Quando um político pode determinar quão essencial é o sustento de alguém, todos ficam vulneráveis.

22.06.2020

Matheus Campos A. Cosso B. Resende


Há alguns meses atrás era difícil de imaginar um mundo onde ir ao trabalho, administrar um restaurante ou se envolver em negócios com indivíduos seria punível por lei. Mais improvável ainda era pensar que qualquer representante eleito poderia dizer aos seus eleitores, em termos inequívocos, que seus negócios não são “essenciais” o suficiente para continuarem funcionando.

Uma crise realmente pode virar o mundo de cabeça para baixo.

No nosso caso, a crise a que me refiro é a crise desencadeada pela pandemia do COVID-19. Embora as soluções governamentais para “achatar a curva” variem, muitas envolvem a ordem de shelter-in-place (abrigo no local). Essas medidas geram implicações negativas para empresários e seus funcionários, sem mencionar as impliações nefastas para as economias nacionais e globais.

Essencial x Não Essencial

Nos Estados Unidos, governos estaduais e municipais estão respondendo à ameaça do coronavírus com “fique em casa” através de lockdowns e efetivamente fechando negócios considerados “não essenciais”. Para todos os efeitos, negócios ou empresas essenciais são aquelas que recebem o benefício de continuar as atividades normalmente, apesar da pandemia, mas embora a definição exata varie de estado para estado e cidade para cidade, geralmente inclui supermercados, serviços de emergência e profissionais médicos, no mínimo.

Muitos estabelecimentos, como lojas de roupas, bares, academias, salões e restaurantes, são rebaixados para “não essenciais” e forçados a fechar suas portas indefinidamente. Em Los Angeles, o prefeito Eric Garcetti chegou ao ponto de depreciar os empresários "egoístas" que permanecem abertos (apesar de ordens contrárias), e ameaçava não apenas acusá-los criminalmente, mas também desligar a energia e a água de seus estabelecimentos.

“ - Se você não desligar, nós o desligaremos”, disse o prefeito Eric Garcetti aos empresários.

Implicações Econômicas

Os Estados Unidos já estão vendo os efeitos dos governos estaduais e locais suprimindo milhões de transações econômicas voluntárias, praticamente da noite para o dia, e sem garantia de quando a economia poderá abrir novamente. Pedidos de seguro desemprego quebraram recordes, uma vez que milhões estão fora de seus trabalhos. Alguns economistas antecipam que ainda há muito por vir.

 

 

 

Esse número aumentará enquanto a atividade econômica legal for ilegal; o Federal Reserve de St. Louis estima que possa crescer até 32% da força de trabalho - um número impressionante de 47 milhões de pessoas. Além disso, analistas do JP Morgan estimam que o PIB dos Estados Unidos cairá cerca de 30% neste trimestre, enquanto o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, se aproxima de impressionantes 50% - ambas estimativas de quedas maciças que são resultados diretos ou indiretos da intervenção econômica do governo.

Quem Decide?

Quando um representante do governo pode determinar quão essencial é o sustento de alguém, todos ficam vulneráveis aos caprichos dos políticos e sua falta de entendimento econômico. Em circunstâncias normais, as empresas podem fechar devido à má administração ou falhar devido a um produto de baixa qualidade. A beleza do livre-comércio é que centenas, milhares e até milhões de consumidores podem decidir se vale a pena comprar um produto ou se vale a pena apoiar uma empresa.

As paralisações da economia não são um reflexo da concorrência leal ou de condições equitativas, e as decisões de alguns funcionários do governo sobre a importância de algumas empresas ou setores sobre outras são arbitrárias na melhor das hipóteses. Os supermercados estão cheios como sempre, e talvez ainda mais lotados, já que muitos operam em horários reduzidos.

Afinal, por que é aceitável que os clientes se amontoem dentro de um Walmart e não de um HomeGoods? Certamente, os meios de subsistência de cada funcionário do varejo são igualmente valiosos. Os supermercados são inerentemente mais capazes de adotar padrões mais altos de saneamento do que os salões de beleza ou restaurantes? É concebível que qualquer empresa prefira se adaptar às circunstâncias da pandemia, em vez de encerrar completamente.

No entanto, como o economista F.A. Hayek explicou;

“A curiosa tarefa da economia é demonstrar aos homens quão pouco eles realmente sabem sobre o que imaginam poder projetar.”

As respostas ao coronavírus provaram seu argumento. Repetidas vezes, as autoridades ignoraram a realidade financeira de milhões de pessoas que vivem de salário em salário e ignoraram a complexidade inerente à economia. Todo setor está inter-relacionado - não podemos dizimar as cadeias de suprimentos e esperar que mesmo os negócios "essenciais" não sofram.

O Sustento de Todos É Essencial

Se você trabalha na área da saúde ou no varejo, é dono de uma pequena empresa ou trabalha para uma grande corporação, deveria ser irrelevante. Negar às pessoas a capacidade de trabalhar, obter renda e cuidar de si mesmas é privá-las dos direitos humanos básicos. Se isso é verdade, deve ser sempre assim - mesmo durante uma pandemia.

Aqui está o que os políticos não entendem: a economia não é um interruptor de luzes que pode ser desligado rapidamente e ligado novamente sem consequências. A liberdade econômica não é apenas parte integrante do sonho americano, é um pré-requisito para a prosperidade.

O mais importante agora? O sustento de todos é essencial para eles.

A atividade econômica é, em sua essência, uma atividade humana. Desconsiderar alguns como não essenciais é um erro com consequências severas.

 

Escrito por: Amanda Snell

Amanda Snell é Associada Sênior de Análise na FEE. Ela cresceu na cidade pequena de Idaho e se formou recentemente na BYU-Idaho em Economia. Antes de ingressar na FEE, ela completou o Programa de Estágios Charles Koch e fez estágio no Índice de Liberdade Econômica de 2019 da The Heritage Foundation. Ela gosta de trabalhar com empreendedores e é apaixonada pelo potencial de inovação no setor privado.

 

Tradução e organização: Matheus Campos A. Cosso B. Resende

Estudante de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie

Bolsista no Centro Mackenzie de Liberdade Econômica

Fonte: https://fee.org/articles/the-essentialness-of-non-essential-businesses/

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