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Mackenzie nas redes sociais

Na história da ciência no Brasil, constam os nomes de muitas mulheres que desafiaram as regras sociais de seu tempo e se tornaram brilhantes pesquisadoras, merecedoras de premiações pelo desempenho profissional. O Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra que, hoje, 54% dos estudantes de doutorado no Brasil são mulheres, um aumento de 10% nas últimas duas décadas. Engrossando essas estatísticas estão quatro doutoras vinculadas à Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) que alcançaram posições de destaque nos fóruns de pesquisa, instituições e demais espaços acadêmicos mundo afora.

Nesta primeira parte da reportagem especial, apresentamos Raissa Estrela e Ruth Verde Zein. Na próxima, traremos os perfis de Livia Eberlin e Cecília Castro Silva, pesquisadoras do Instituto de Pesquisas em Grafeno e Nanotecnologias (MackGraphe).

Ora direis, ouvir estrelas . . .

Raissa Estrela, 32, é graduada em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e tem mestrado e doutorado pela UPM, no Programa de Pós-Graduação de Ciências e Aplicações Geoespaciais (CAGE). Atualmente, cursa o pós-doutorado no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa, a agência espacial estadunidense, na Califórnia. Em 2020, sua tese de doutorado, “Exoplanet Atmospheres and Habitability”, ganhou o prêmio PhD at large Prize, concedido pela International Astronomical Union (IAU), que congrega astrônomos do mundo todo.

Quatro mulheres mackenzistas que têm muito em comum: são apaixonadas pelo que fazem, superam desafios de fazer pesquisa e projetam o nome do nosso país em fóruns internacionais. Nesta reportagem especial, dividida em duas edições, apresentamos o trabalho de duas delas, suas conquistas e desafios da carreira.

 
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Donas da pesquisa

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Raissa Estrela

Ruth Verde Zein

Foto: acervo pessoal Foto: acervo pessoal
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“O investimento em ciência é fundamental para o desenvolvimento do país e para levar uma qualidade de vida melhor para toda a população.”

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“Queria falar sobre o movimento contemporâneo, mas não encontrava espaço na academia.
Foi a imprensa que
aceitou publicar,
na íntegra,
minha pesquisa.”

Quando estava no ensino médio, Raissa se interessava muito mais pela área de humanas, mas tudo mudou ao ler um livro do astrônomo Carl Sagan. A menina, que sempre se encantou com o firmamento, decidiu investigá-lo pensando em como poderia ajudar a resolver problemas ambientais. Mesmo diante da incerteza sobre uma oportunidade de obter uma bolsa de estudos, ela decidiu investir na carreira. “Na época, ainda havia mais oportunidades de bolsa científica que hoje. Então, comparativamente, foi mais fácil”.

O pós-doc na Nasa resulta de uma bolsa-sanduíche da Fapesp e se concretizou durante o programa de doutorado na UPM. Com a cara e a coragem, ela conseguiu uma indicação para participar de um grupo de estudos na Nasa, com o mesmo foco de seus projetos. Depois de um ano, elogiada pelo orientador e admirada pelos colegas, recebeu a oferta de bolsa para fazer o pós-doutorado.

Vencendo o que considera os dois principais desafios — a obtenção da bolsa e o reconhecimento de seu trabalho —, Raissa se concentra na próxima etapa: conquistar uma posição permanente em uma área científica bastante competitiva. “Olhar pra trás e ver que consegui fazer tudo isso, ter chegado aqui já é uma conquista. O CAGE foi muito importante para mim, onde desenvolvi umas das partes mais importantes da minha carreira”, diz ela, referindo-se ao programa que, então, era oferecido pelo Centro de Rádio-Astronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAAM).

A crítica na arquitetura

Ruth Verde Zein também escolheu a carreira fortemente influenciada por seu pai. Embora fosse contador, ele era tão apaixonado por arquitetura que aproveitava os dias de folga para visitar casas e prédios em construção ou lugares de valor histórico e, às vezes, levava a filha junto. Bem orientada no colégio, ela confirmou o que sabia ser sua verdadeira vocação.

