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Laboratório BigMAAp, da UPM, une tecnologia e logística em busca de eficiência, rapidez e redução de custos.
Fotos: NTAI/Mackenzie
A inteligência artificial possui inúmeras aplicações. Entre elas, resolver rapidamente problemas que ocupariam um ser humano por muitas e muitas horas, com alta possibilidade de incorrer no erro. Um exemplo: imagine que você trabalha em uma empresa de entregas, com milhares de encomendas saindo todos os dias e uma frota de dezenas ou centenas de carros e caminhões. Como calcular os custos dos veículos, levando em consideração a duração de cada deslocamento e a distância entre os pontos da viagem? Em qual região entregar primeiro, qual caminho escolher entre os vários possíveis na cidade? Nesse caso, é certo que um algoritmo faria o trabalho de planejamento de entregas de forma mais rápida, oferecendo resultados eficientes. Segundo o professor Arnaldo Vallim, do Programa de Pós-graduação em Computação Aplicada, da Faculdade de Computação e Informática.(FCI), da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), foram demandas desse tipo que levaram à união entre logística e tecnologia. Big Data, algoritmos e inteligência artificial são ferramentas valiosas para levar algo de um ponto a outro, no tempo exato e com baixo custo.
Vallim é um dos coordenadores do BigMAAp, laboratório vinculado à FCI, no campus Higienópolis. O núcleo dedica-se a duas grandes linhas de pesquisa: Big Data e métodos analíticos. Na primeira, são tratados problemas como coleta de dados, arquiteturas para Big Data e processamento analítico com uso de inteligência artificial, redes neurais artificiais, mineração de dados, deep learning e áreas afins. Na outra linha, estão as pesquisas que contemplam temas como otimização, meta-heurísticas e modelagem de processos. É um mundo de possibilidades, e a logística é uma das áreas contempladas pelos estudos do grupo. O professor Vallim contou à Revista Mackenzie quais estudos têm sido conduzidos pelo núcleo e de que forma esse conhecimento impacta os serviços logísticos.
Tecnologia eficiente
Vallim estuda a otimização da logística pela tecnologia desde o final da década de 1980. São mais de 30 anos de pesquisa. Nessa trajetória, o professor testemunhou uma verdadeira transformação do setor. “A evolução que temos visto é o uso cada vez mais intenso desses recursos. No passado, a logística brasileira usava pouca tecnologia. À medida que chegaram empresas internacionais, passamos para outro patamar, e o que temos visto é o uso cada vez mais intenso de tecnologia, com otimização, inteligência artificial. Hoje, o mercado dá bastante ênfase a esse aspecto”, avalia o professor da FCI.
Métodos computacionais avançados — aí incluem-se a inteligência artificial e a análise de dados — automatizam e otimizam processos logísticos. Eles também fornecem insumos importantes para a tomada de decisões nas empresas, pois as informações sobre as operações passadas tornam-se dados, que apontam onde estão os gargalos do negócio e no que ele pode melhorar. Gerenciamento de estoque, entregas, previsão de demanda, monitoramento de rotas, veículos e funcionários: todos esses aspectos são passíveis de serem trabalhados com o auxílio da tecnologia.
Do macro ao micro
A logística é feita de grandes e pequenas demandas, com diferentes soluções. É importante dizer que todas elas são apoiadas pela tecnologia. As pesquisas coordenadas pelo professor Valim, de desenvolvimento de algoritmos e uso de inteligência artificial, concentram-se nas questões macro. Um exemplo é o estudo da localização de centros de distribuição logística. “Esse tipo de solução serve para localizar tudo, desde indústrias e armazéns até Unidades Básicas de Saúde (UBS), que também é um trabalho que já fizemos. Isso porque trata-se, no fundo, do mesmo tipo de problema: atender as necessidades de determinada região por meio de sua divisão por diferentes instalações”, explica.
Outra demanda trabalhada é a montagem de rotas para entregas, chamada de roteirização. “Imagine uma transportadora que faz cinco mil entregas por dia em lugares diferentes e que a cada dia precisa montar rotas específicas para cada um de seus veículos. Imagine quantas possibilidades diferentes existem para montar essa rota — são milhões”, observa o pesquisador. Modelos matemáticos e inteligência artificial são capazes de encontrar as melhores rotas e rodar o mínimo possível com cada veículo. Graças a isso, há economia de combustível e de custos com desgaste de pneu e manutenção, por exemplo, além da redução na emissão de gases poluentes. Os estoques também podem ser manejados com o uso da informática, graças a softwares que apontam os níveis necessários de cada produto com vistas à redução de custos e desperdício.
Dependendo do setor e do serviço prestado, há ainda mais variáveis logísticas passíveis de solução com o uso de tecnologia. Existem problemas como o destinatário atender ou não o entregador, locais em que determinados tipos de veículo não entram ou a exigência de transporte específico, como no caso de medicamentos e congelados. “São milhões de condições para cumprir, e apenas a tecnologia consegue atendê-las com eficiência. Sem uma modelagem matemática, a empresa fica longe da melhor solução e gasta muito mais do que precisaria”, alerta o especialista.