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Carlos Guilherme Serôa Mota, e a banca foi formada pelo ex-governador do Estado de São Paulo e antigo reitor da UPM, Cláudio Lembo, e pelo também professor da FAU e estudioso da história do Mackenzie, Eduardo Abrunhosa.
Uma linha do tempo foi traçada na fala dos palestrantes desde a chegada ao Brasil de George e Mary Chamberlain, passando pela fundação da Escola Americana e pela compra do terreno no bairro de Higienópolis e o início da Escola de Engenharia e do campus, período no qual os diplomas eram oferecidos pela Universidade de Nova York. Foi abordada também a criação e a expansão de vários cursos, com mais de 40 mil alunos e mais de mil professores, que compreendem aspectos como o protagonismo estudantil, o pioneirismo e a valorização de pesquisas, além das demais unidades localizadas em Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e Palmas.
“São Paulo há 150 anos era pouco mais de uma vila e hoje é uma das maiores cidades do planeta. O Mackenzie era uma pequena escola, um projeto na casa de um casal, e hoje é uma das maiores instituições de ensino do país, quiçá da América Latina”, disse Abrunhosa, confiante de que essa parceria natural pode continuar gerando novos avanços. Carlos Guilherme comentou sobre a importância que a história tem na leitura de processos que envolvem tempo e espaço e ainda definiu memória como “algo imemorial” e contínuo quando referente ao futuro. Paulistano que participou ativamente de boa parte dos 150 anos do Mackenzie, Cláudio Lembo relembrou o tempo de “alegria e felicidade” como reitor da UPM e que durante sua vida política sempre foi recebido e reconhecido como um mackenzista, e não como um membro de um partido. “Falar sobre o Mackenzie e os 150 anos é uma tarefa difícil e fácil ao mesmo tempo. O Mackenzie tem uma história complexa, que é a própria história de São Paulo e do Brasil. Nós, indiscutivelmente, somos a universidade com raízes mais paulistanas que qualquer outra”, disse Lembo.
Cláudio Lembo, Carlos Guilherme Serôa Mota e Eduardo Abrunhosa.
NTAI/Mackenzie
Parte das comemorações dos 150 anos do Mackenzie, o propósito da mesa era resgatar a memória mackenzista e criar uma mobilização interna para celebrar a data e a participação na formação de pessoas, da cidade e sociedade. “Está no DNA mackenzista o compromisso com a formação, está no DNA mackenzista o compromisso com a sociedade”, falou o professor Abrunhosa.
Assinatura nos arranha-céus
Ao longo destes 150 anos, o Mackenzie vem deixando um importante legado na cidade, em vários campos, sobretudo na arquitetura e na engenharia. Diversos antigos alunos formados pela Instituição deixaram sua marca na paisagem urbana de São Paulo. Arranha-céus conhecidos, como o Edifício Altino Arantes, o famoso “Banespa” ou Farol Santander. Segundo o professor da pós-graduação da UPM, Marcel Mendes, o Mackenzie tem uma participação intrínseca, natural, criativa e relevante na história da capital. “Não dá para falar da história de São Paulo e abstrair a contribuição dos nossos profissionais em engenharia e arquitetura, porque é realmente muito marcante”, declara.
A lista de profissionais que deixaram sua marca na paisagem paulistana é grande, como indica a professora de Arquitetura da UPM, Eunice Abascal. “A grande variedade de atuação dos arquitetos mackenzistas revela a qualidade de sua formação e o engajamento social. A grande contribuição dos arquitetos do Mackenzie foi acompanhar o cenário de desenvolvimento da cidade de São Paulo pontuando o horizonte com obras de grande qualidade”, explica.
Os projetos
Edifício Sampaio Moreira
Em 1924, o prédio localizado na rua Líbero Badaró era considerado o maior prédio da capital paulistana. Foi projetado pelo arquiteto mackenzista Cristiano Stockler das Neves, que fundou a FAU/UPM.
Farol Santander
O prédio de 161 metros de altura e 35 andares foi inaugurado em 1947 e inspirado no Empire State Building, de Nova York. O engenheiro e antigo mackenzista Plínio Botelho Amaral participou do projeto. A construção tomou forma para sediar o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) e por mais de dez anos foi considerado o maior prédio da capital paulista.
Edifício Itália
Construído em 1953 e localizado próximo à Praça da República, dispõe de uma das vistas mais bonitas da cidade. O prédio foi projetado pelo alemão e antigo professor mackenzista Adolf Franz Heep, que também foi membro do Conselho de Arquitetura da Organização das Nações Unidas (ONU) para países latino-americanos.
