Tecnologia no Ensino

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Mundo digital e sala de aula:
possibilidades e desafios no ar

Professor é guardião do processo de ensino e aprendizagem e precisa do apoio da escola no enfrentamento dos desafios do digital; planejamento e recursos são essenciais.

O estudante de 2023 não é igual ao de décadas atrás. Nos últimos anos, a tecnologia avançou e novas ferramentas e gadgets digitais transformaram a forma com que buscamos e consumimos informação. Essa realidade pode ser nova para muitos, mas não para os mais jovens. A geração Z, nascida entre o final da década de 1990 e os anos 2010, é nativa digital. Eles vivem desde sempre no mundo da internet em alta velocidade, nas redes sociais e nos smartphones. Ainda assim, eles testemunharam o surgimento de aplicativos como TikTok e de outros recursos que revolucionaram a comunicação — e logo tornaram-se usuários ativos. Acostumada ao tempo e às dinâmicas próprios do mundo digital, essa geração tem desafiado o ambiente escolar a mudar também.

“A crescente adoção de tecnologia por estudantes está gerando uma série de efeitos na rotina dos educadores, abrangendo múltiplos aspectos como a dinâmica da instrução, a comunicação em sala de aula e até mesmo o contexto educativo em si”, afirma Danubia Vieira, docente de Matemática e suas Tecnologias no Colégio Presbiteriano Mackenzie de Palmas, no Tocantins. De acordo com a professora, o mundo digital tem introduzido uma variada gama de desafios à sala de aula. Como planejar uma aula para essa nova geração? É possível concorrer com vídeos que se propõe a ensinar um assunto em apenas um minuto?

Danubia Vieira, professora de Matemática e suas Tecnologias no Colégio Presbiteriano Mackenzie de Palmas

NTAI/Mackenzie

Os desafios são diversos, mas as oportunidades também existem; a tecnologia pode ser uma aliada. “A intersecção entre sala de aula e mundo digital está dada e demanda flexibilidade, capacidade de adaptação e aprimoramento por parte do professor”, diz a Danubia. A escola e as famílias também integram essa força-tarefa.

Atenção dispersa

Crianças e adolescentes querem aulas atraentes e interativas. Mais do que nunca, a dinâmica de ensino e aprendizagem precisa reter a atenção de alunos que se distraem com mais facilidade do que antes e envolvê-los no processo de maneira ativa. O período pandêmico intensificou o uso do celular pelos jovens e tornou mais tênue a fronteira entre o mundo digital e a sala de aula. Segundo Danubia, observa-se uma simultaneidade entre as atividades educacionais e digitais. Na aula, um aluno pode assistir à exposição do professor e sacar o celular para verificar a notificação de uma nova mensagem e respondê-la; em seguida, ele verifica outra notificação de um novo “like” e busca no Google uma resposta para algo que o professor está explicando. Tudo é simultâneo e conectado. “É muito perceptível nos intervalos entre uma aula e outra a extrema necessidade de abrir um aplicativo e ver um vídeo rápido, que muitas vezes não passa de sete segundos, mas já se torna desinteressante”, diz.

É assim que aula e internet dividem a atenção dos jovens. Para cumprir sua missão, a escola mais do que nunca precisa envolver os alunos na aula e colocá-los como sujeitos ativos do processo de aprendizagem. O incentivo à participação e o despertar da curiosidade estão na linha de frente dessa estratégia de ensino. A professora Danubia chama esse modelo de aula interativa. “Uma aula interativa é aquela na qual os alunos demonstram um interesse ativo em participar, independentemente do uso de tecnologia”, define.

Aulas singulares

Uma aula interativa começa pelo diagnóstico do professor a respeito de cada turma. É ele quem pode discernir o que cada classe necessita, cruzando fatores como o conteúdo a ser ministrado, o perfil dos alunos, os recursos tecnológicos disponíveis e as metodologias de ensino aplicáveis. “O diagnóstico desse engajamento é percebido visualmente por meio da experiência em sala e da dinâmica que se estabelece durante a apresentação do conteúdo. Compreender a audiência é uma etapa crucial desse processo, permitindo a formulação de estratégias alinhadas com a perspectiva coletiva e promovendo uma abordagem mais eficaz”, orienta Danubia.

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O planejamento de uma aula interativa requer atenção especial. “O objetivo é o enriquecimento do conteúdo a ser ensinado, permitindo a avaliação simultânea das teorias aplicadas”, diz a docente. Recursos tecnológicos são válidos e devem ser utilizados, assim como a permeabilidade entre sala de aula e mundo digital. Mas isso não garante, por si só, uma aula cativante. Afinal, estar na internet não poupa os jovens do tédio e do cansaço mental. “Precisamos de uma visão abrangente do processo. Nesse contexto, uma sequência cronológica precisa ser delineada, orientando o professor, que é o guardião do processo educativo, a apresentar o conteúdo de maneira eficaz, acrescentando dimensões que criem um valor singular para aquela informação”, reforça Danubia. No mundo da informação massificada e superficial, aquilo que é singular fica em destaque.

Por isso, o professor não pode deixar de lado as boas e velhas habilidades da sala de aula, como o entusiasmo e a transmissão desse sentimento. “A maneira como o docente se apresenta diante de seus alunos também desempenha um papel de destaque”, acredita Danubia. O educador que compreende os conteúdos e domina ferramentas educativas transmite maior confiança, entusiasmo e dedicação. O comprometimento dos alunos também é um reflexo dessa postura.

Uma tarefa para todos

A escola, os familiares e os próprios alunos também são atores dessa nova educação, e cada um tem um papel em seu aprimoramento. À instituição de ensino, por exemplo, cabe oferecer suporte aos docentes e reconhecer seus esforços. “Valorizar o profissional que se empenha em sala de aula é essencial para o fortalecimento e o aprimoramento do sistema educacional. Além de proporcionar um ambiente propício para o aprendizado, é fundamental reconhecer o esforço e a dedicação dos educadores. A escola cumpre seu papel na medida em que proporciona um ambiente estimulante do ponto de vista do crescimento profissional e que reconhece a importância do educador na sociedade”, pontua a diretora do Colégio de Palmas, Adriana Regina de Lima Dantas.

A oferta de cursos de capacitação contínua se apresenta como uma ferramenta primordial, pois permite que os professores estejam sempre atualizados com as melhores práticas pedagógicas e abordagens inovadoras. Ao investir em tecnologias educacionais, como tablets e acesso à internet, as escolas proporcionam recursos adicionais ao enriquecimento do processo de ensino-aprendizagem, dando abertura à exploração de recursos multimídia e de uma aprendizagem mais interativa e envolvente. Profissionais de suporte técnico e pedagógico também atuam no processo, na medida em que garantem o acesso e uma integração eficaz das tecnologias e outros métodos aplicados na sala de aula.

E há, por fim, as famílias. Elas entram na dinâmica para compreender e se engajar na proposta educacional e oferecer feedbacks. “O sucesso do processo educacional está relacionado a fatores como o envolvimento dos pais no processo educativo”, diz Danubia. As famílias devem incentivar a curiosidade dos estudantes e, sempre que possível, participar de atividades escolares. Elas também contribuem quando oferecem feedbacks construtivos à escola e incentivam a autonomia dos jovens, além de lhes dar apoio emocional. “A jornada pedagógica fica mais rica e envolvente quando há o envolvimento das partes. E há espaço para aprimorar esse processo. Para isso, é essencial que a escola, os professores e os pais compreendam claramente seus papéis”, diz a professora.

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