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A hora do podcast no Brasil

Podcast Week recebe diferentes profissionais do mercado para comentar o formato que está em alta no país

08.10.201915h37 Comunicação - Marketing Mackenzie

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A hora do podcast no Brasil

Prepare o fone, conecte o celular e bora embarcar nessa viagem, pois neste dia 7 de outubro, o Centro de Comunicação e Letras (CCL) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) recebeu a primeira palestra da Podcast Week, com quatro convidados, realizada em parceria com a Faculdade Cásper Líbero (FCL) e a Universidade de São Paulo (USP). A semana trará diversos palestrantes e painéis que tratam de tudo sobre o tema, do início da mídia à sua popularização no Brasil, passando pelos canais mais escutados e como produzir conteúdo para o formato.

O painel de abertura do evento, que aconteceu no Auditório Escola Americana, do campus Higienópolis do Mackenzie, teve como tema “O Podcast no Brasil”. Os convidados Gabriela Viana, apresentadora do “Vozes: Histórias e Reflexões”, da Rádio CBN; Julian Catino, da Associação Brasileira de Podcasters (ABPod); Marcelo Serrano, do Itaú Views e Paula Scarpin, da Rádio Novelo falaram sobre suas trajetórias profissionais. A moderação ficou por conta da professora da Cásper, Filomena Salemme.

“Juntos conseguimos montar um evento que oferece palestras e oficinas gratuitamente às pessoas, o que também é papel da universidade: estar próximo da comunidade", comenta Márcia Detoni, professora do curso de Jornalismo do CCL e coordenadora do evento, durante a abertura da semana.

Trajetória do podcast 

Em 2004, foi ao ar o Digital Minds, primeiro Podcast brasileiro, criado por Danilo Medeiros. As pesquisas apresentadas por Julian durante a palestra mostram que os podcasts do Brasil abordavam tecnologia e humor. Já em 2009, houve um salto quantitativo no número de produtos. Mesmo assim, “a grande maioria dos ouvintes eram homens e de classe média”, explica. 

Em 2014, o gênero de podcasts produzidos passou para além do humor e da tecnologia, TV e séries também entraram para a lista. Mesmo com algumas mudanças, a questão de classe ainda era um fator. "Para você consumir podcast você tem que ter acesso à banda larga e ter um tempo livre. São coisas simples, mas que fazem sentido quando pensamos em quem consome o produto", completa. 

Segundo uma pesquisa realizada pela ABPod, em parceria com a rádio CBN, em 2018, a maneira como os brasileiros consomem o podcast sempre está atrelado a outra atividade: 79% dos brasileiros o fazem durante trajetos de locomoção e 68% enquanto realizam tarefas domésticas. Ainda segundo a pesquisa, 84% dos ouvintes de podcasts são homens e 87% dos ouvintes têm de 18 e 39 anos. Em torno de 92% consomem podcast pelo celular e 51% ouvem podcasts todos os dias. Atualmente, o formato de maior interesse dos ouvintes é o de debate, com 74,5%. 

Diferentes tipos de produção

Várias tendências podem ser observadas para a produção dos podcasts como as mulheres podcasters, política, representatividade e diversidade. “Podcasts assim têm conseguido mostrar que existem outras temáticas que precisam ser ditas, que antes não tinham oportunidades”, completou. Para Julian, “podcasts são mídias em formatos de áudio de uma forma que pareça uma temporada de um assunto, onde você tem a possibilidade de discorrer sobre ele”. 

Paula, que trabalhou por 12 anos na Revista Piauí, contou que sempre foi apaixonada por rádio e por isso escolheu cursar jornalismo. Durante sua carreira, tentou acrescentar o rádio em seus trabalhos. “No final de 2017, a Piauí falou para eu fazer um projeto, com cronograma e orçamento do que o seria ideal para criar um podcast. Conseguimos tirar algumas coisas do papel. O projeto tinha tamanho, duração específica, mesmo horário, mesmos dias para fidelizar audiência”, contou.

Agora, a jornalista tem a Piauí como cliente. Paula é diretora criativa da Rádio Novelo, produtora responsável pela produção do podcast semanal de política da revista: Foro de Teresina, um dos carros-chefes da revista. “Fazemos toda a produção para eles. Também temos outros clientes, alguns até de produção independente”, conta. 

Já Gabriela entrou na comunicação pensando em trabalhar na TV, mas acabou se encontrando no rádio. Agora, ela é apresentadora do Vozes: Histórias e Reflexões. “Esse podcast surgiu no período das eleições. Era um período difícil, em que não era possível discutir ideais. E foi quando decidi falar de uma maneira mais empática”, assinala. 

Além disso, também foi criado o Vozes em Debate, uma discussão quinzenal sobre o tema apresentado no último episódio do podcast, com opiniões dos ouvintes e especialistas. “Fazemos uma imersão completa do tema, tem sido muito legal, não esperávamos que as pessoas fossem receber tão bem”. 

Marcelo Serrano, que trabalha em comunicação corporativa há muito tempo, falou sobre a evolução do podcast como mídia e a abertura de um novo mercado. “Nós ouvimos muito o lado dos apresentadores e do jornalismo, mas pensando no mercado de comunicação, acaba tendo uma ampliação, uma evolução. Existem agências que fazem toda a parte de edição, captação, planejamento”, explica.

Além da utilização da mídia em empresas, a professora da UPM comenta que os podcasts também são utilizados em universidades dos EUA e da Europa, como formato de conteúdo. "Nossos alunos do Mackenzie produzem podcasts na sala de aula e eu creio que este é o caminho”, comentou. 

A relação do rádio e do podcast

Segundo Gabriela, o rádio volta a respirar aliviado com o surgimento dos podcasts e viu nascer um novo mercado, além da programação tradicional, e é nesse novo espaçoque tem a possibilidade de se reinventar, com um público mais jovem. “O vozes, por exemplo, tem um público de 18 a 30 anos, totalmente diferente da audiência majoritária da rádio”, contou.

Questionados se existe uma diferença entre o programa de rádio tradicional e o podcast, o assunto divergiu opiniões. Para Paula, não existe diferença. “Assim como o rádio, o podcast não é um gênero, é um canal. A diferença é a forma como você consome”. 

Já para Filomena, existe uma pequena diferença. “A rádio comercial não consegue ter um público tão longo. O tempo do podcast pode ser de um minuto até uma hora, por exemplo. E o rádio, por uma questão comercial, não consegue colocar um podcast de uma hora no ar, sem interrupção. Acredito que o tempo ainda é um divisor”, complementou. 

Para Gabriela, a diferença entre as duas mídias pode ser notada quando observa-se os recém formados, no instante que saem da faculdade e entram no mercado. “Quando estudamos rádio na faculdade, existe uma linguagem mais dura, o jeito de falar, como impostar a voz. O podcast não é assim, ele tem uma linguagem muito mais gostosa de falar, você pode usar gírias, tem um jeito diferente. A maior dica que eu dou para quem está querendo começar um podcast é isso: seja você o jeito de falar, e as pessoas vão se identificar”, comentou. 

Paula comentou que mais do que pensar na diferença do podcast para a rádio, deve-se tentar criar coisas novas e parar de criar regra para a execução. “Pensando em toda a liberdade que temos com o podcast, liberdade de tempo, de duração, de assunto, aproveitar isso da melhor maneira possível. É um canal, você pode inventar todos os gêneros que você quiser, pode fazer cinema em rádio, documentário em rádio”, finalizou.

Confira aqui a programação da Podcast Week, que acontece até dia 11 de outubro.