Análise de riscos e tendências num mundo repleto de incertezas

Análise de riscos e tendências num mundo repleto de incertezas

15.07.201917h00 Comunicação - Marketing Mackenzie

Compartilhe nas Redes Sociais

Análise de riscos e tendências num mundo repleto de incertezas

Por Benoni Belli*

Nenhuma grande organização pode prescindir do planejamento estratégico, que envolve análise de riscos e tendências. Desde a década de 1970, a literatura da área de administração e gestão de empresas vem refletindo a preocupação com o planejamento estratégico como uma ferramenta de definição da missão da organização e de seus objetivos e a identificação de indicadores de sucesso, além da busca de meios adequados para o cumprimento das metas estabelecidas. Tudo isso com a participação de todos os níveis da administração, da liderança no topo até os funcionários na ponta, de modo a garantir unidade de propósitos e controle de resultados.

No mundo cada vez mais conectado, a gestão estratégica, muito embora necessária, pode ser insuficiente se o campo de visão for limitado à própria organização. As empresas e organizações do setor público não estão imunes a um grande número de fatores que fogem de seu controle e que podem afetar seus objetivos. Os riscos se multiplicam e não têm a ver apenas com o funcionamento interno dessas organizações, envolvendo fatores como mudanças no cenário político e econômico, eventos climáticos extremos, mudanças de regimes em países distantes, aumento da tensão geopolítica, crimes transnacionais, fluxos de refugiados, epidemias, entre outros.

É por isso que os profissionais do planejamento estratégico se dedicam frequentemente a fazer projeções, tentando imaginar cenários futuros, de modo a preparar-se para qualquer eventualidade. Também é comum adotar um olhar mais atento para eventos domésticos e internacionais nos campos político, econômico e financeiro com potencial de gerar impactos sistêmicos. Exemplo seria a guerra comercial entre os EUA e a China, que pode alterar os cálculos de governos e empresas em diversas partes do mundo. Além de riscos, essas alterações no cenário podem também gerar algumas oportunidades, dependendo sempre dos seus desdobramentos.

Há muitas técnicas de previsão, projeção, análise de riscos e identificação de tendências. Nenhuma oferece, contudo, “bola de cristal” capaz de blindar empresas e governos das surpresas desagradáveis. Eventos improváveis que alteram de maneira substancial o ambiente de operação são comumente designados como “cisnes negros” (“black swans”). Foram assim considerados, por exemplo, a eleição de Donald Trump nos EUA e o resultado do referendo do Brexit, que decidiu pela retirada do Reino Unido da União Europeia.

Quer dizer que a análise de riscos e tendências é inútil diante da possibilidade de ocorrência de “cisnes negros”? Ou haveria uma fórmula mágica capaz de garantir a boa leitura das tendências e a identificação de sinais que normalmente não seriam detectados a olho nu? Tendo em vista os constrangimentos impostos pelo imponderável da conjuntura interna e pelo dinamismo do sistema internacional, pareceria legítimo perguntar qual seria o ganho de um esforço de planejamento estratégico, incluindo a análise de riscos e tendências. Esse esforço não é uma panaceia, mas ainda assim oferece ganhos importantes para organizações e governos.

A grande vantagem consiste na identificação das prioridades e na abertura de espaços para realização dos objetivos definidos pela organização. O planejamento pressupõe esforço de reflexão sobre os rumos da ordem global e identificação de riscos e oportunidades, gerando massa crítica de conhecimento e conectando atores que podem oferecer visões, ideias e propostas sobre como melhor perseguir os interesses, seja de um país, seja de uma empresa. O resultado tende a ser uma estratégia mais consciente dos riscos derivados do ambiente em que se opera, dos interesses em jogo e das prioridades que devem ser perseguidas, aumentando a capacidade de moldar a realidade.

O planejamento constitui ferramenta valiosa para desenhar e formular estratégias, ao propiciar reflexão estruturada sobre os desafios e apontar caminhos para a perseguição dos interesses e metas. O aumento da incerteza torna a tarefa mais difícil, porém ainda mais necessária. Afinal, a bússola é instrumento mais útil em meio à tempestade do que em dias de horizonte desanuviado. Antecipar-se a tendências e preparar-se para o mundo que desponta no horizonte, inclusive para o caso de confirmação de cenários menos favoráveis, não oferece garantia de sucesso, mas contribui para reduzir a probabilidade de fracassos.

--

*Professor do curso de Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Brasília (FPMB) - Diplomata de carreira e doutor em sociologia. Este artigo foi escrito a título pessoal e não reflete necessariamente posições oficiais do Ministério das Relações Exteriores.

--

Assessoria de Comunicação

Mackenzie - Unidade Brasília

Rafael Querrer 

rafael.querrer@viveiros.com.br

(61) 3521 - 9098