A igreja antiga e seus vizinhos pagãos - Momentos de fé #3

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16.08.202117h00 Comunicação - Marketing Mackenzie

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A igreja antiga e seus vizinhos pagãos - Momentos de fé #3

Diferente é melhor

O mundo greco-romano prestou relativamente pouca atenção aos cristãos durante os primeiros setenta, ou mais, anos de existência do Cristianismo. Houve perseguições aqui e ali, mas, na maioria das vezes, não. Foi em meados do Século II que os seus vizinhos pagãos começaram a concentrar sua atenção em como os cristãos eram diferentes.
Uma grande diferença, como assinala Michael Kruger, era que "os cristãos não prestariam homenagem aos outros deuses" do mundo romano. Visto que homenagear esses "deuses" era um dever cívico e também religioso, essa recusa fez com que os cristãos fossem vistos com suspeita. Incrivelmente, alguns pagãos até acusaram os cristãos de ateísmo! 
Como Kruger observa, havia outra área em que os cristãos se destacavam, o “dedo na ferida” como diz o proverbio: "Embora não fosse incomum que os cidadãos romanos tivessem vários parceiros sexuais, encontros homossexuais e envolvimento com prostitutas de templo, os cristãos se destacavam precisamente porque se recusavam a se envolver nessas práticas."
Assim, Tertuliano, o apologista do século II que foi chamado de "Pai da Teologia Ocidental", escreveu que os cristãos "não hesitam em compartilhar nossos bens terrenos uns com os outros. Todas as coisas são comuns entre nós, exceto nossas esposas" . O autor da "Epístola a Diogneto" do mesmo século escreveu que os cristãos falam e se vestem como seus vizinhos, e acrescentou "[os cristãos] compartilham suas refeições, mas não seus parceiros sexuais" . Obviamente, os cristãos consideravam a ética sexual uma marca do que significava ser o que Pedro chamou de "um povo peculiar".
Mas isso ainda nos deixa com a pergunta: por quê? Eram eles e o Deus que eles adoravam "desmancha-prazeres"? Um Deus que se opunham ao prazer? É assim que eles e nós somos frequentemente retratados, isto é, quando eles (e nós) não estavam sendo acusados de tentar subjugar e oprimir mulheres.
Para entender o porquê de tudo isso, podemos apanhar emprestada uma frase do filósofo Jeremy Bentham: "bobagem sobre palafitas". É preciso entender o mundo em que o Cristianismo nasceu e quão revolucionária a mensagem cristã sobre sexo realmente foi.
Esse é um dos temas de "Paul Between The People", da classicista Sarah Ruden. O "Paulo" a que se refere era, naturalmente, o apóstolo Paulo, a quem muitos modernos consideram, na melhor das hipóteses "rabugento", quando se tratava de mulheres e sexo. Como diz Ruden: "Paulo não foi uma feminista do século 20 (...), mas as mulheres modernas são as beneficiárias de uma longa lista de reformas, E Paulo, eu acho, deu o pontapé inicial."  

Para entender por que esse é o caso, é útil lembrar que grande parte da atividade sexual a que Michael Kruger se refere estava longe de ser consensual. Era pouco mais do que "violência institucionalizada", que incluía "estupro de escravos, prostituição e violência contra esposas e filhos".
A denúncia de Paulo dos costumes sexuais de seu tempo era parte de sua mensagem mais ampla "de que todas as pessoas são filhos sagrados de Deus" e uma expressão de indignação com a forma como estavam sendo tratadas.
Em outras palavras, foi uma mensagem de verdadeira liberdade.
Assim, quando os cristãos se recusaram a compartilhar suas esposas, foi um presente para suas esposas, que, na sociedade pagã, não tinham voz no assunto. Quando eles homenagearam mulheres que prometiam virgindade perpétua, eles estavam libertando as jovens de serem tratadas como bens por seus pais, consolidando alianças com outras famílias.
Os cristãos não eram anti-sexo, eram pró-dignidade humana. Tanto é verdade que sua moralidade sexual e visão para o casamento moldaram e transformaram a cultura ao seu redor. Não o contrário.
E isso é algo que os cristãos modernos fariam muito bem em lembrar.

Capelão Rev. Jouberto Heringer, MSc.