Mirante do Vale
Desde sua inauguração, em 1967, o prédio de 170 metros de altura e 50 andares, localizado na região do Vale do Anhangabaú, é considerado o mais alto de São Paulo. O responsável pelo projeto foi o mackenzista Waldomiro Zarzur, formado em 1947 na Escola de Engenharia UPM, em parceria com Aron Kogan, formado na mesma turma.
Outros edifícios
O Edifício Copan foi desenhado por Oscar Niemeyer, porém a execução do projeto foi feita pelo antigo aluno da UPM, Carlos Lemos; Paulo Mendes da Rocha foi responsável pelo projeto da cobertura da Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca, e do Museu da Língua Portuguesa; Pedro Paulo de Melo Saraiva foi o responsável pelo projeto do prédio 5ª Avenida, na Avenida Paulista; e, ainda, Jorge Wilheim, responsável pelo projeto de reurbanização do Vale do Anhangabaú, em 1981
Homenagem em viaduto
Muitas outras obras de engenharia levam a assinatura de mackenzistas. E uma delas acaba de receber o nome de seu projetista, Antonio Moliterno, como homenagem póstuma. O viaduto que fica sobre avenida Santo Amaro, no cruzamento com a avenida Jornalista Roberto Marinho, recebeu a denominação de Engenheiro Antonio Moliterno, por meio do Decreto n. 59.699/2020 da prefeitura de São Paulo.
Antonio Moliterno foi aluno do curso primário na Escola Americana, hoje conhecida como Colégio Presbiteriano Mackenzie São Paulo. Mais tarde, tornou-se professor universitário, lecionando na Escola de Engenharia (EE) da UPM, instituição na qual também se formou. Dentre os diversos trabalhos projetados por ele na cidade de São Paulo, está o cálculo do rebaixamento do Reservatório Elevado da Vila do Encontro, um pleito antigo da população do Jabaquara, que sofria muito com a contínua falta de abastecimento de água tratada e levou quase uma década para ser construído.
Em 23 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, a UPM e a Editora Mackenzie lançaram os três primeiros títulos que fazem parte da Coleção 150 anos de Mackenzie e a cidade de São Paulo: Direito, cidadania e políticas públicas; Indústria, comércio e economia; e Saúde, meio ambiente e cultura são os grandes eixos temáticos das obras comemorativas. A coleção trata de realizações colocadas em prática pelos diversos cursos da Universidade, resgatando a história do Mackenzie ao lado da grande metrópole brasileira, e também faz parte dos registros materiais que celebram o aniversário do Mackenzie.
Os três primeiros volumes da coleção são obras elaboradas por professores da UPM, reconhecidos nas diversas áreas do conhecimento, em comemoração aos 150 anos do Mackenzie. Cada curso, desde o surgimento da Instituição, tem adotado uma metodologia específica relacionada ao tema da educação, uma vez que cada uma dessas obras leva em consideração a relação e a participação dessas unidades na construção da cidade de São Paulo. “Creio que o lançamento de livros é algo profundo, notório, algo importante para nós. São 150 anos de contribuição que serão contados: a história de São Paulo, a história do Brasil e a história do Mackenzie”, declarou o presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), reverendo Roberto Brasileiro, que iniciou o evento com uma breve saudação.
Os livros
Felipe Chiarello de Souza Pinto.
Felipe Chiarello de Souza Pinto.
Nelson Destro Fragoso.
Paola Biselli.
Direito, cidadania e políticas públicas: organizado pelos professores da Faculdade de Direito (FDir) da UPM Ana Cláudia Silva Scalquette, Felipe Chiarello de Souza Pinto, Fernando Rister de Sousa Lima e Gianpaolo Poggio Smanio. A obra trata das questões dos direitos humanos, da busca pela igualdade, da dignidade da pessoa humana e dos impactos das transformações da sociedade ao longo do tempo.
Nelson Destro Fragoso.
Indústria, comércio e economia: organizada por Nelson Destro Fragoso e Paulo Rogério Scarano, professores do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA), a obra trata do momento em que o Mackenzie entrou na história do Brasil por meio da cidade de São Paulo.
Paola Biselli.
Saúde, meio ambiente e cultura: organizado por Berenice Carpigiani, Paola Biselli Ferreira Scheliga e Simone Freitas Fuso, professoras do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da UPM, o livro traz à luz a história da saúde na cidade de São Paulo nos últimos 150 anos, com base em uma visão multidisciplinar, que possibilita a compreensão do contexto pessoal, científico, sociocultural e político desse período.