Vinheta: Implantação 1870/1920
Residência dos Chamberlains, na década de 1870

Residência do
casal Chamberlain,
na década de 1870

Título: O surgimento do Mackenzie

Tudo começou no final do século XIX, a partir da iniciativa de uma educadora de oferecer alfabetização para crianças que não tinham acesso ao ensino.

Fotos: Acervo CHCM

Em 1870, sob a regência de D. Pedro II, o Brasil conquistara sua independência de Portugal havia quase 50 anos. Era ainda uma jovem nação, onde o acesso ao ensino formal era um privilégio para poucos. Observando esse cenário, a educadora Mary Ann Annesley Chamberlain, com apoio de seu marido, o reverendo George Whitehill Chamberlain, decidiu ensinar as primeiras letras para crianças de baixo poder aquisitivo em sua própria residência. Assim surgiu o Mackenzie.

No entanto, essa história começou bem antes, em 1859, quando o reverendo Ashbel Green Simonton chegou ao Rio de Janeiro, liderando um grupo de missionários formado no seio das Juntas das Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América. A proposta era trazer a fé da igreja reformada presbiteriana. Simonton plantou as sementes necessárias para fazer frutificar, em cerca de 20 anos, diversos templos da fé protestante nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de algumas dezenas no Recife (Pernambuco). Entre os missionários que optaram por viver em terras paulistas estavam o reverendo Alexander Blackford e sua esposa Elizabeth, que chegaram à cidade em 1863.

É nesse contexto que surge a figura de George Whitehill Chamberlain. Ordenado reverendo em 1866, ele conheceu diversas províncias brasileiras, além de ter passado uma temporada de estudos nos Estados Unidos, onde se casou com Mary Ann Annesley Chamberlain. O casal veio para o Brasil, onde acabou se fixando na cidade de São Paulo, em 1869. Formada em Pedagogia em seu país natal, Mary Ann era, por vocação, uma educadora disposta a propagar o ensino no país onde agora morava com o marido.

Retratos de George Whitehill Chamberlain e Mary Ann Annesley Chamberlain

Assim, dois anos depois, em 1870, os Chamberlain criaram uma pequena iniciativa educacional. Como se tratava de um reduzido grupo de alunos, Mary Ann os recebia na própria residência, na rua Visconde de Congonhas do Campo, no bairro do Bom Retiro. Mais do que atender crianças sem acesso ao ensino, a jovem professora inovou ao reunir no mesmo ambiente meninos e meninas, algo totalmente fora dos padrões da época. Também não havia divisão de classes sociais nem restrições à etnia ou à religião dos pequenos. Embora fossem eles mesmos presbiterianos, o casal Chamberlain desenvolveu uma proposta de ensino na qual, ainda que tivesse bases confessionais, não houvesse restrição nesse aspecto. A Bíblia teria lugar de destaque na educação, por ser uma instituição reformada presbiteriana, mas ninguém seria obrigado a se converter.

Nesse contexto, segundo o advogado, jornalista e educador Antonio de Almeida Oliveira, apenas 15% do total de crianças brasileiras frequentavam as escolas primária e secundária, tanto públicas quanto privadas. Portanto, os demais 85% cresciam sem instrução. A informação estava em seu livro O ensino público, que seria lançado em 1873. Esse dado ressalta a importância da atitude do casal Chamberlain, missionários que se envolveram com educação porque acreditavam que era a única maneira de transformar realidades e promover melhorias na vida das pessoas.

Aos poucos, a pequena instituição de ensino foi recebendo novos alunos, matriculados por pais que aprovaram aquele ambiente de ensino no qual era valorizada e praticada a cidadania, a fim de promover o desenvolvimento do ser humano nas dimensões física, moral e intelectual. Em 1871, em razão do aumento no número de alunos, a escola foi transferida para a sobreloja do sobrado onde funcionava a Igreja Presbiteriana de São Paulo, na rua Nova de São José (atual Líbero Badaró). Além disso, houve a contratação de novos professores e foi ampliada a oferta de classes na instituição, que passou a ser denominada Escola Protestante.

Em 1872, o governador da Província, João Teodoro Xavier, nomeou uma comissão de professores de outros estabelecimentos para acompanhar os primeiros exames da Escola e se confessou encantado com os métodos e os resultados da aprendizagem. No entanto, sem condições de bancar o ensino por conta própria, o casal Chamberlain decidiu que cobraria mensalidades dos alunos de famílias mais ricas, criando um fundo para conceder bolsa àqueles que não pudessem pagar. Uma ação filantrópica que seria uma das bases da instituição nos anos futuros.

