Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social

SCNLab

Parque de Equipamentos

A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é uma técnica de neuromodulação não-invasiva, ou seja, ela modula a excitabilidade de regiões corticais do cérebro sem necessitar de um procedimento cirúrgico. O aparelho de EMT consiste em uma bobina móvel e em um ou dois geradores (ou estimuladores) de pulsos, que criam uma corrente elétrica forte e rápida que é convertida em um campo magnético na bobina. O posicionamento da bobina no escalpe permite que este pulso magnético crie um campo elétrico em regiões corticais no cérebro diretamente abaixo, e pode levar a duas ações: (i) ativação de uma população ou rede neural por meio da despolarização de axônios, (ii) ou sua inibição, em consequência à ativação (também denominado “período silente”).

A estimulação de EMT pode ser por meio da aplicação de pulso único, duplo ou triplo, os quais servem para identificar as áreas e redes intracorticais envolvidas com processos cognitivos, afetivos ou comportamentais. Além das áreas, estes pulsos servem para informar em qual momento no tempo (com precisão de milissegundos) tais áreas processam estas informações. Outra forma de modulação é por meio aplicação rápida de pulsos repetidos, ou simplesmente EMT repetitiva (EMTr), utilizada para modular a excitabilidade cortical por um período maior tempo. Estudos em córtex motor tem identificado um padrão de inibição cortical em EMTr de baixa frequência (≤ 1 Hz) e maior excitabilidade cortical em EMTr de alta frequência (≥ 5 Hz). É importante ressaltar que estes valores podem variar de acordo com outros parâmetros de estimulação como intensidade e duração da estimulação. Outros parâmetros ainda podem alterar a eficácia e efeito da EMT e EMTr, como a distância para a cabeça, orientação e tipo da bobina; e a forma, intensidade e frequência do pulso magnético.

Em nosso laboratório, utilizamos o TMS para investigar a excitabilidade cortical associada a processos de mentalização, que culminou em estudos já publicados com voluntários de desenvolvimento típico e também com autismo.

A estimulação transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) é uma técnica de neuromodulação não-invasiva, ou seja, ela permite modular a excitabilidade de regiões do cérebro sem a necessidade de uma intervenção cirúrgica. Ela é considerada uma técnica segura e de baixo custo, por isso tem sido amplamente adotada na pesquisa científica em diferentes laboratórios ao redor do mundo. Nesta técnica, aplica-se uma corrente elétrica fraca (de 1 a 3 miliamperes) por meio do posicionamento de ao menos dois eletrodos, um catódico e um anódico, usualmente situados sobre o escalpe.  É possível posicionar um destes eletrodos em outro lugar do corpo que não a cabeça (extraencefálico), normalmente sobre o ombro, mas ao menos um deles deve necessariamente estar sobre o escalpe para permitir a passagem da corrente elétrica pelo cérebro. Os eletrodos usualmente têm 35 cm², mas é possível identificar na literatura diferentes tamanhos, comumente variando entre 9 a 40 cm². As sessões de estimulação costumam variar normalmente entre 5 a 30 minutos, e podem ser aplicados com o sujeito em repouso ou durante a realização de alguma tarefa. A ação da ETCC tem como causa a alteração na atividade espontânea de populações neurais por meio de variação na polarização da membrana destes neurônios em decorrência da corrente contínua. Além disso, podem ser observados efeitos na plasticidade cerebral em reposta a estimulações mais longas ou periódicas, por meio de mecanismos de potenciação de longo prazo (LTP, do inglês long-term potentiation).

