2009 - Pamella Kahn, Arquitetura/ Liechtenstein


Sou Pamella Kahn, e vim estudar em Hochschule Liechtenstein, em Vaduz, capital de Liechtenstein.

O país é bem pequeno, com 11 vilas, vida bucólica e tranquila. A paisagem é linda com montanhas ao redor, muita natureza e ótima qualidade de vida. Tudo organizado, limpo, que até parece cidade de brinquedo! É um principado, há um príncipe que mora no castelo (não visitável, apenas no feriado nacional - 15 de agosto), mas é democrático com parlamento eleito por voto eleitoral.

Escolhi vir estudar um ano aqui devido ao programa de Master oferecido em inglês e com foco em sustentabilidade. Há outras duas áreas: teoria e urbanismo sustentável. A localização do país no centro da Europa também é uma facilidade, perto de cidades importantes como Zurique, Munique e Milão, e conta com uma arquitetura interessante ao redor, principalmente em madeira, o que estudei muito por aqui.

O foco em sustentabilidade atrai pessoas do mundo todo. O programa Master é bem internacional, ao contrário do Bachelor que é dado em alemão, e é mais para as pessoas da região. Por a faculdade ser pequena, tem apenas áreas de arquitetura e business, e se tem uma relação bem próxima com os outros alunos, professores e até diretor (fala um pouco de português). Ela tem ótima infra-estrutura, está aberta 24h por dia, todos os dias (basta você ter a chave), consta com plotagem, materiais e máquinas para maquete, cortador a laser (bom para fazer terrenos e fachadas), entre outros.

Antes de vir para cá teve o processo da COI em que fui bem atendida, me ajudaram no que foi preciso, ainda mais porque eu fui a primeira a vir estudar aqui em Liechtenstein, então era tudo novo para mim, assim como para eles. Mas não houve complicações. Precisei ir ao consulado da Suíça na Avenida Paulista para pegar um visto de entrada (bom ir assim que receber a carta de aceitação da faculdade, esta demora um pouco para chegar, enquanto isso deixar todos os documentos prontos; ex: fazer a tradução juramentada; porque o visto demora para ficar pronto), e depois em Liechtenstein recebi um cartão de permissão de residência. E o visto para Schengen pode ser conseguido na fronteira entre Liechtenstein e Áustria depois dos três primeiros meses em que não precisamos de visto para estar na Europa.

Hochschule Liechtenstein tem um departamento internacional com pessoas bem atenciosas e consta com muitos alunos estrangeiros. Antes das aulas começarem há uma semana de boas vindas para integração com os outros alunos estrangeiros para conhecer o país, a cultura, o idioma. Há passeios, gincanas, jantar internacional em que cada um faz uma comida de seu país, aulas de alemão, etc.

Como dito estou cursando Master on Sustainable Design. Faço todas as matérias da área: projeto, duas mais técnicas e a integração delas em que tudo tem que ser aplicado no projeto. E normalmente os outros alunos fazem mais três matérias, optativas das outras duas áreas. Aqui é semestral. No meu primeiro semestre fiz só uma optativa mais alemão. Agora estou fazendo duas mais alemão. Há também aulas de inglês e espanhol. Dependendo da matéria há trabalhos em grupo para entregar, assim como apresentações ou trabalhos individuais. O sistema de notas é diferente, vai de 1 a 6, e para passar tem que atingir 4. Acho que no geral a faculdade é puxada. Não se tem normalmente todos os horários preenchidos com aulas, mas cada matéria exige muita coisa para se fazer, normalmente sempre tem algo de uma aula para outra. Então o tempo que se passa estudando e trabalhando fora da sala de aula é grande.

Para os alunos de arquitetura a faculdade é como nossa segunda casa. O sistema de estudos aqui também é diferente com o tratado de Bolonha: três anos de Bachelor e depois dois de Master. O Master é como uma pós graduação porque tem foco em uma área. Na área de sustentabilidade há muitos cálculos, termos técnicos, os edifícios têm que ser Minergie-P (selo parecido com o LEED americano), e o nível do projeto vai até o executivo; há muita importância nos detalhes construtivos, nos materiais, assim como na construção. Adoram usos de maquetes para ver como a estrutura funciona e se o prédio pode ser mesmo real, não apenas representações gráficas, linhas no computador e em papéis. Há grande importância na prática da arquitetura, não só na teoria, assim como em sua opinião, e as aulas não são só para ouvir, pois debatemos muito sobre tudo.