O desenvolvimento e o ensino superior

Aos poucos, a cidade de São Paulo se desenvolvia, passando por diversas transformações socioeconômicas. Nesse contexto, em 1875 a Escola Protestante passou por nova expansão e adotou o nome de Escola Americana, contando pela primeira vez com uma estrutura administrativa dotada de controle de presença e currículo definido. No ano seguinte, suas instalações foram transferidas para a rua São João em dois pontos, um próximo ao largo do Paysandu e outro na rua Ipiranga. Ali foi criado o primeiro curso superior de Filosofia e a Escola Normal. Também foi implantado o internato e estruturadas as áreas de ensino, sempre seguindo os padrões estadunidenses de educação.

Sede da Escola Americana na Rua São João, em 1876

Sede da Escola Americana na Rua São João, em 1876

O curso da Escola Normal veio atender à formação de corpo docente para o nível fundamental; e o curso superior em Filosofia foi direcionado aos educadores do nível superior. Para as crianças foi criado, em 1878, o kindergarten (jardim de infância), um projeto pioneiro no Brasil, que passou a receber alunos a partir de 3 anos. No mesmo ano foi criado o departamento de cultura física, outra inciativa inovadora no país, que passou a oferecer aulas de educação física para meninos e meninas. De certo modo, essa iniciativa daria início a uma tradição nos esportes que a instituição manteria nos anos futuros. Para orgulho dos educadores, as novas instalações receberam, então, a visita do mais ilustre brasileiro: o Imperador Dom Pedro II, que foi acompanhado de sua comitiva.

Agora atendendo algumas dezenas de alunos, em 1879 o casal Chamberlain reuniu doações recebidas de diferentes beneméritos para dar um novo passo rumo ao crescimento, com a compra do terreno da chácara pertencente à dona Maria Antônia da Silva Ramos, no bairro de Higienópolis, inicialmente com área de cerca de 27,7 mil metros quadrados, ou seja, meio lote na esquina das ruas hoje denominadas Maria Antônia e Itambé.

Terreno de Higienópolis, berço do atual campus do Mackenzie

Terreno de Higienópolis, berço do atual campus do Mackenzie

As obras para abrigar a futura sede, além de edificações para o futuro internato masculino, tiveram início em 1885, período em que o médico e educador Horace Manley Lane, a convite do reverendo Chamberlain, assumiu a presidência da instituição.

Nova expansão na grade curricular aconteceu em 1886, com a criação do Curso Superior de Comércio, o primeiro do Brasil. Quatro anos mais tarde, em 1890, Horace Lane e a professora Márcia Percy Browne foram nomeados pelo governo paulista para colaborar na modernização do sistema educacional do estado. Eles visitavam as escolas do estado para apresentar os ideais pedagógicos e as técnicas utilizadas na Escola Americana.

Protestant College

Uma das principais mudanças ocorreu em 1891, quando foi implantada nova estrutura de ensino, o Protestant College, que teria o propósito de agrupar somente os cursos superiores. No ano seguinte, faleceu o advogado nova-iorquino John Theron Mackenzie, que, mesmo sem conhecer pessoalmente a instituição, doou em testamento US$ 50 mil para que fosse criada uma escola para o ensino de Engenharia. No testamento, ele pediu que o prédio recebesse seu nome. Depois de sua morte, o Protestant College passou a ser chamado de Mackenzie College pelos acadêmicos como homenagem e, assim, tornou-se precursor do que viria a ser a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em 1894 foi realizada uma solenidade para o lançamento da pedra angular do edifício John Theron Mackenzie, em homenagem ao benemérito advogado, que abrigaria a Escola de Engenharia, inaugurada em 1896, já vinculada academicamente à Universidade do Estado de Nova York. A expansão do campus Higienópolis teve continuidade: em 1901 começaram as obras do edifício George Chamberlain, um tributo a um dos fundadores da instituição.