Dada a sua função de modular a atividade cortical, a ETCC tem se mostrado útil na pesquisa em neurociência cognitiva, afetiva e social. Esta técnica tem permitido investigar o papel de regiões corticais do cérebro em processos cognitivos, afetivos e comportamentais. Isto é possível uma vez que ao modularmos a atividade de uma área cortical com esta técnica podemos avaliar se ocorre interferência no desempenho de uma tarefa ou atividade. Com base em estudos com estimulação do córtex motor, o efeito padrão observado para a estimulação por ETCC é a de aumento da excitabilidade na região cortical sob eletrodo anódico, e da inibição sob o eletrodo catódico. Contudo, é importante ressaltar que tais efeitos podem variar em função dos parâmetros adotados na aplicação desta técnica: (i) intensidade e duração da estimulação; (ii) tamanho, ângulo e localização dos eletrodos; (iii) estado do sujeito durante a aplicação, se engajado em alguma atividade ou em repouso; (iv) diferenças individuais como, por exemplo, anatomia do encéfalo, gênero, idade ou lateralidade.

O Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social é uma referência internacional nos estudos com ETCC, dado o extenso número de pesquisas realizados em nosso laboratório ou em parceria com universidades ao redor do mundo. Os estudos com ETCC conduzidos por nosso grupo foram realizados em diversos tópicos da neurociência cognitiva, afetiva e social, como: estudos com transtornos psiquiátricos e neurológicos, como pacientes com depressãoadição, Doença de Alzheimer, Parkinson entre outras; pesquisas com processos sociais, como empatia a dor; estudos com aspectos afetivos e cognitivos como regulação emocional, integração multissensorial, atenção, processos visuais.

A eletroencefalografia (EEG) é uma das técnicas de investigação mais famosas e antigas da neurociência. Desenvolvida na primeira metade do século XX, esta técnica não-invasiva tem como função registrar, no escalpe, a variação no tempo do potencial elétrico proveniente da atividade de regiões do cérebro. O registro de EEG é obtido por meio de eletrodos posicionados na cabeça, os quais registram a variação elétrica, e de um amplificador ligado a um computador que, respectivamente, amplia e registra o sinal recebido nos eletrodos. Esta técnica é muito conhecida por sua aplicação clínica para investigar padrões eletrofisiológicos típicos no transtorno do sono ou na epilepsia. Para além disso, ela tem sido utilizada com grande sucesso nas pesquisas em neurociências, por meio de técnicas de análise que transformam o registro bruto do EEG em um dado representativo da atividade do cérebro. A principal técnica utilizada em nosso laboratório é a análise de Potenciais Relacionados à Eventos (conhecida pela sigla ERP, do inglês Event-related Potentials). Contudo, outras técnicas podem ser utilizadas, como as técnicas de análise de frequência, também chamadas de espectrografia, e as técnicas de localização espacial da atividade cerebral, como a tomografia eletromagnética de baixa resolução ou LORETA.A técnica de ERP, amplamente adotada na literatura científica e em nosso laboratório, pode informar como um estímulo captado no ambiente (um som ou uma imagem) é processado pelo cérebro com precisão de milissegundos. A partir da derivação do dado bruto de EEG, obtêm-se uma onda a qual se supõe ser formada por diferentes componentes.

Cada um dos componentes que compõem esta onda representa a atividade de uma ou mais regiões do cérebro, e a partir do tamanho do pico e de sua latência podemos inferir se duas ou mais amostras da população processam informações do ambiente de forma similar ou distinta. Desta forma podemos comparar, por exemplo, como variados grupos etários, étnicos, de gênero, ou com transtornos do desenvolvimento processam estímulos relevantes.

Em nosso laboratório, várias pesquisas utilizaram o EEG para avaliar a atividade eletrofisiológica de pessoas saudáveis ou com transtornos em resposta a fenômenos sociais, cognitivos e afetivos. Alguns exemplos são: estudos com tomada de decisão social; estudos com processamento semântico e de ironia; estudos com mentalização motora; e estudos sobre processos cognitivos visuais e atencionais.

