Balanço dos dois anos de atividade do CMLE

O professor Vladimir Fernandes Maciel conta como o projeto surgiu, que atividades realiza e fez um balanço dos eventos em comemoração aos dois anos de existência

17.05.201814h54 Centro Mackenzie de Liberdade Econômica

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Balanço dos dois anos de atividade do CMLE

Entre 7 e 10 de maio, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, viveu dias movimentados, com a presença de figuras expressivas dos círculos liberais no país. Nomes como o presidente do Instituto Mises Brasil, Helio Beltrão, o presidente do Instituto Liberal de São Paulo, Marcelo Faria, e o editor da LVM, Alex Catharino, são apenas alguns entre vários outros que marcaram presença em eventos debatendo questões contemporâneas à luz da literatura e do pensamento liberais. Tudo isso só foi possível graças a um novo ator que vai se tornando cada vez mais notório e conquista um espaço especial no meio: o ainda jovem Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.

A instituição, nascida há dois anos, já começou ambiciosa. Eventos em parceria com algumas das principais instituições de defesa do pensamento liberal no país, parceria com institutos estrangeiros e fóruns com convidados internacionais vêm se tornando rotina em um caso único no Brasil de think tank liberal ligado a uma universidade. Nesse curto período de existência, o Centro já conquistou muitos diferenciais, entre eles uma sede própria nas dependências da instituição de ensino, com auditório para a realização de suas atividades.

Até onde o Centro Mackenzie pode ir? Em que pé está hoje e como pode colaborar na difusão das ideias da liberdade? Para descobrir isso, o Boletim entrevistou o professor Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro. Maciel é graduado em Economia pela Universidade de São Paulo, mestre em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Administração Pública e Governo pela FGV. Ele contou tudo sobre o surgimento do projeto, as suas atuais atividades e o que planeja para os próximos anos.

Boletim da Liberdade: O Centro Mackenzie de Liberdade Econômica está completando dois anos de existência. Como ele surgiu e como foi originalmente concebido?

Vladimir Fernandes Maciel:  A ideia do centro é de final de 2014. O doutor Antônio Cabreira, que é um dos membros do conselho curador do Instituto Mackenzie, fez uma reunião com os outros conselheiros e trouxe essa ideia, que foi aprovada e negociada com a universidade. Na conversa entre instituto e universidade, o reitor tinha falado que a gente não pode ter apenas um centro promotor de ideias se ele não tiver pesquisa associada, algo que justifique a universidade estar presente.

Nessa história toda, o andamento foi que se decidiu criar, a princípio, um núcleo de pesquisa a que se incorporassem com o tempo dois cursos strictu senso: um mestrado profissional em Economia, com uma pegada liberal, e outro em Administração com uma pegada de desenvolvimento de mercado, em termos de negócios e empreendedorismo.

Sou professor da casa há 20 anos e fui escolhido entre o quadro docente que acompanhou a primeira comissão, que era de implementação das ideias. Começou com um trabalho de formiga, criando programas e aprovando no governo federal, no MEC, para em 2016 conseguirmos lançar o centro. Desde fevereiro do ano passado, temos um espaço físico, um prédio, dedicado para a gente.

Boletim da Liberdade: Desde o nome, o think tank se dedica à defesa da liberdade econômica. Como o instituto enxerga a importância de outros tipos de liberdade?

Vladimir Fernandes Maciel: Essa importância é reconhecida, mas nós estamos na Universidade Presbiteriana Mackenzie, então existe uma orientação confessional na instituição privada a que estamos ligados. Assuntos específicos ligados a temas como aborto ou drogas podem conflitar com a orientação da Igreja, por isso que frisamos a liberdade econômica e não as demais. O foco em liberdade econômica é justamente por trabalhar na área que é consensual, diz respeito diretamente à confessionalidade da mantenedora, que é a Igreja Presbiteriana, e condições nossas, como equipe, de conseguir fazer pesquisa, divulgar as ideias, ir à mídia, etc.

Boletim da Liberdade: O site do Centro informa que ele atua nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Que tipo de inserção o Centro realiza nessas diversas frentes acadêmicas?

Vladimir Fernandes Maciel: Em ensino, nós hoje temos os dois mestrados profissionais. Em curso, já indo para a quinta turma com seleção semestral, temos dois cursos de pós-graduação lato sensu, de especialização, sendo ofertados. Um deles sobre a questão do agronegócio, o setor em que o governo intervém menos na economia e tem o maior desempenho, e o outro sobre pensamento econômico liberal. Na área de pesquisa, temos duas frentes de atuação. A primeira é dos chamados estudos setoriais.

