Estórias que contam histórias

Parte do processo de transformar vidas por meio do aprendizado requer obter conhecimentos em experiências práticas. Esta é uma das bases do Projeto Amazon Vida, mas seus objetivos são muito mais amplos — proporciona novas vivências aos estudantes do Mackenzie ao mesmo tempo que leva apoio e assistência às comunidades ribeirinhas no entorno dos rios Negro e Solimões. Em 2023, a expedição Amazon Vida Teen reuniu 25 alunos do Ensino Médio das unidades dos Colégios Presbiterianos Mackenzie de Tamboré, Palmas, Brasília, Curitiba e Castro, além de professores, capelães e assistentes de Capelania.

A expedição teve início no porto de Manaus, onde os integrantes subiram a bordo do J.J. Mesquita, que homenageia o pastor José João Mesquita da Igreja Presbiteriana de Manaus. A embarcação que tem capacidade para 44 pessoas também levou profissionais da saúde vinculados à Igreja Presbiteriana de Manaus e voluntários para prestar orientação em termos de assistência social e palestras devocionais. Equipado com acomodações confortáveis, o barco possui consultórios médicos e odontológico e toda a infraestrutura adequada para prestar atendimento a uma população de aproximadamente 200 mil pessoas, moradores das vilas de Igarapé Açu, Camará, Saracá, Vila do Corinthians e Bujaru.

No barco também estava a equipe integrada pelo coordenador de audiovisual da Superintendência de Comunicação e Marketing (SUCOM), Osmar Guerra; o diretor de fotografia Rafael Moretti; e o operador de câmera Fábio Fontes. Eles tinham como missão capturar as atividades da expedição para produzir o documentário “Estórias que contam uma história”, que pode ser visto na plataforma MackPlay. O resultado foi um filme de quase 50 minutos de duração com relatos de esperança e superação, bem como de solidariedade e acolhimento, nas paisagens exuberantes da região. “Foi uma produção meio ‘guerrilha’. Levamos poucos equipamentos mais portáteis, focando a produção de externas. Nada muito robusto, para conseguir adequar nossas necessidades de gravação à infraestrutura que nos era disponibilizada”, revela Rafael.

Sair do conforto e das comodidades de grandes centros urbanos e adentrar um ambiente onde a natureza dita as próprias regras não é uma experiência fácil. E alguns momentos vividos pelos integrantes do Amazon Vida Teen renderam suas próprias “estórias” para contar “histórias” no futuro. Rafael conta que era necessário seguir um “ritual” todos os dias: protetor solar, repelente, roupas adequadas, boné e sapatos para trilha. Mesmo seguindo todo esse protocolo de cuidados, o câmera Fabio Fontes não escapou de um ataque de micuins, a larva do carrapato que fica agrupada nas pontas das folhas. Sentindo uma coceira insuportável durante o dia, ele só se deu conta no final da jornada. Tratado com óleo de andiroba na enfermaria, ele logo se recuperou.

Perrengues à parte, Rafael também retornou com aprendizados. “Nossa expectativa era alta, mas mesmo assim muita coisa nos surpreendeu. Histórias que foram além do que a gente imaginava. Relatos muito impactantes, emocionantes e, ao mesmo tempo, que mostram a fragilidade daquele povo, a dificuldade de recursos. Fomos recebidos de braços abertos, percebemos um agradecimento profundo nos olhares, nas palavras e nos gestos das pessoas das comunidades”.

Para a então estudante do colégio de São Paulo, Rebeca Ribeiro Lamana Silva, agora aluna de graduação do Mackenzie, o Amazon Vida Teen era uma experiência aguardada. A jovem sempre participa de projetos vinculados à Capelania e tomou conhecimento deste em um dos cultos. “Meu coração ardeu só de imaginar em levar o amor de Jesus àquelas pessoas que vivem nessa região, de poder cantar, tocar para elas, contar histórias, orar e, quando percebi, já estava fazendo minha inscrição para participar desse importante projeto”.

A estudante afirma que a experiência foi emocionante em muitos sentidos: os pontos turísticos de Manaus, a oportunidade de conhecer a cultura local e de conhecer a Igreja Presbiteriana de Manaus, a maior do Brasil. “Participei do Dia Nacional dos Adolescentes, conheci uma tribo indígena, nadei com boto, vi o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, mas a parte mais importante foi conhecer e servir diariamente cada comunidade ribeirinha”, declara.