Recém-formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (FAU‑USP) recebeu, por uma monografia, o prêmio Arquiteto Henrique Mindlin, concedido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em 1978. “Gostei dessa experiência e acabei fazendo algumas pesquisas. Queria falar sobre o movimento contemporâneo, mas não encontrava espaço na academia, muito mais focada naquilo que fosse história ou projeto. E foi a imprensa que aceitou publicar, na íntegra, minha pesquisa”.

Acolhida, se viu migrando do objetivo inicial, de projetar, para a profissão de jornalista especializada em arquitetura. Depois de duas décadas, Ruth voltou para a academia carregando consigo a maturidade para defender suas ideias e a facilidade em aprender idiomas. A fluência em inglês, francês e espanhol, bem como as noções de italiano e de alemão, seriam muito úteis para as novas metas na carreira da arquiteta.

Ruth fez mestrado e doutorado em Teoria, História e Crítica de Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutorado pela FAU-USP. Ganhou o mundo e passou a dialogar com profissionais de diversos países, como Estados Unidos, Argentina, Chile e Alemanha. Enfim, o fórum ideal para falar sobre crítica e arquitetura contemporânea. A experiência de redigir grandes volumes de texto nos sempre curtos prazos de uma revista mensal fez dela uma ágil produtora de material de pesquisa. “Meu primeiro livro, lançado em 2002, se chama O lugar da crítica. Ensaios oportunos de arquitetura e reúne artigos que eu escrevi durante todos esses anos, materiais apresentados em conferências, palestras e seminários”, explica.

Ela não parou mais. Agora se destaca com a conquista do CICA Dennis Sharp Book Award 2020, concedido pelo International Committee of Architectural Critics (CICA). A obra laureada foi Critical readings, publicada pelas editoras Romano Guerra e Nhamerica Press em 2019. Ruth foi a única latino-americana indicada nessa edição ao short list da categoria Bruno Zevi Books Award 2020.

Hoje, Ruth é professora do Programa de Pós-Graduação da FAU-UPM. Uma de suas atividades preferidas (interrompida no momento por conta da pandemia) é organizar cursos que envolvam a visita de edifícios de valor histórico, sobretudo do patrimônio moderno, que são seu foco de pesquisa e estudo. “Quando vemos as coisas concretamente, criamos um parâmetro de resistência para, depois, ler as narrativas. Que o aluno construa os próprios critérios de valor com base na apreciação das coisas. Então, ele lê os autores que falam das obras e pode concordar ou não com base em seu posicionamento pessoal”, declara.

Desafios

O sonho de Raissa é que sejam abertas mais oportunidades em cargos mais elevados da pesquisa, não apenas para mulheres mas também para todas as minorias que hoje, por algum motivo, não têm acesso. Por outro lado, ela destaca a visão positiva de nosso país no exterior. “Temos muitos brasileiros reconhecidos internacionalmente e muitos grupos de pesquisa que mantêm colaboração internacional, como é o caso do CRAAM. O Brasil se posiciona em 11º lugar no ranking das publicações científicas, o que mostra que há muito material de qualidade sendo feito”, declara. Ela ainda acrescenta que “o investimento em ciência é fundamental para o desenvolvimento do país e para levar uma qualidade de vida melhor para toda a população. A ciência está por trás de tudo que é essencial para nossa sociedade”.

No exercício da atividade jornalística, Ruth aprendeu uma lição: para repercutir algo importante, é preciso acompanhar tudo o que está acontecendo. A máxima tem a ver com a capacidade de os arquitetos produzirem um bom volume de publicações, garantir sua presença nos principais fóruns de discussão e receber reconhecimento em premiações. A arquiteta avalia que ainda existe um estigma de que somente os autores que nasceram acima do Trópico de Câncer são considerados relevantes por muita gente do meio. “Não apenas eu, mas muitas pessoas no Brasil e na América Latina fazem trabalhos sérios, muito bem fundamentados, então não há motivos para não publicarem e serem premiados também”.