Cada ano a gente desenvolve de quatro a cinco setores da atividade econômica brasileira e investiga a fundo como é que o governo, através da regulação, das intervenções, da complexidade tributária, afeta o desempenho desses setores. Ao final de cinco anos, teremos um compêndio, um registro de todas as distorções causadas pelo governo em 28 setores da economia brasileira. Além disso, a gente tem pesquisas na área de inovação e liberdade econômica; com o apoio do Fraser (Institute) e da equipe da Universidade Metodista do Sul, nós desenvolvemos o índice de liberdade econômica estadual no Brasil.

Fomos lá nos Estados Unidos, voltamos há um mês, apresentar esse trabalho e a extensão, porque criamos uma série histórica que vai desde 2003 até 2015, e todo ano a gente vai lançar os dados referentes aos anos anteriores em um serviço contínuo. A gente tem trabalhado e apresentado em congressos a questão de instituições, regras do jogo, o comportamento empreendedor dos políticos buscando oportunidades para passar a mão no nosso bolso… Temos apresentado e publicado no exterior trabalhos sobre a corrupção, a lavagem de dinheiro, o apoio político de bancadas, todas as relações e perversões do nosso sistema.

A gente tem também o Observatório do Legislativo, que eu diria que fica entre pesquisa e extensão, que acompanha os projetos de lei que estão sendo aprovados e discutidos, buscando avaliar aqueles que têm possível impacto econômico. Em extensão, atuamos em alguns cursos curtos; temos um com o Mises de investimento em Escola Austríaca, estamos desenhando com eles um curso de criptomoedas e blockchain para o final do semestre e realizamos uma série de atividades e eventos periodicamente.

Trouxemos também este semestre os representantes da produção agrícola e pecuária da Venezuela para relatar o que está acontecendo lá, fomos até o Ministério da Agricultura e o das Relações Exteriores levar um conjunto de propostas, de maneiras por que podemos auxiliar indiretamente a produção de alimentos lá, que está um caos. Realizamos junto à Rede Liberdade ainda um concurso sobre a privatização dos correios, recebendo cerca de 70 artigos, escolhendo três em avaliação às cegas, premiados essa semana com recursos do próprio Centro.

Boletim da Liberdade: Uma série de eventos entre os dias 7 e 10 de maio marcou as comemorações do segundo aniversário, com mesas redondas e painéis com grandes nomes do movimento liberal brasileiro. Como a equipe enxerga o resultado desses eventos?

Vladimir Fernandes Maciel: A casa estava cheia, tinha gente de pé no auditório, não coube todo mundo. A gente reservou 150 lugares e vieram mais de 150 pessoas, então foi super gratificante. A gente começou o evento ontem (dia 10) às 19h e encerrou às 22h, e se eu não encerrasse ia até às 23h, porque tinha mais umas vinte perguntas. As pessoas queriam interagir. Mas mais do que isso, é perceber que o Mackenzie passou a ser uma referência para quem quer estudar liberalismo, está no meio acadêmico e não tem um centro como temos aqui. Ele é único no Brasil; é muito comum nos EUA esse tipo de think tank ligado a universidades, mas no Brasil só tem o Mackenzie.

Foi muito bacana nesses três dias de eventos perceber que havia alunos do Insper e outras universidades como a Oswaldo Cruz que estavam tentando montar grupos de estudo, e a gente tem condições de formar um acadêmico na graduação, temos grupo de estudo, quatro sobre liberdade econômica e liberalismo. Vieram no final uns quinze alunos querendo se juntar a essa iniciativa e levá-la para as universidades deles. Isso é recompensador; estamos cumprindo nosso papel de disseminar o pensamento liberal, discutir a economia brasileira com o conteúdo e com a estrutura da pesquisa acadêmica.

Boletim da Liberdade: De que maneira o Centro Mackenzie avalia a relação com outras instituições que dialogam com o meio liberal, como o Instituto Mises Brasil, o Instituto Liberal ou a LVM Editora?