Novas realidades, outros aprendizados

O chanceler do Mackenzie, Robinson Grangeiro Monteiro, explica que o principal objetivo do Amazon Vida é oferecer uma oportunidade de amadurecimento acadêmico-profissional aos estudantes, tanto da Educação Básica como do Ensino Superior. “Esse último segmento educacional está envolvido nas iniciativas extensionistas; e para os estudantes dos colégios é parte da formação do projeto de vida. O desenvolvimento desses estudantes envolve inclusive experiências de serviço ao próximo, sob a supervisão dos capelães e assistentes de Capelania, que integram as ações da responsabilidade social e das respectivas coordenações pedagógicas”.

O Projeto Amazon Vida é desenvolvido pelo Serviço Estudantil de Responsabilidade Social (Ser Social), um programa de intercâmbio socioeducacional que cria pontes entre a comunidade mackenzista e instituições sociais para o desenvolvimento de comunidades das diversas regiões brasileiras, visando à transformação social por meio de ações humanitárias.

O reverendo Joer Batista, gerente de Responsabilidade Social e Filantropia do Mackenzie, explica que o programa Ser Social também visa desenvolver os alunos e proporcionar a eles uma experiência de vida que pode ser multiplicada em suas carreiras profissionais, tornando o voluntariado uma escolha pessoal, e não uma participação eventual em programas institucionais. “É difícil mensurar a importância do Projeto em razão da multiplicidade de resultados e implicações para públicos diversos. Sempre consideramos que a ida de alunos, tanto da Educação Básica como do Ensino Superior, permite cooperar com o desenvolvimento social da região. Não apenas levar a assistência, indubitavelmente necessária, mas também o desenvolvimento social, com o objetivo de contribuir para a autonomia socioeconômica e a independência dessas comunidades. Ao mesmo tempo que mitigamos os problemas sociais vividos por eles, apontamos oportunidades de se desenvolverem”, aponta.

O chanceler do Mackenzie reforça: “Antes de tudo, como instituição confessional, a mensagem é de amor e serviço ao próximo, sobretudo aqueles mais carentes. Fazer o bem comum é privilégio e dever ético de todo cidadão, mas as motivações que nos levam a fazer o Amazon Vida são distintas. O que nos move é a gratidão e o amor a Deus e ao próximo. Além das competências técnicas e socioemocionais, o Mackenzie ensina na prática, com projetos como este, que fazer o bem é a melhor forma de agradecer e amar”.

Rafael observa que esse tipo de iniciativa é muito importante para as instituições de ensino que têm uma proposta de cunho social. “Eu acredito que é um projeto que oferece um retorno para sociedade, principalmente por se dirigir às pessoas menos favorecidas. É algo que deveria estar no escopo das instituições, independentemente de seu core business ou de seus valores e visões. Porque as pessoas precisam não só da ajuda do governo mas também da ajuda da iniciativa privada para se restabelecer e para ter um mínimo de dignidade na sociedade em que vivemos”, resume.

Para os estudantes, vale também a experiência de “sair da bolha” onde vivem e entender melhor o tamanho do Brasil. “Pudemos dar todo o nosso tempo em ouvir as pessoas das comunidades, suas necessidades, histórias, expectativas e sonhos. Além de oferecer assistência de saúde e cuidados pessoais, alimentação, lazer e, principalmente, falar da Palavra de Deus, trazendo esperança à vida daquelas pessoas. Ter vivido essa experiência deixou em mim um desejo ainda maior de servir a Cristo e ser um instrumento dEle onde quer que eu esteja. Meu desejo e oração é viver muitas outras expedições como essa”, declara Rebeca, emocionada.

Segundo o reverendo Joer, está nos planos realizar o Sertão Vida, levando essa experiência para o Sertão do Cariri. “Assim como temos demanda para replicar tais eventos no Pantanal e no Litoral paulista. Fica aqui nosso convite para quem deseja viver a experiência de um ‘turismo social’, onde você doa parte de suas férias para realizar um trabalho de responsabilidade social e voluntariado”, finaliza.