Palavra do chanceler

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Título: As coisas simples
Título: As coisas simples
Elemento decorativo

Robinson Grangeiro Monteiro

Robinson Grangeiro Monteiro, chanceler do Mackenzie.

Foto: NTAI/Mackenzie

Ao final dos anos 1950, a minimal art passou a priorizar formas simples e geométricas propostas por Sol LeWitt (1928–2007), Frank Stella (1936), Donald Judd (1928–1994) e Robert Smithson (1938–1973). Da arte para outras áreas, começou a surgir uma reflexão mais filosófica sobre o próprio estilo de vida mais simples.

Atualmente, simplicidade e minimalismo são conceitos cada vez mais discutidos em diversas áreas de conhecimento, que apontam para a ideia de reduzir o consumismo e a própria complexidade na vida.

Todavia, a ideia de simplicidade para a realização pessoal pode ser facilmente confundida com reducionismo, conformismo e mediocridade. Esse equívoco tem a ver com a ideia prevalente na sociedade de que “mais é melhor”, assim como o erro de outros em equiparar simplicidade com “coisas que se tem” e com “o que se faz”.

Contudo, simplicidade é atitude de vida, que brota de uma reflexão contínua sobre a própria existência à luz da experiência de que é mais feliz quem decide ser mais simples, de dentro para fora.

Até mesmo na espiritualidade e nas expressões de religiosidade, reduzir o que se crê, bem como os princípios e valores decorrentes dessa crença, ao que é essencial tem se tornado uma busca de muitos. Essa é uma atitude crescente de se contrapor a uma fragmentação institucional das religiões e a uma crescente complexidade de crenças específicas, que tentam identificar os grupos religiosos e distinguir os sistemas de crenças com inúmeros e intermináveis detalhes.

Nesse sentido, por exemplo, a ideia de um “Cristianismo Puro e Simples”, que inclusive é título em português do livro Mere Christianity, de C.S. Lewis, autor também de As Crônicas de Nárnia e outros clássicos, parece ir na direção da simplicidade da fé, sem ser reducionista.

No livro, Lewis se propõe a explicar a fé cristã de forma simples e clara, apresentando os principais elementos da cosmovisão cristã. Originalmente uma série de palestras pelo rádio produzida pela BBC durante a Segunda Guerra Mundial, o livro é realmente de tal simplicidade, mas que, ao mesmo tempo, está longe de ser simplório. Por exemplo, o autor relembra o seu passado de ateu: “Meu argumento contra Deus era o de que o universo parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirara essa ideia de justo e injusto?”.

Em outra parte, argumenta de forma simples e incisiva sobre uma afirmativa muito comum, que é: “Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus”. Lewis argumenta: “Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior”. E arremata: “Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio. Ou pode prostrar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha com tal condescendência ao dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la”.

Como fica claro, simplicidade começa com desbastar os raciocínios de quaisquer resquícios de falsas complexidades e com a coragem de confrontar os próprios preconceitos, buscar a coerência entre o que se crê e se valoriza com aquilo que se faz. Para mim, isso é justamente decidir ser simples sem ser simplório.

Eu coloco essa simplicidade nas seguintes palavras: crer em verdades básicas e evidentes até para os mais simples dos seres humanos, viver com contentamento no mínimo necessário e o mais profundamente possível, para usufruir o máximo da curta vida que se tem e servindo ao maior número de pessoas.

O meu Mestre e Senhor Jesus ensinou e encarnou esse ideal e eu realmente acredito que se precisa de muito pouco para se sentir bem, fazer o bem e ser feliz com simplicidade.

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