Edifício John Theron Mackenzie, inaugurado em 1896 para abrigar a Escola de Engenharia

Edifício John Theron Mackenzie, inaugurado em 1896 para abrigar a Escola de Engenharia

Em paralelo, a prática de esportes começou a ganhar força na instituição de ensino. Ainda em 1894, o professor e reverendo Augustus Farnham Shaw veio dos Estados Unidos trazendo na bagagem uma bola de futebol e outra de basquete. Os dois esportes ainda eram novidade no país e começaram a ganhar adeptos naquele período. Tanto que, em agosto de 1898, foi fundada a Associação Athletica Mackenzie College, que incorporava o Mackenzie Foot-Ball Club e o Mackenzie Basket-Ball Club. Três anos mais tarde, o Colégio participou da criação da Liga Paulista de Foot-Ball (LPF) ao lado dos outros dois times mais antigos do país, o São Paulo-Athletic International, fundado por Charles Miller, e o Sport Club Germânia, criado pela colônia alemã em São Paulo. O time mackenzista chegou a disputar a primeira partida oficial da Liga Paulista de Futebol em 1902, em partida contra o Germânia, sagrando-se vencedor da partida por 2 a 1.

Um dos primeiros times de futebol do Mackenzie, em 1901

Um dos primeiros times de futebol do Mackenzie, em 1901

Na jovem República que era agora o Brasil, o novo governo considerava essencial a existência de escolas capazes de formar profissionais e técnicos que levassem adiante o progresso do país. Dessa forma, a Escola de Engenharia Mackenzie atendia plenamente aos objetivos de formação, atraindo alunos de diversos estados, sobretudo com a chegada do novo diretor em 1905, o inglês Alfred Cownley Slater.

Graças ao crescimento exponencial no número de alunos, o Edifício Mackenzie, onde eram ministradas as aulas de Engenharia, de Comércio e do curso de preparatórios, teve sua ocupação saturada. Em 1909, após a decisão do diretor Horace Lane, foi iniciada a construção do prédio para abrigar os laboratórios de Física e de Química. Em 1913, a nova construção passou a se chamar Edifício Horace Lane, em homenagem ao diretor falecido em outubro daquele ano.

A partir de 1913, sob direção do engenheiro William Alfred Waddell, o Mackenzie College passou por um intenso processo de expansão física e pedagógica, com a construção de novas dependências e a implantação de mais cursos. O exemplo está nas obras do internato masculino José Carlos Rodrigues, na rua Piauí, iniciadas em 1915. Nesse período, a Escola Americana passou a ser administrada pelo reverendo Mattathias Gomes dos Santos, adquirindo mais autonomia, mas ainda assim subordinada à direção central.

Retratos de William Alfred Waddell e Christiano Stockler das Neves

Ainda em 1915, o curso de Química Industrial tornou-se de nível superior ao ser anexado à Escola de Engenharia — sete anos mais tarde, essa cadeira seria substituída pelo curso de Engenheiros Químicos, com currículo mais abrangente. Outra novidade foi a implantação de um curso de Engenharia e Arquitetura, em 1917, sob coordenação do paulistano Christiano Stockler das Neves. Com a industrialização crescente na cidade de São Paulo e a necessidade de contar com profissionais capacitados, a Escola de Engenharia implantou o curso de Engenheiros Eletricistas, que se transformaria na cadeira de Engenheiros Mecânicos Eletricistas em 1918. Naquele mesmo ano, foi criado o Centro Acadêmico Horace Lane, onde os alunos de Engenharia se reuniam, e o Centro Mackenzie, para congregar ex-alunos da instituição.

Tudo isso acontecia durante um período terrível para o mundo: a pandemia de gripe espanhola, que atingiu a cidade de São Paulo em outubro de 1918. O Mackenzie College, imbuído do espírito cristão de ajuda ao próximo, disponibilizou o dormitório masculino José Carlos Rodrigues, inaugurado dois anos antes, para abrigar os estudantes do campus de Higienópolis. As instalações foram temporariamente transformadas em enfermaria para atender as vítimas da doença, que, apenas na cidade de São Paulo, apesar de os dados da época não ser totalmente assertivos, estima-se que levou mais de 5 mil pessoas a óbito.

Em 1920, com a inauguração do edifício Erasmo Braga, destinado à Escola Americana, houve a transferência definitiva de todas as operações para o campus de Higienópolis. Assim, encerra-se a fase de implantação do Mackenzie, que dará continuidade ao desenvolvimento de suas atividades educacionais na chamada fase de consolidação.

>O edifício Erasmo Braga no ano de sua inauguração, 1920

O edifício Erasmo Braga no ano de sua inauguração, 1920

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