Linguista e gramática Maria Helena de Moura Neves leciona na UPM desde 2003
Maria Helena de Moura Neves cresceu em uma casa repleta de livros. Filha de professores — o pai de Português, e a mãe do Curso Primário —, ela seguiu os passos da família e enveredou pelo caminho das Letras. Licenciada em grego e alemão e doutora em Letras Clássicas, tornou-se também linguista e gramática, com uma série de títulos publicados na área. A trajetória de mais de cinco décadas em prol do desenvolvimento das ciências da linguagem foi reconhecida pelo Prêmio Ester Sabino de 2022.
Concedida pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, a láurea reconhece trabalhos de mulheres com carreiras de destaque na pesquisa científica, nas categorias jovem pesquisadora e pesquisadora sênior. A professora Maria Helena de Moura Neves foi escolhida por votação pública. O prêmio foi entregue em 11 de fevereiro, no Palácio dos Bandeirantes.
Mundo dos livros
Ainda na infância, a professora Maria Helena era atenta aos livros. “Gostei de ler desde pequena. Meu pai tinha mais de uma edição de Os Lusíadas e eu gostava de olhar para saber por que uma era diferente da outra. Claro que eu não sabia dizer o porquê, mas eu prestava atenção a isso”, disse em seu discurso na entrega do prêmio.
Neves licenciou-se em Letras com habilitação em Português-Grego e em Alemão na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Em 1978 finalizou o doutorado em Letras Clássicas (Grego) na Universidade de São Paulo (USP). Em sua trajetória acadêmica, tornou-se livre-docente em Língua Portuguesa na Unesp.
Atuando no Mackenzie desde 2003, Neves é uma pesquisadora nata. É bolsista de Produtividade em Pesquisa nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi membro do Comitê de Letras e Linguística do CNPq em dois períodos: entre 1994 e 1997 e de 2007 a 2010.
Da esq. para dir.: Felipe Chiarello, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação; Marco Tullio de Castro Vasconcelos, reitor da UPM; Maria Helena de Moura Neves, vencedora do prêmio; Rafael Fonseca Santos, diretor do CCL; e Diana Luz Pessoa de Barros, professora do CCL.
NTAI/Mackenzie
Investigação sobre a linguagem
Para ser cientista, é preciso fazer perguntas. “Eu sempre queria saber por que um dia alguém disse ‘vamos fazer uma gramática?’; quer dizer, pensem naquelas sociedades primitivas, ainda em estado primitivo de desenvolvimento tecnológico, científico etc. O que precisaria haver em uma sociedade para alguém achar que faria uma gramática?”, questionou a professora.
Ela também abordou a questão do lugar das Ciências Humanas no panorama científico — um lugar que ainda soa confuso para alguns. “Estou pensando nisso agora e acho que o que eu deveria dizer é: ‘Por que alguém que faz gramática e dicionário está sendo chamada de cientista?’; uma vez que, em todo o percurso escolar da maioria dos que estão aqui, a gramática sempre foi vista como algo que amarra, prende, dogmatiza; algo absolutamente alheio ou até contrário à ciência”, ponderou. Mas esse papel não deve ser subestimado. “É a noção de ver ciência nas humanidades e na língua e a necessidade de guardar sempre o nome e a ação daqueles que nos conduziram até onde estamos”, disse.
Além de integrar e liderar grupos de pesquisa sobre a língua portuguesa em universidades paulistas e agências de fomento, Neves é conhecida nacional e internacionalmente como gramática. Ela é autora de títulos como Gramática de usos do Português (Editora Unesp); A gramática: história, teoria e análise, ensino (Editora Unesp); e A gramática funcional (Editora Contexto).
Louvar o avanço
O Prêmio Ester Sabino foi criado em 2021 para prestigiar mulheres com destaque em diversas frentes científicas. A premiação foi batizada em homenagem à cientista Ester Cerdeira Sabin — professora de Medicina na USP, imunologista e ex-diretora do Instituto de Medicina Tropical, que liderou o sequenciamento do genoma do coronavírus. Sabino esteve presente na entrega do prêmio e lembrou a importância de momentos como esse na atual conjuntura mundial. “Em um momento em que a ciência é tão atacada, ter um prêmio como esse, que comemora a ciência e as mulheres pesquisadoras aqui no estado de São Paulo, é muito importante”, agradeceu ao dizer que se sente honrada. “Essa festa é um momento que a gente discute as mulheres e consegue aumentar nossa presença nas várias áreas, repensando e vendo suas dificuldades”, disse. O prêmio foi entregue na data em que se comemora o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência.
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