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Na história da ciência no Brasil, constam os nomes de muitas mulheres que desafiaram as regras sociais de seu tempo e se tornaram brilhantes pesquisadoras, merecedoras de premiações pelo desempenho profissional. O Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra que, hoje, 54% dos estudantes de doutorado no Brasil são mulheres, um aumento de 10% nas últimas duas décadas. Engrossando essas estatísticas estão quatro doutoras vinculadas à Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) que alcançaram posições de destaque nos fóruns de pesquisa, instituições e demais espaços acadêmicos mundo afora.

Nesta primeira parte da reportagem especial, apresentamos Raissa Estrela e Ruth Verde Zein. Na próxima, traremos os perfis de Livia Eberlin e Cecília Castro Silva, pesquisadoras do Instituto de Pesquisas em Grafeno e Nanotecnologias (MackGraphe).

Ora direis, ouvir estrelas . . .

Raissa Estrela, 32, é graduada em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e tem mestrado e doutorado pela UPM, no Programa de Pós-Graduação de Ciências e Aplicações Geoespaciais (CAGE). Atualmente, cursa o pós-doutorado no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa, a agência espacial estadunidense, na Califórnia. Em 2020, sua tese de doutorado, “Exoplanet Atmospheres and Habitability”, ganhou o prêmio PhD at large Prize, concedido pela International Astronomical Union (IAU), que congrega astrônomos do mundo todo.

Rectangle Foto: acervo pessoal

Raissa Estrela

Quando estava no ensino médio, Raissa se interessava muito mais pela área de humanas, mas tudo mudou ao ler um livro do astrônomo Carl Sagan. A menina, que sempre se encantou com o firmamento, decidiu investigá-lo pensando em como poderia ajudar a resolver problemas ambientais. Mesmo diante da incerteza sobre uma oportunidade de obter uma bolsa de estudos, ela decidiu investir na carreira. “Na época, ainda havia mais oportunidades de bolsa científica que hoje. Então, comparativamente, foi mais fácil”.

O pós-doc na Nasa resulta de uma bolsa-sanduíche da Fapesp e se concretizou durante o programa de doutorado na UPM. Com a cara e a coragem, ela conseguiu uma indicação para participar de um grupo de estudos na Nasa, com o mesmo foco de seus projetos. Depois de um ano, elogiada pelo orientador e admirada pelos colegas, recebeu a oferta de bolsa para fazer o pós-doutorado.

Vencendo o que considera os dois principais desafios — a obtenção da bolsa e o reconhecimento de seu trabalho —, Raissa se concentra na próxima etapa: conquistar uma posição permanente em uma área científica bastante competitiva. “Olhar pra trás e ver que consegui fazer tudo isso, ter chegado aqui já é uma conquista. O CAGE foi muito importante para mim, onde desenvolvi umas das partes mais importantes da minha carreira”, diz ela, referindo-se ao programa que, então, era oferecido pelo Centro de Rádio-Astronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAAM).

A crítica na arquitetura

Ruth Verde Zein também escolheu a carreira fortemente influenciada por seu pai. Embora fosse contador, ele era tão apaixonado por arquitetura que aproveitava os dias de folga para visitar casas e prédios em construção ou lugares de valor histórico e, às vezes, levava a filha junto. Bem orientada no colégio, ela confirmou o que sabia ser sua verdadeira vocação.

Rectangle Foto: acervo pessoal

Ruth Verde Zein

Recém-formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (FAU‑USP) recebeu, por uma monografia, o prêmio Arquiteto Henrique Mindlin, concedido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em 1978. “Gostei dessa experiência e acabei fazendo algumas pesquisas. Queria falar sobre o movimento contemporâneo, mas não encontrava espaço na academia, muito mais focada naquilo que fosse história ou projeto. E foi a imprensa que aceitou publicar, na íntegra, minha pesquisa”.