O rastreamento ocular geralmente é feito por um dispositivo não intrusivo que emite luz infravermelha ou próxima a infravermelha de forma contínua, criando um reflexo na córnea do participante. O reflexo da córnea é capturada por uma câmera no dispositivo de rastreamento ocular e permite que o software calcule um vetor formado pelo ângulo entre o reflexo da córnea e o centro da pupila. A distância relativa entre cada uma dessas características, com outras características do reflexo, permite que o software calcule a direção do olhar. Para que o software seja totalmente capaz de capturar os movimentos oculares, é necessário um procedimento de calibração, em que o sujeito segue visualmente um estímulo simples, como um ponto movendo na tela do monitor, enquanto o dispositivo captura instantaneamente as regiões dos olhos (com o reflexo da córnea) para conseguir estimar os coordenados espaciais das localizações do olhar, bem como a sequência temporal do olhar do participante (Hansen & Ji, 2010). Esses procedimentos fornecem duas medidas principais do movimento dos olhos: fixações e sacadas, quando o olho repousa em um local específico e quando se move entre locais, respectivamente. O laboratório de Neurociência Cognitiva e Social tem uma ampla seleção de dispositivos de rastreamento ocular, incluindo o dispositivo SMI RED500 e os óculos SMI ETG2 Wireless, ambos executados no pacote de software iView, e o LC Eyegaze Edge executando o pacote de software Nyan. Projetos atuais que empregam o use de rastreamento ocular incluem pesquisas sobre déficits de processamento facial na esquizofrenia, pesquisas relacionadas ao processamento visual da leitura de frases com ambiguidade, pesquisas estudando o esforço cognitivo em testes de memória, e os efeitos de estereótipos sociais e estratégias cognitivas no desempenho acadêmico em tarefas matemáticas.

Conjunto de instrumentos fisiológicos focados em medidas derivadas do Sistema Nervoso Periférico (SNP), as medidas periféricas representam importantes instrumentos de investigação em Neurociência Cognitiva, Afetiva e Social uma vez que apresentam baixo custo e fácil manuseio. Dentre os principais instrumentos utilizados, destacam-se a análise de Eletrocardiograma (ECG) da Atividade Eletrodérmica (AED), da atividade Eletromiográfica (EMG), e sistemas de eye-tracking.

O ECG, amplamente utilizado em análises cardiológicas para diagnósticos clínicos, possui importante papel em estudos experimentais da Neurociência, onde possibilita inferências a respeito da variação do recrutamento simpático a uma dada tarefa (análises tônicas) ou estímulo específico (análises fásicas). Tipicamente, o traçado do ECG é obtido por meio de eletrodos posicionados no tórax, pulsos e pernas, variando entre três e 12 pontos de captação de sinal. A partir deste sinal os dados podem receber alguns tratamentos, como limpeza de artefatos e retirada de ruídos provenientes da corrente elétrica do ambiente, e em seguida os dados podem ser interpretados por diversas análises. A principal técnica de análise utilizada em nosso laboratório é a análise do intervalo inter-batidas (IBI), contudo, outras técnicas podem ser utilizadas como a frequência cardíaca (HR), e a variabilidade da frequência cardíaca (HRV). Nos últimos anos optamos por priorizar a análise de IBI, uma vez que ela permite compreender a frequência da atividade cardíaca frente a um determinado estímulo, considerando o valor exato do intervalo inter-batidas ponto a ponto (a cada 1000ms, 500ms, 100ms, ou etc), sem que estimativas sejam criadas como no HR onde a partir de alguns segundos se estima valores únicos para batidas por minuto (bpm). Nossos últimos trabalhos com análises IBI dizem respeito a neuromodulação da Regulação Emocional e do efeito de treinos de Meditação na Regulação Emocional.

