A importância dos estudos prospectivos na identificação das mudanças futuras em perfis profissionais

Marcello José Pio*

04.11.201916h00 Comunicação - Marketing Mackenzie

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A importância dos estudos prospectivos na identificação das mudanças futuras em perfis profissionais

Ao longo das últimas décadas, as mudanças estruturais, tecnológicas, produtivas e organizacionais têm afetado o mundo do trabalho e provocado uma reestruturação significativa dos fluxos produtivos. Este fenômeno tem como pano de fundo o acelerado desenvolvimento tecnológico que visa o aumento da produtividade e da competitividade e a constituição de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e seletivo.

Este processo de globalização econômica tem como um de seus principais focos o desenvolvimento, a comercialização e a utilização de tecnologias de elevado valor agregado, que tem eliminado, de forma constante, as vantagens comparativas baseadas no baixo custo da mão de obra e na abundância de matérias-primas.

Essa nova estratégia competitiva, baseada no processo de inovação tecnológica, tem influenciado consideravelmente a quantidade, a estruturação dos empregos e a alteração dos perfis profissionais, uma vez que o desenvolvimento e o estabelecimento de uma estrutura produtiva avançada, do ponto de vista tecnológico, vão além do oferecimento de incentivos financeiros e fiscais: englobam a necessidade de uma força de trabalho capaz de atender aos novos paradigmas tecnológicos atuais e futuros.

Além disso, as mudanças organizacionais experimentadas pelas empresas, tais como reengenharia, produção enxuta, sistemas de qualidade e gerenciamento de redes, geram estruturas mais complexas, as quais modificam o trabalho e, por conseguinte, as exigências de qualificação profissional. 

Este novo cenário tem interposto um perfil profissional que requer, de forma geral, o uso pleno dos sistemas de comunicação, a interpretação de dados, a flexibilização das atividades, a integração com os diversos níveis ocupacionais, além da geração, interiorização e troca de conhecimentos. Também existe uma busca crescente por profissionais que estejam aptos a interpretar informações estruturadas e semiestruturadas, trabalhar com sistemas automatizados e ter uma postura mais ativa, participando amplamente dos processos produtivos devido ao seu perfil mais polivalente. De forma sintética, considera-se que o moderno trabalhador deverá, cada vez mais, ser capaz de utilizar suas habilidades profissionais de modo integrado às suas características pessoais e às vivências socioculturais. 

As alterações mais expressivas nas necessidades de novas competências podem gerar desequilíbrios estruturais entre oferta e demanda por mão de obra qualificada. Este desequilíbrio impacta a produtividade e a competitividade dos setores econômicos de países e regiões, uma vez que as empresas não encontram no mercado de trabalho a quantidade necessária de trabalhadores qualificados de que necessitam. 

Diante desses desequilíbrios, as políticas educacionais convencionais desenhadas para responder à demanda por novas ocupações e competências produzem resultados limitados. Isto ocorre devido ao longo período de tempo que transcorre entre a identificação da necessidade de demanda, a formação dos alunos e a alocação destes no mercado de trabalho. Além do longo período, durante este ciclo podem ocorrer mudanças importantes nos parâmetros iniciais de demanda, o que pode aprofundar ainda mais o desequilíbrio entre oferta e demanda.

No caso brasileiro, além da demanda por qualificações ser mais intensa, heterogênea e com complexidade diversa, as empresas passaram a exigir respostas mais rápidas. Deve-se a isto os casos de relocalização de plantas produtivas e de realização de novos investimentos, em regiões não tradicionalmente industriais e com uma população local detentora de menores níveis de escolaridade e de proficiência em português e matemática. Assim, por vezes, passa a ser necessário formar uma quantidade muito grande de trabalhadores, em um curto período de tempo, com um complexo perfil de qualificações, tendo como base um aluno que não possui competências básicas. 

Dentro desse contexto de mudanças em perfis profissionais, é fundamental que as Instituições de Formação Profissional, Universidades e organizações associadas ao mercado de trabalho possuam métodos prospectivos para acompanhar, de forma antecipativa, estas possíveis alterações.

Fundamentalmente tais métodos deverão identificar competências que confiram aos futuros profissionais maiores possibilidades de adaptar-se ao ritmo do progresso técnico e organizacional, incorporando aos perfis profissionais as novas atividades e habilidades e aos desenhos curriculares os conhecimentos necessários para uso de novas tecnologias e formas de organização do trabalho. 

 

*Marcello José Pio é  Doutor em Ciências e integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos Prospectivos Mackenzie - NEP-Mackenzie