Acolhida, se viu migrando do objetivo inicial, de projetar, para a profissão de jornalista especializada em arquitetura. Depois de duas décadas, Ruth voltou para a academia carregando consigo a maturidade para defender suas ideias e a facilidade em aprender idiomas. A fluência em inglês, francês e espanhol, bem como as noções de italiano e de alemão, seriam muito úteis para as novas metas na carreira da arquiteta.

Ruth fez mestrado e doutorado em Teoria, História e Crítica de Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutorado pela FAU-USP. Ganhou o mundo e passou a dialogar com profissionais de diversos países, como Estados Unidos, Argentina, Chile e Alemanha. Enfim, o fórum ideal para falar sobre crítica e arquitetura contemporânea. A experiência de redigir grandes volumes de texto nos sempre curtos prazos de uma revista mensal fez dela uma ágil produtora de material de pesquisa. “Meu primeiro livro, lançado em 2002, se chama O lugar da crítica. Ensaios oportunos de arquitetura e reúne artigos que eu escrevi durante todos esses anos, materiais apresentados em conferências, palestras e seminários”, explica.

Ela não parou mais. Agora se destaca com a conquista do CICA Dennis Sharp Book Award 2020, concedido pelo International Committee of Architectural Critics (CICA). A obra laureada foi Critical readings, publicada pelas editoras Romano Guerra e Nhamerica Press em 2019. Ruth foi a única latino-americana indicada nessa edição ao short list da categoria Bruno Zevi Books Award 2020.

Hoje, Ruth é professora do Programa de Pós-Graduação da FAU-UPM. Uma de suas atividades preferidas (interrompida no momento por conta da pandemia) é organizar cursos que envolvam a visita de edifícios de valor histórico, sobretudo do patrimônio moderno, que são seu foco de pesquisa e estudo. “Quando vemos as coisas concretamente, criamos um parâmetro de resistência para, depois, ler as narrativas. Que o aluno construa os próprios critérios de valor com base na apreciação das coisas. Então, ele lê os autores que falam das obras e pode concordar ou não com base em seu posicionamento pessoal”, declara.

Desafios

O sonho de Raissa é que sejam abertas mais oportunidades em cargos mais elevados da pesquisa, não apenas para mulheres mas também para todas as minorias que hoje, por algum motivo, não têm acesso. Por outro lado, ela destaca a visão positiva de nosso país no exterior. “Temos muitos brasileiros reconhecidos internacionalmente e muitos grupos de pesquisa que mantêm colaboração internacional, como é o caso do CRAAM. O Brasil se posiciona em 11º lugar no ranking das publicações científicas, o que mostra que há muito material de qualidade sendo feito”, declara. Ela ainda acrescenta que “o investimento em ciência é fundamental para o desenvolvimento do país e para levar uma qualidade de vida melhor para toda a população. A ciência está por trás de tudo que é essencial para nossa sociedade”.

No exercício da atividade jornalística, Ruth aprendeu uma lição: para repercutir algo importante, é preciso acompanhar tudo o que está acontecendo. A máxima tem a ver com a capacidade de os arquitetos produzirem um bom volume de publicações, garantir sua presença nos principais fóruns de discussão e receber reconhecimento em premiações. A arquiteta avalia que ainda existe um estigma de que somente os autores que nasceram acima do Trópico de Câncer são considerados relevantes por muita gente do meio. “Não apenas eu, mas muitas pessoas no Brasil e na América Latina fazem trabalhos sérios, muito bem fundamentados, então não há motivos para não publicarem e serem premiados também”.

Quatro mulheres mackenzistas que têm muito em comum: são apaixonadas pelo que fazem, superam desafios de fazer pesquisa e projetam o nome do nosso país em fóruns internacionais. Nesta reportagem especial, dividida em duas edições, apresentamos o trabalho de duas delas, suas conquistas e desafios da carreira.

 
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Donas da pesquisa

Ilustração: br freepik com
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