Vacina

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Nova terapia contra
o câncer de pele

Vacina ainda está em fase de testes, mas já apresenta resultados potencialmente satisfatórios.

No período de 2020 a 2022, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que foram diagnosticados, a cada ano, quase 8.500 novos casos de câncer de pele do tipo melanoma em todo o Brasil. Prevenção, como na maioria dos casos de câncer, ainda é a principal aliada no combate a esta e a outras doenças. Contudo, está surgindo uma esperança para reverter um quadro que, apenas em 2020, levou quase 2 mil brasileiros à morte.

Com a mesma tecnologia dos imunizantes criados para combater a covid-19, uma vacina desenvolvida pelos laboratórios Moderna e MSD pode ser a nova arma nessa luta. A notícia é excelente, mas é preciso saber um pouco mais sobre esse novo recurso terapêutico, alerta o diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Jan Carlo Delorenzi. “É importante destacar que a vacina do câncer ainda está em fase experimental e os resultados promissores, obtidos até o momento, são específicos para o melanoma”, salientou.

De acordo com informações divulgadas na imprensa pelos laboratórios, a vacina já recebeu o selo de “terapia inovadora” pela agência estadunidense Food and Drug Administration (FDA). Segundo publicação no site da agência: “A designação é um processo projetado para acelerar o desenvolvimento e a revisão de medicamentos destinados a tratar uma condição grave e as evidências clínicas preliminares indicam que o medicamento pode demonstrar uma melhora substancial em relação à terapia disponível”.

Na prática, isso significa que o imunizante teve seu potencial reconhecido, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Segundo Delorenzi, esse processo é complexo e passa por uma série de etapas rigorosas. Para entender melhor, é preciso saber, primeiro, como funciona o modelo de mRNA utilizado na vacina: é ele quem “ensina” o organismo a identificar as células tumorais, facilitando a chegada do medicamento imunoterápico ao tumor.

De acordo com os desenvolvedores, a nova vacina, somada ao anticorpo monoclonal Keytruda — hoje um dos mais eficientes tratamentos para o melanoma —, foi capaz de reduzir em 44% as mortes e as recorrências do tumor em comparação com aqueles que somente receberam o citado medicamento. É claro que ainda são dados iniciais, da segunda do total de três etapas de testes clínicos que são realizados para esse tipo de terapia, mas foi esse resultado positivo que garantiu a interlocução com a FDA.

É este o ponto que ressalta o diretor do CCBS. “O desenvolvimento de qualquer medicamento passa por diversas etapas, desde a formulação até a disponibilidade no mercado. Inicialmente, são realizados estudos em células para avaliar a eficácia e a segurança do produto investigacional, seguidos de testes em animais. Somente após as fases pré-clínicas são conduzidos estudos clínicos em seres humanos. As fases dos estudos clínicos envolvem avaliação da segurança, da eficácia e da tolerabilidade do produto em indivíduos saudáveis e pacientes com tumor”, explicou Delorenzi. Ele também enfatiza que todo esse processo de desenvolvimento pode levar de 10 a 15 anos. A demora ocorre em razão das variações dos tipos de câncer, que apresentam características únicas e mutações específicas, o que dificulta a criação de uma vacina universal.

Os próximos passos

Apesar da necessária cautela, cabe dizer que o status dado à vacina pela FDA é um dos estágios mais avançados que esse tipo de terapia contra o câncer de pele já alcançou — no caso, a vacina de RNA mensageiro, estudada pelos pesquisadores há anos, ganhou impulso com seu uso nos imunizantes contra a covid-19. A diferença, de acordo com os desenvolvedores, é que no caso do melanoma há uma “personalização”, visto que o câncer é diferente de pessoa para pessoa. É preciso coletar o material genético específico do tumor de cada paciente, isolar as proteínas e depois criar a vacina. É dessa maneira que o mRNA faz o trabalho de “ensinar” o sistema imune a destruir as células cancerígenas.

“A iniciativa ainda não está disponível para o mercado em nenhum lugar do mundo. Atualmente, a vacina do câncer é considerada experimental e sua produção em larga escala requer a aprovação das agências regulatórias, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil”, finaliza Jan Carlo Delorenzi. Entretanto, os laboratórios já informaram que pretendem começar os últimos testes neste ano e que têm planos de expandir o uso da tecnologia de forma rápida para outros tipos de tumor.

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