Campus de
Higienópolis em
foto aérea de 1959
O período de apenas 40 anos é marcado por um veloz movimento de expansão das atividades e de mudanças administrativas nas unidades de ensino do Mackenzie.
Fotos: Acervo CHCM
Para a Escola Americana e o Mackenzie College, a década de 1920 começou nas novas instalações do campus Higienópolis. Havia, então, cerca de mil estudantes matriculados, somando-se os alunos das duas unidades de ensino. Em 1923, ano em que foi criado o Conselho do Mackenzie College, foi inaugurado o segundo internato feminino, denominado América de Oliveira. No ano seguinte, começou a ser erguida a Biblioteca George Alexander, que viria a ser inaugurada em 1926 e se tornaria uma referência no campus. O belo edifício de quatro andares tinha, inicialmente, a capacidade para guardar mais de 50 mil livros, mas contava, então, com sete mil volumes. A primeira diretora da nova biblioteca, Adelpha Silva Rodrigues, foi responsável pela introdução, de forma pioneira no Brasil, do sistema decimal Dewey de catalogação.
Em 1927, um fato marcante para a história do Mackenzie College deve ser registrado: a graduação das primeiras mulheres, alunas do curso de Química Industrial; as formandas diplomadas foram Hilda de Melo Teixeira, Inah de Mello Teixeira e Maria Conceição Vicente de Carvalho. Na gestão administrativa, o principal acontecimento daquele ano foi a desvinculação acadêmica da Escola de Engenharia da Universidade de Nova York, condição que existia desde a sua fundação, que estava prestes a completar 30 anos. E na estrutura do campus, a novidade foi a inauguração do ginásio de esportes, atualmente denominado Edifício Edward Horatio Weedeen.
As mulheres continuaram a se destacar no Mackenzie. Em 1929, a aluna Zilda de Almeida Sampaio obteve seu certificado de conclusão da graduação, tornando-se a primeira engenheira-arquiteta formada pela Escola de Engenharia. À frente de seu tempo, ela não parou por aí, obtendo, dez anos mais tarde, o título de engenheira civil, também inédito no Mackenzie College. Zilda é uma das provas que sempre é difícil não mencionar a palavra “pioneirismo” quando se trata da história do Mackenzie. Outro destaque do mesmo ano também deve ser citado: a criação do primeiro curso livre de Biblioteconomia do Brasil, seguindo padrões estadunidenses.
E ainda nesse viés do ineditismo, outros fatos marcariam a década de 1930, que começou sob os efeitos do crash da Bolsa de Valores de Nova York, desestabilizando a economia essencialmente cafeeira do estado de São Paulo. Isso, porém, não impediu a continuidade das mudanças urbanas na capital nem as iniciativas do Mackenzie, que, mais uma vez, se tornou o primeiro estabelecimento de ensino privado do país a implantar cursos técnicos, como os de Química e de Eletricidade, em 1932.
Além dos efeitos do recente abalo econômico, aquele ano marcou outra passagem histórica para os paulistas, a Revolução Constitucionalista, que colocou o estado em luta armada contra o governo de Getúlio Vargas. O conflito, que durou menos de três meses, deixou inúmeras vítimas. Mais uma vez, o espírito de solidariedade do Mackenzie entrou em cena. Dessa vez, o ginásio de esportes foi transformado em enfermaria para atender os feridos na batalha. Por sua vez, os dormitórios dos estudantes secundários se tornaram hospital de sangue. Cerca de quarenta alunos da Escola de Engenharia alistaram-se no Batalhão Paulista dos Voluntários da Pátria, o que traria consequências negativas para a instituição.