Vladimir Fernandes Maciel: O centro só existe porque ele respira, não é fechado em si mesmo, não é fechado apenas dentro dos muros da universidade. Ele faz esse papel de conectar a universidade para fora dela. Então as parcerias são fundamentais. Sem o apoio da Atlas Network, inclusive com financiamento para projetos, sem a parceria desde o começo com o Mises, sem fazer parte da Rede Liberdade, sem a enorme contribuição que a gente tem dos outros centros dos EUA, sem essa rede exterior que também nos ajuda a divulgar, estabelecer metas e solucionar problemas, a gente dificilmente estaria com dois anos e um conjunto grande de realizações.

Até porque a gente não tem benchmarking no Brasil, se a gente ficasse sozinho nessa aventura solitária, primeiro que não cumpriria a nossa função, que é ajudar a pensar o Brasil de uma perspectiva liberal. A gente ia ficar sentado escrevendo artigo, enviando para congresso de economia, para ninguém ler. A gente tem isso, porque é necessário, é a parte de pesquisa, mas a gente tem a outra parte que é se relacionar.

Boletim da Liberdade: Como é a recepção do Centro dentro da Universidade Mackenzie e que entendimento têm a direção sobre a recepção das ideias liberais no meio universitário nacional?

Vladimir Fernandes Maciel: O Mackenzie é uma universidade que tem uma orientação muito clara, mas é plural, o que significa que a gente tem alunos e professores de vários espectros ideológicos. Num primeiro momento, houve uma certa desconfiança do que era esse Centro de Liberdade Econômica, até a gente começar a realizar os eventos, trazer pessoas de qualidade para o debate, trazer questões importantes que estão ocorrendo e estamos observando na economia brasileira, buscando tentativas de explicação de acordo com a economia liberal, a gente foi ganhando, digamos assim, ou rompendo a desconfiança inicial.

A gente teve apoio desde o começo até hoje em termos de orçamento, infraestrutura, recurso para trazer professores visitantes ou participar de palestras e congressos, eles nos enviaram para os EUA, então esse apoio institucional se consolidou. Esse apoio é reconhecido.

Ontem teve um debate civilizado entre os alunos do direito que são liberais contra o diretório central dos estudantes, dominado pelo PCdoB, no meio da palestra, e o cara do PCdoB estava lá assistindo também, ele não estava provocando, sentadinho assistindo. Mesmo as pessoas que não pensam de acordo com a lógica liberal querem ouvir o que a gente tem a dizer ou as pessoas que a gente traz. Hoje temos professores de outras unidades que querem fazer pesquisa, se juntar ao centro, ele está virando de fato um centro, um local de atração de alunos, de professores.

Boletim da Liberdade: Que balanço vocês fazem de dois anos de existência e para onde o Centro Mackenzie pretende ir?

Vladimir Fernandes Maciel: O balanço é que nós conseguimos surgir e nos manter em pé e caminhando sempre para a frente. Isso é uma síntese do que aconteceu nesses dois anos. A gente começou de forma muito modesta e hoje a gente sabe que somos reconhecidos fora do Brasil e mesmo na comunidade brasileira como aquela instituição universitária que tem um think tank liberal a que se pode recorrer, buscar material, conversar com os pesquisadores, pedir apoio, pensar em curso, ter essa base sólida. A gente surgiu do nada literalmente e conseguiu ganhar isso, mas temos muito feijão para comer, tem muito trabalho.

A gente precisa ganhar mais volume, mais escala, melhorar a nossa forma de comunicação para além da universidade mais do que a gente está fazendo, profissionalizar esse tipo de comunicação. Não é tradição do meio acadêmico ter uma comunicação clara e acessível para todo mundo. De outro lado, a gente tem que concretizar e avançar nessas parcerias exteriores, com ida e vinda de professores e estudantes.

Isso dá credibilidade, dá acesso ao que está sendo feito, às pesquisas que são de ponta, ao que está sendo discutido, e a gente começar a se tornar, além de um centro puramente acadêmico, a gente se tornar um centro misto entre centro acadêmico e de análise de políticas públicas nos próximos anos. Esse é o nosso planejamento para nos próximos três anos a gente se consolidar. A gente tem um planejamento de cinco anos, está no segundo, tem mais três para executar, e essa é a meta do final do ano.

 

Para ler a entrevista na íntegra, acesse: https://www.boletimdaliberdade.com.br/2018/05/16/coordenador-do-unico-think-tank-liberal-brasileiro-que-funciona-dentro-de-uma-universidade-fala-ao-boletim/