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Marco Tullio de Castro Vasconcelos, reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Foto: NTAI/Mackenzie
Esta instituição de educação superior é uma universidade, é comunitária, é confessional, é filantrópica e é Mackenzie!
Os cinco termos expressam dimensões pertinentes ao segmento educacional brasileiro e têm um significado próprio dos mais relevantes. Sua articulação e unidade resultam exatamente no que somos: a nossa identidade.
Uma universidade-comunitária-confessional-filantrópica (que assim se constitui por opção, com o devido amparo legal), septuagenária em 2022, traz consigo o sobrenome de John Theron Mackenzie, advogado estadunidense, que, sem nunca ter vindo ao Brasil, tornou-se seu benfeitor, por meio de doação bem generosa, no final do século XIX (acordo firmado na cidade de Nova York, em setembro de 1891), com finalidade das mais significativas: aumentar a oferta de cursos superiores em instalações próprias adequadas, ou seja, viabilizar, de fato, a organização e a implantação de um college.
Segundo o reverendo Dr. Osvaldo Henrique Hack, chanceler da Universidade de 1996 a 2003, referenciando o reverendo Boanerges Ribeiro, presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, associada vitalícia da entidade mantenedora, de 1966 a 1978, o compromisso estabelecia que o Dr. Mackenzie “pagará cinquenta mil dólares para construir-se e mobiliar-se o colégio [college]”. O prédio que abrigou a primeira Escola de Engenharia fora do escopo público do país foi inaugurado em 1895. O benemérito, falecido em 1892, não teve a oportunidade de ver nem ter ciência do resultado do projeto empreendido e seus resultados iniciais.
A criação de cursos superiores em 1886 deu origem ao Protestant College, que, a partir de 15 de dezembro de 1898, tornou-se Mackenzie College, como reconhecimento àquele que tomou parte decisiva no que poderia ser considerado, por alguns, “um sonho”.
O casal fundador, Mary Annesley e George Whitehill Chamberlain, já vislumbrava a oferta de cursos superiores desde o início, o que ficou registrado por ocasião da compra com recursos próprios, em 1874 (apenas quatro anos depois das primeiras aulas ministradas na sala de sua casa), de uma área (à esquina das atuais rua Maria Antonia com rua Itambé). O já citado reverendo Boanerges Ribeiro assim transcreve trecho do documento do reverendo Chamberlain: “No ano de 1874, comprou-se um pastinho, em subúrbio de São Paulo, e imediatamente dedicamos 4 acres [pouco mais de 16 mil m2] desse pastinho ao Senhor, para que no futuro ali houvesse um Colégio Universitário [College] com o objetivo de oferecer educação cristã de nível superior; [...] se colocou o encargo de que o terreno jamais seria desviado desse uso sagrado”.
Assim, ser Mackenzie é ter lastro, é ter uma jornada que atravessa três séculos e continua comprometida em levar a efeito a missão institucional, segundo a qual devemos “educar e cuidar [...] para o exercício pleno da cidadania”. Nesta terceira década do terceiro milênio, mantém-se como tarefa das mais complexas, mas da qual não abrimos mão, nem poderíamos. As iniciativas e os esforços de tantos que nos antecederam e que acreditaram na educação como resultado de bênção e também como abençoadora, como promotora de transformação de vidas na cidade de São Paulo, nesse estado e no país, mesmo diante de adversidades, constituem exemplos para ser lembrados, honrados e, no que possível, aprimorados com nosso pensar e agir.
Para concluir a série de cinco textos, nos quais procurei apresentar, sinteticamente, uma visão do que, de fato e de direito, constitui e expressa nossa Universidade, recorro às palavras do sr. Luiz Poças Leitão Júnior, que foi aluno da Escola Americana e formado em Contabilidade pela Escola de Comércio do Mackenzie College, também conhecido como Mr. Mackenzie, que teve muitos “netos” entre os universitários até abril de 2004, quando faleceu. Em uma entrevista, pouco antes, e já nonagenário, declarou: “Fico feliz em saber que tantas famílias tenham recorrido a essa instituição para encaminhar seus filhos na vereda da vida. O Mackenzie sempre foi uma instituição em que o progresso, a boa formação, a confiança, a educação e o melhor ensino constituíram marca registrada”. Ele é autor do bordão que intitula este texto, até hoje conhecido e repetido, com a citação de seu autor. Ele o bradava reiteradas vezes e quem com ele conviveu no campus Higienópolis atesta, unanimemente, que esta era uma manifestação de autêntico “espírito mackenzista”.
E esse “espírito mackenzista”, que nos é familiar, foi tratado pelo dr. Oswaldo Müller da Silva, então presidente da mantenedora, no artigo “... e não se consome”, de 1970. Lembrando Agostinho de Hipona, ele escreveu que “poderia dizer apenas que êsse espírito, ‘se ninguém me perguntar o que é, eu sei. Mas se depois me perguntarem, não sei mais...’”.