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A plasmaférese, aplicada em casos de doenças autoimunes, vem sendo usada no HUEM com sucesso.
Fotos: NTAI/Mackenzie
Dados da coordenadoria do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde revelam que, entre janeiro e setembro de 2023, foram realizados 6.766 transplantes de todos os tipos no país, o resultado mais expressivo dos últimos dez anos. Houve também um aumento de 17% no número de doadores, em comparação ao ano anterior. O rim é o órgão mais transplantado, com 66,72% do total de procedimentos realizados. Contudo, assim como nos demais casos, ainda é preciso lidar com a possível rejeição dos órgãos.
Para superar esse desafio, o Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM) vem ampliando o uso da plasmaférese, técnica inovadora que reduz o índice de rejeição a rins transplantados. Além disso, o procedimento pode ajudar a reverter o quadro de pacientes que são considerados intransplantáveis. “Alguns pacientes, que chamamos de hipersensibilizados, apresentam taxas elevadas de anticorpos contra o órgão do doador, porque o organismo entende que é um corpo estranho que pode representar alguma ameaça, então aumenta a produção de anticorpos para combater a suposta ameaça. São casos com alto risco de rejeição”, explica a nefrologista Carolina Pozzi, responsável pelo Serviço de Transplante Renal do HUEM.
No HUEM, cerca de 30% dos pacientes em lista de espera são hipersensibilizados. Isso implica menor chance de transplante renal, ou seja, o tempo em lista de espera aumenta. Sabendo que a mortalidade em lista de espera chega a 9% em um ano, esse tratamento aumenta a expectativa de vida e a sobrevida do enxerto renal.
A técnica
Aplicada pelo HUEM com sucesso e resultados notáveis nos transplantes de rim, a plasmaférese é, em geral, utilizada no combate a doenças autoimunes. A técnica é realizada por uma avançada máquina que remove o plasma sanguíneo do paciente. Isso resulta na eliminação dos anticorpos do sangue, facilitando a aceitação do órgão transplantado.
Instituto Butantan
Os especialistas, porém, explicam que não é qualquer paciente que pode passar pelo procedimento. São feitos diversos exames para analisar a reatividade quanto aos anticorpos e, depois de um completo estudo imunológico, aqueles que se enquadrarem em características específicas são encaminhados para a plasmaférese. “O médico identifica que aquele paciente, que já está na fila de espera, seria elegível e poderia ser submetido ao transplante se tivesse a tecnologia disponível. Então, a equipe médica avalia as possibilidades e pode chegar à conclusão de que a plasmaférese seria benéfica para o paciente”, destaca o diretor-geral do HUEM, dr. Tiago Tormen.
Pacientes SUS
O HUEM destaca-se não apenas pela tecnologia de ponta disponível mas também pela dedicação de uma equipe multidisciplinar comprometida ao máximo com o bem-estar dos pacientes. As equipes de Clínica Médica, Nefrologia e Hematologia trabalharam em conjunto para tornar a plasmaférese uma realidade transformadora no cenário dos transplantes renais. Cada inovação pode significar uma nova chance de vida, por isso o HUEM está sempre em busca por soluções que ofereçam esperança e oportunidades renovadas a todos que necessitam de cuidados médicos.
Atualmente, de acordo com o Ministério da Saúde, mais de 60 mil pessoas no Brasil aguardam por um órgão para transplante. Dessas, mais de 37 mil aguardam um transplante de rim. Ciente disso, embora a plasmaférese não seja uma técnica coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o HUEM optou por oferecê-la aos pacientes do SUS com o intuito de salvar mais vidas e fazer andar a fila de espera por transplantes.
Um caso de sucesso
Paciente renal crônica há mais de 10 anos, Karol Dias Ribeiro, 35 anos, foi uma das beneficiadas pelo tratamento oferecido pelo HUEM. “O paciente renal crônico tem muitas limitações com alimentação e ingestão de líquido, eu não podia beber água à vontade, a hemodiálise mexe com a estrutura do corpo, o desempenho profissional fica comprometido, entre outros problemas”, explica a paciente.
Em 2014, Karol passou por um transplante, mas infelizmente o órgão foi rejeitado alguns anos depois. Em consequência, a taxa de anticorpos ficou muito elevada, impossibilitando nova cirurgia. Foi então que, há pouco mais de um ano, seu caso foi avaliado pela dra. Carolina, que sugeriu a plasmaférese.
Depois do novo transplante, agora com sessões de plasmaférese, o procedimento foi um sucesso. “Recuperei minha qualidade de vida, estou voltando a estudar, trabalhar, tenho me alimentado bem, faço atividade física. Mudou minha vida. Voltei a ser capaz de realizar várias coisas que não conseguia”, ressalta Karol.