2017 - Samira Abdelnur Chamma - Arquitetura e Urbanismo

Venho contar um pouco sobre o meu semestre de intercâmbio em Paris, na faculdade de arquitetura ENSAPVS.

 

Realizar esses seis meses de estudo em Paris está sendo uma experiência incrível, que vai muito além dos ganhos acadêmicos.

 

Para nós, estudantes de arquitetura, algumas das coisas mais importantes ao meu ver são referências e bagagem cultural. Para adquiri-las, não há melhor maneira do que conhecer de perto cidades diferentes da sua, com sua arquitetura, plano urbano e história diferentes, para enfim, aprender experimentando-as de fato. Estar em Paris é uma forma acessível de se fazer isso, pois a cidade fica estrategicamente localizada na Europa e dela saem ônibus, trens e aviões para várias cidades e países diferentes.

 

Além disso, o que a própria cidade oferece de aprendizado quanto à arte, cultura e arquitetura (essenciais para todos e principalmente para um futuro aquiteto) é algo fantástico. Há dezenas de museus, exposições e eventos culturais, boa parte gratuita para os estudantes e menores de 26 anos, o que torna muito fácil e acessível visitar vários dos maiores centros culturais e museus do mundo.

 

Cabe aqui colocar uma questão importante: São Paulo também é um pólo cultural forte e que possibilita muitos eventos do gênero, porém a carga horária de dedicação à faculdade é tão grande que normalmente nós estudantes não temos muito tempo para aproveitar o que a própria cidade em que vivemos nos oferece, no que tange à arte e cultura. Fazer intercâmbio em outra cidade foi também a chance de perceber como o sistema de ensino de arquitetura é, num geral (apesar de graus diferentes) falho. Como intercambista, escolhi matérias que proporcionam novos olhares sobre a cidade e que possibilitam e encorajam aproveitar o que Paris tem para oferecer nesses termos. Mas pude constatar que  o tarefismo, a frustração e a insatisfação dos estudantes é de fato algo generalizado nas instituições de ensino de arquitetura, embora haja ressalvas em alguns poucos aspectos.

 

Há algumas diferenças importantes: na França as faculdades de arquitetura são de certa maneira “unificadas”, o que deixa o ensino mais compatível entre faculdades; além disso, a partir do quarto ano (M1), os estudos passam a ser divididos em 5 domínios, cada qual com seu enfoque dentro da arquitetura, e o estudante deve escolher, dentro de um dos domínios, um projeto, um seminário e cursos opcionais. Dessa forma, o estudante pode de fato direcionar seus estudos a partir de um momento da faculdade, o que é de extrema importância no campo tão vasto da arquitetura e o que indica também um controle maior do aluno sobre sua própria formação, a única lógica possível para estudantes menos frustrados e mais motivados e profissionais mais capazes.

 

Outro ponto interessante é que na ENSAPVS pude escolher matérias e realizar trabalhos os quais minha instituição não oferece, como um curso ligado à arte contemporânea (no qual tive aulas ministradas em exposições) e outro à história da arte, (em que fizemos um trabalho em parceria com o Museu do Louvre), assuntos tão caros à formação em arquitetura e que mesmo assim, foram retirados de nossa grade curricular.

 

No aspecto pessoal, o intercâmbio possibilitou até agora muitas experiências interessantes, como conhecer novas pessoas, fazer amigos de culturas diferentes da minha, independência em vários aspectos, me relacionar através de uma nova língua e estudar assuntos diversos.

 

Depois de alguns meses em mobilidade, vejo o intercâmbio como etapa essencial na vida estudantil. É um momento de escolhas, crescimento pessoal, exercício de adaptação e pensamento crítico que repercutirá quando de volta ao meu país de origem, como estudante e como futura profissional.