Já a AED, também conhecida como resposta de condutância da pele e resposta Galvânica da pele, caracteriza-se por um instrumento de captação de medidas elétricas da pele, como a medida de aumento e diminuição da produção de sudorese. Dentre os instrumentos periféricos da psiofisiologia, pode se dizer que a AED apresenta um papel de destaque no estudo do processamento emocional, juntamente com a EMG, possuindo milhares de trabalhos em todo o mundo. Este sucesso se dá principalmente pelo baixo custo, fácil manuseio e por ser uma técnica não invasiva que possibilita a paralela mensuração de outras técnicas focadas no Sistema Nervoso Central (SNC), como o Eletroencefalograma, Near-Infrared Spectroscopy, e técnicas de neuromodulação. Nossos últimos projetos com análises AED dizem respeito a Regulação Emocional, Empatia a dor, Dor social e Tomada de Decisão.

Caso se interesse em disponibilizar o seu contato para que possamos te selecionar para um estudo presencial no laboratório, com algumas das técnicas acima, clique aqui.

Espectroscopia Funcional no Infravermelho Próximo (fNIRS, do inglês functional near infrared spectrography) é uma técnica que utiliza a emissão de luz em frequências específicas no escalpe de uma pessoa. Estas frequências de luz refletem especificamente em moléculas de hemoglobina oxigenadas (oxihemoglobina) e não-oxigenadas (deoxihemoglobina), desta forma indicando alteração na concentração destas moléculas no córtex cerebral – medida similar ao investigado na imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) - podendo assim verificar áreas que foram utilizadas para a realização de alguma tarefa. As vantagens de usar o fNIRS são permitir maior liberdade de movimento do indivíduo, ser prático e portátil e, realizar estudos mais ecológicos enquanto rastreia alterações hemodinâmicas em regiões corticais (Ferrari; Quaresima, 2012). Outra vantagem desta técnica é a sua possibilidade de distinguir os ruídos, devido ao movimento, das alterações hemodinâmicas padrão. Além disso, possui uma medida direta da ativação neural, com intervalos de tempo de milissegundos, e uma resolução espacial superior a técnicas semelhantes (Franceschini & Boas, 2004).   

Os estudos conduzidos no Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social (SCN Lab) utilizam o equipamento da Brainsight NIRS, da Rogue Resolutions LTD (com apoio financeiro do MackPesquisa). O equipamento consiste em quatro baias, cada qual com quatro optodos emissores de luz em duas frequências (685 e 830 nm), oito detectores e quatro optodos de proximidade, totalizando dezesseis emissores e trinta e dois detectores, o que permite mais de setenta e dois canais possíveis sobre o escalpe. É compatível com estimulação magnética transcraniana, estimulação transcraniana por corrente contínua ou alternada, eletro- e magnetoencefalografia. Cada canal registra níveis de oxi- e deoxihemoglobina em região cortical, que servem como medida indireta de ativação da região alvo. Registra os sinais em até 100 Hz.

Recentes estudos vêm sendo realizados usando o fNIRS no SCN Lab com intuito de investigar o efeito modulatório da ocitocina na ativação cortical das áreas intraparietal e pré-motor ventral durante a ilusão da mão de borracha em indivíduos saudáveis. Além de outros estudos envolvendo indivíduos em condições clínicas como o Autismo, que visa conhecer e descrever do ponto de vista comportamental possíveis alterações multissensoriais e nas estruturas cerebrais subjacentes no Autismo, além de estabelecer relações causais entre a neuromodulação por ocitocina e os padrões multissensoriais nesses indivíduos.

Nosso laboratório está equipado com o sistema BIOPAC MP150 para avaliar a eletromiografia facial (EMG) por meio do registro da atividade dos músculos da face. Utilizamos eletrodos autoadesivos posicionados na superfície facial evitando qualquer dano aos participantes. A atividade muscular facial pode fornecer pistas sobre processos emocionais ou cognitivos dos participantes e é, portanto, uma ferramenta de pesquisa útil nas neurociências sociais, cognitivas e afetivas. Estamos conduzindo estudos usando EMG facial para abordar questões nas áreas de julgamento moral, processamento de emoções e atratividade além dos efeitos do toque no processamento emocional.