Liechtenstein é como se fosse Suíça. Os professores normalmente dão aula em faculdades de lá, como a famosa ETH em Zurique, e usamos os sistemas de representações suíços, a precisão tem que ser suíça também. Apesar desse lado, aqui abriram meus olhos para algo em que não tive no Brasil: nas emoções da arquitetura. Nos fazem pensar no que queremos passar com ela, no que as pessoas sentirão ao estar diante dela e a fazer o que gostamos, colocando nossa personalidade no projeto, para ser algo nosso, com identidade. Aprendi muito sobre materiais, estrutura, construção, aplicação de energias renováveis como painéis fotovoltaicos, ventilação mecânica, aquecimento, isolação, entre outros.

Apesar do grau de dificuldade da faculdade a experiência aqui não é só de arquitetura. Tive tantas experiências desde culturais a de viver sozinha. Pude viajar muito! E me apaixonei pelo país! Para quem ama o agito de São Paulo não o encontrará aqui. O estilo de vida é outro, bom também. Eu consegui me adaptar fácil à minha nova vida. Sinto falta de coisas do Brasil, mas há aqui também particularidades em que não há lá, então resta aproveitar o pouco tempo aqui, porque o tempo passa rápido!

Para aqueles que praticam esportes, o inverno é a época de esquiar, praticar snowboard e sledging. Há uma estação de esqui no país boa para iniciantes, mas há muitos resorts bons e famosos na região. Primavera, verão e outono é a época de trilhas nas montanhas, escalada, paragliding, nadar, correr ao longo do rio e andar de bicicleta.

O país fala alemão, há dialetos, mas sabem o Hochdeutsch (alemão puro). O idioma também é diferente na Suíça, Áustria e sul da Alemanha, então é complicado aprendê-lo apenas por estar aqui, assim como na faculdade apenas o inglês é suficiente, e sabendo palavras básicas de alemão dá para se virar no dia-a-dia. Eu vim para cá sabendo bem pouco de alemão e tenho tido aulas na faculdade.

No semestre de inverno há uma semana de projeto compacto em janeiro. Há uns oito temas e você pode escolher um, não são diretamente relacionados com arquitetura, mas com arte, comunicação e mídia. Já no de verão há uma semana de excursão em maio junto com seu grupo de projeto. Há sempre palestras de arquitetos vindos de fora (quatro por semestre).

Quanto à residência, no meu primeiro semestre morei na antiga. Nesse semestre construíram uma nova, ao lado da faculdade, e estou morando nela. São dois prédios, cada um com três andares. Em cada andar há nove quartos, alguns individuais (CHF560) e outros duplos (CHF350), sendo no total doze pessoas por andar. Há uma cozinha com mesas, cadeiras, sofá e televisão; lavanderia e três banheiros. Os quartos têm mesmo tamanho. São grandes para uma pessoa, mas talvez pequenos para duas. A vida em comunidade é bem legal, com muita troca cultural (há gente do mundo todo). Sempre arranjamos atividades como viagens, passeios, churrascos.

Quanto ao custo de vida se tem o dormitório, transporte (ônibus CHF45 por ano, muito bom, vai até cidades na Suiça e Áustria), comida (algumas coisas caras no país, como carne, mas podem ser compradas mais em conta na Áustria), celular (se quiser), lavar roupas (paga-se pela energia usada, mais ou menos CHF1 por lavagem), materiais de maquete e impressão na faculdade. Depois depende do quanto se planeja viajar, etc. No site da faculdade consta uma média de CHF1500 por mês, o que acho que pode ser reduzido sem problemas, talvez até uns CHF1000. Mas no geral, Liechtenstein assim como Suíça é famoso pelo alto custo de vida.

Em relação ao clima, no inverno neva em Vaduz, mas não é um inverno tão rígido. Nas montanhas é diferente. Nas outras épocas depende. Há dias com muitas nuvens devido a ser uma região entre montanhas, mas o sol aparece com frequência, há dias lindos e uma natureza muito presente. Há muitos campos, plantações, viniculturas e pastagens entre as casas. Cidade e campo juntos. O verão ainda não chegou, mas peguei dias quentes quando cheguei aqui, até outubro, depois quando a primavera começou nesse ano. Mas no geral é meio imprevisível. A última neve foi começo de abril e a primeira, começo de dezembro.

Tive muitas experiências legais por aqui, como ser entrevistada pela rádio do país, participar de um campeonato de sledging e esquiar pela primeira vez. Conheci pessoas do mundo todo, já tive oportunidade de visitar umas que conheci no semestre passado. Normalmente brasileiros se encontram em qualquer lugar, mas aqui não se tem quase. Na faculdade sou só eu. Mas no país em si tem muitos portugueses vivendo.

Estou adorando toda essa minha vivência, espero ter sido clara ao relatar como é a vida por aqui e querendo saber mais, responderei com maior prazer!

Pamella Kahn. E-mail: pamellak21@hotmail.com

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