Habitação

Arquitetura com olhar social

Iniciativas da UPM impactam positivamente a sociedade com projetos urbanos que melhoram a vida das pessoas.

Fotos: NTAI/Mackenzie

Desenvolver soluções urbanas com um olhar que valoriza espaços degradados e promove qualidade de vida para seus habitantes é o propósito que impulsiona várias iniciativas de alunos e professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Entre elas, o curso de extensão de residência em Arquitetura e Urbanismo – Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a qual realizou a solenidade de encerramento de sua primeira edição no dia 24 de novembro.

Trata-se de uma parceria entre a FAU Mackenzie e a Prefeitura Municipal de Taboão da Serra, cidade na Região Metropolitana de São Paulo. O curso promoveu a intervenção em moradias populares em um dos bairros da cidade, o Jardim Trianon. Foram selecionados em 2022 quinze arquitetos recém-formados pela faculdade, que atuaram no projeto durante seis meses, visitando casas e propondo melhorias. O programa tem o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP).

Arquitetura para todos

A arquiteta Ester Carro também oferece um bom exemplo do olhar voltado às questões sociais. A presidente da ONG Fazendinhando foi aprovada em primeiro lugar para o doutorado de Arquitetura e Urbanismo na FAU Mackenzie, com início em 2024. Ela cresceu no Jardim Colombo, na zona oeste de São Paulo, onde desenvolve projetos urbanísticos que promovem a transformação cultural e social.

Presidente da ONG Fazendinhando, Ester Carro.

Definindo seu trabalho como arquitetura nas favelas, ela conta que o Fazendinhando surgiu em 2017, fruto de uma mobilização envolvendo moradores e voluntários. Um espaço que servia apenas como depósito de lixo foi transformado em uma área verde totalmente remodelada para a comunidade. Do projeto inicial, nasceram o Fazendo Lar, em que os moradores são apoiados para reformarem as próprias casas, e o Projeto Fazendeiras, no qual as mulheres recebem capacitação para “colocar as mãos na massa”, literalmente, beneficiando suas moradias e partindo para a prestação de serviços. “Descobrimos que grande parte das habitações no Jardim Colombo é liderada por mulheres. Por meio da capacitação, elas estão transformando suas moradias em lugares mais dignos, com mais ventilação, iluminação natural, instalações elétricas adequadas e sem infiltrações”, analisa Ester.

“Estamos muito felizes por receber essa profissional com uma história incrível. É a academia promovendo impacto social”, celebra o diretor da FAU Mackenzie, Carlos Leite de Souza. Ambos são coautores em um capítulo do Guia de urbanismo social, que trata do tema “Mulheres e territórios”.

No Jardim Colombo está a menor casa de alvenaria do Brasil, com apenas 4 metros quadrados, projetada e implementada por Ester. “O tamanho é só um detalhe”, diz a arquiteta, “é nisso que acredito, uma arquitetura para todos”. A originalidade de suas ideias já foi estampada na revista Vogue New York e virou documentário.

Cátedra da Unesco

Em reconhecimento ao seu papel como instituição que promove a cidadania, a UPM recepcionou a Cátedra Unesco, da Organização das Nações Unidas (ONU). O evento ocorreu em 23 de novembro no Centro de Educação, Filosofia e Teologia (CEFT) e contou também com o Congresso de Educação Cidades que Educam, se Transformam, em parceria com o Centro Histórico e Cultural Mackenzie (CHCM) e a Chancelaria, no qual foi palestrante João Cândido Portinari, filho do artista plástico Cândido Portinari.

A Cátedra da ONU é uma iniciativa global, presente em países como Guiné-Bissau e Portugal. No Brasil, a Cátedra envolve treze instituições, incluindo agora a UPM e universidades da Bahia, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.

“O Mackenzie sempre cumpriu a missão de formar cidadãos mais bem preparados. Isso se encaixa em nossa missão, que é educar o ser humano, criado à imagem de Deus, para o exercício pleno da cidadania”, expressou o chanceler do Mackenzie, Robinson Grangeiro.

De acordo com o professor do Programa de Pós-Graduação Educação, Arte e História da Cultura, Marcelo Bueno, a Universidade tem muito a ganhar com a Cátedra. “Nossa atuação já é alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Agora temos o reconhecimento de que nossa educação transforma”.

O conferencista João Cândido Portinari tratou das interações multilaterais entre educação, cultura, arte, comportamento, sociedade, ao apresentar o Projeto Portinari. “Temos uma ponte entre arte e tecnologia que nos diferencia”, ressaltou.

João Candido Portinari, diretor-geral do Projeto Portinari e presidente da Associação Cultural Candido Portinari.

De acordo com o coordenador do CHCM e representante do Mackenzie na Cátedra, professor Eduardo Abrunhosa, “a temática da Cátedra é a cidade que educa, transforma, e não podemos nos esquecer de que a cidade é um organismo vivo, feito por pessoas”. A preocupação com o território e as cidades foi o aspecto destacado por Silvia Maria Leite, integrante da Cátedra na Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Ao fazer parte dessa rede global, o Mackenzie demonstra seu papel vital na produção de conhecimento significativo e na aplicação prática desse conhecimento para impactar positivamente a sociedade”, frisou.

Coordenador do Centro Histórico Cultural Mackenzie (CHCM) e representante do Mackenzie junto a Cátedra, professor Eduardo Abrunhosa.

Solenidade de encerramento

Além da certificação dos residentes, a solenidade marcou o lançamento do livro A habitação é central — escrito em parceria com o professor Fernando Rodrigues, do Laboratório de Habitação Básica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — que documenta os resultados do trabalho.

O pró-reitor de Extensão e Cultura da UPM, Cleverson Pereira, representou o reitor Marco Tullio de Castro Vasconcelos e celebrou a conquista da primeira jornada de residência em arquitetura, destacando o empenho dos alunos e as parcerias firmadas. Já o professor Carlos Leite, diretor da FAU, destacou que a academia deve liderar ações de impacto social para entregar melhorias à sociedade.

Para a coordenadora adjunta da Comissão de Assistência Técnica para a Apuração de Direção Social do CAU/SP, Débora Sanchez, as demandas habitacionais de São Paulo e de seu entorno foram os grandes motivadores para o apoio da entidade ao programa de extensão. “Toda iniciativa é bem-vinda, considerando que temos no país um déficit habitacional de seis milhões de residências, além das 25 milhões que são precárias”, disse Débora.

Segundo os especialistas, o modelo desenvolvido pela FAU Mackenzie para Taboão da Serra é perfeitamente replicável em outras regiões. Foi o que avaliou o secretário de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente da cidade, Nílcio Dias. “Por meio de parcerias como esta, é possível ampliar o número de famílias atendidas e expandir a atuação dos residentes”, enfatizou.

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