O edifício Edward Horatio Weeden, o ginásio de esportes, sendo utilizado como enfermaria durante a Revolução Constitucionalista. 1932
Com a derrota dos revoltosos e a continuidade de Getúlio Vargas no poder, a represália veio na forma do Decreto n. 21.519, de 13 de junho de 1932, que invalidava os diplomas a serem expedidos pela Escola de Engenharia, então dirigida por Francisco de Salles Oliveira, que até então diplomara 528 engenheiros. A batalha com o Ministério da Educação e Saúde Pública somente terminaria com um novo regimento da Escola e a assinatura do Decreto n. 2.796, de 28 de junho de 1938, que finalmente reconheceu a validade dos diplomas emitidos pela Escola de Engenharia.
Por sua vez, a Escola Americana também faria mudanças naquele período. A primeira ocorreu em 1933, com a reorganização curricular para atender às mudanças do ensino nacional. Assim, no ano seguinte, com a intenção de orientar o crescimento físico, social e mental da criança, visando prepará-la para o curso primário, a instituição criou o ciclo de ensino denominado pré-primário.
Consolidando sua tradição nos esportes, em 1935 teve início um dos mais disputados torneios da história acadêmica paulistana, a MAC-MED, que reuniu diversas modalidades esportivas disputadas pelos alunos da Escola de Engenharia Mackenzie e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Inicialmente eram sete provas: futebol, natação, atletismo, basquete, vôlei, remo e xadrez, mas aos poucos novas competições foram acrescentadas. Anos mais tarde, em 1946, surgiria outra competição do gênero, a MAC-NAV, disputada entre os alunos da Escola de Engenharia do Mackenzie e os da Escola Naval da Marinha. Coroando o final daquela década, em 1938, os diplomas da Escola de Engenharia foram revalidados pelo governo. Mais um motivo para celebrar o Dia do Mackenzie, instituído em 18 de outubro de 1936.
A Universidade
Na década de 1940, a política nacionalista do governo Vargas obrigou o Mackenzie a ter um corpo diretivo no Brasil. Desse modo, foi criada a Sociedade Civil Instituto Mackenzie, que passou a administrar a Escola Americana, o Mackenzie College e a Escola Técnica, que seria reconhecida por lei somente em 1943. Em 1945 foi criada a Escola de Educação de Adultos vinculada ao Centro Acadêmico Horace Lane, que pode ser comparada, em algum nível, ao que existe hoje como política federal, a iniciativa EJA – Escola para Jovens e Adultos, que também é oferecida pelo Mackenzie.
A maior novidade daquela década foi a criação de novos cursos superiores. Primeiro, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1946, como resultado dos já existentes cursos de Física, Matemática e Letras Neolatinas. No ano seguinte foi a vez da Faculdade de Arquitetura, em 1947, que se desvinculou da Escola de Engenharia, tornando autônoma e, também, pioneira no Brasil — anos mais tarde, em 1961, a FAU ganharia o próprio prédio, com a construção erguida no local antes ocupado pelo prédio Couto Magalhães, que sediara a Escola Normal e o internato dos alunos de Engenharia. Por fim, em 1950, surgiu a Faculdade de Ciências Econômicas, que logo depois integraria os cursos de Ciências Contábeis e Administrativas. Cabe registrar, ainda, as mudanças na estrutura administrativa com a criação, em 1949, do Conselho Deliberativo do Instituto Mackenzie.
Todo esse movimento possibilitou que, em 1952, fosse instalada a Universidade Mackenzie, oficialmente reconhecida por meio do Decreto n. 30.511, de 7 de fevereiro daquele ano, sob a direção do engenheiro Henrique Pegado. Não demorou para que nova expansão acontecesse: a Faculdade de Direito foi autorizada a funcionar por meio do Decreto n. 36.322, de 11 de outubro de 1954.
É preciso lembrar que ao longo desses anos a expansão na estrutura física do campus teve continuidade, com a inauguração de novas edificações. Em 20 de novembro de 1961, todo esse patrimônio do Mackenzie, então propriedade da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, foi doado para a Igreja Presbiteriana do Brasil. Um marco importante na história da instituição naquele novo momento do país, que em breve passaria por um período de profundas mudanças políticas.